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Brasília

Feminicídio: o inimigo mora em casa

Ao JBr., secretário de Segurança, Anderson Torres, que está cotado para a direção da PF, explica os desafios do combate à violência contra a mulher

Lindauro Gomes

17/09/2019 6h52

Um crime que tem origem dentro da casa da vítima

Secretário de Segurança diz que crimes contra mulheres são difíceis de prevenir e desafiam o aparato policial

Catarina Lima e Olavo David Neto
[email protected]

Os incisos X e XI do artigo 5º da Constituição Federal asseguram a intimidade e a vida privada das pessoas e a inviolabilidade do domicílio. A Constituição Cidadã de 1988 buscou, de forma correta, dar segurança aos brasileiros em seus lares. Infelizmente, essa proteção é usada de forma criminosa por muitos homens, que se servem da inviolabilidade do lar para bater, estuprar e humilhar suas mulheres. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, 84% das agressões acontecem nas residências das pessoas.

Os crimes contra as mulheres são de difícil prevenção, pois a grande maioria acontece dentro de casa; no entanto, são de fácil elucidação”, disse o secretário de Segurança, Anderson Torres, cotado para assumir a direção da Polícia Federal.

Embora conhecendo as peculiaridades dos crimes de violência contra as mulheres — que desafiam o aparato policial —, o Governo do Distrito Federal vai recrudescer a segurança nessa área. No próximo ano será aberta uma Delegacia da Mulher na Ceilândia e, atendendo a uma antiga reivindicação, as demais unidades terão núcleos especializados no atendimento a mulher, com funcionamento 24 horas.

“Estamos tentando ampliar a rede de proteção da mulher. Além da nova delegacia e dos núcleos de atendimento em todas as outras delegacias, também estamos tentando reformar a Casa da Mulher Brasileira” disse o secretário.

“Na maioria dos casos de feminicídio, quando a polícia vai tomar os depoimentos das testemunhas é comum as pessoas próximas da vítima, como parentes, amigos e vizinhos, dizerem que já sabiam do histórico de agressões. Por isso pedimos o apoio da sociedade denunciando os casos de tenha conhecimento”, apelou o secretário de Segurança.

Para Torres existe por trás da violência uma forte questão cultural, uma situação em que o homem sente-se dono da mulher.

“É uma cultura que vem de muito tempo, não é fácil mudar”, observou Torres.

Apesar da comoção e do medo causados pelos últimos casos no Distrito Federal, porém, Anderson Torres afirmou que tanto os homicídios de mulheres que não tenham por causa o feminicídio, como as mortes por feminicídio estão caindo no Distrito Federal.

Dados da Secretaria acusam que, em 2018, morreram 19 mulheres por homicídio e 28 por feminicídio. Em 2019, foram 23 homicídios e 19 feminicídios.

Torres chama atenção para o fato de não haver tipificação do crime de feminicídio até 2014. Segundo ele, naquele ano 49 mulheres foram assassinadas e cerca de 50% podem ter sido feminicídios.

Escalada de violência

Conforme a Procuradora da Mulher no Distrito Federal, a deputada distrital Julia Lucy (Novo), os números de agressão doméstica comprovam um método progressivo da violência contra a mulher até o feminicídio.
Raramente o agressor vai matar de primeira. Começa com xingamentos, privações econômicas, e só depois vira agressão; é uma escalada de violência” comenta a parlamentar.

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