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Brasília

Fechamentos em Ceilândia e Estrutural: população tem medo mas quer trabalhar

Moradores de Ceilândia e da Estrutural afetados pelo decreto do governador Ibaneis opinaram sobre a decisão do GDF que começa a valer hoje

Pedro Marra

08/06/2020 6h25

Começa a valer nesta segunda (8) o decreto do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, assinado no último sábado (6), a fim de restringir várias atividades nas Regiões Administrativas de Ceilândia, Sol Nascente/Pôr do Sol e Estrutural. A reportagem conversou hoje à tarde com comerciantes sobre a decisão do GDF em paralisar as atividades neste momento.

Segundo o documento, a contar de 00h01min desta segunda-feira, ficam suspensos, por 72h, 10 setores da região. Entre eles, estão: estabelecimentos comerciais, de qualquer natureza, inclusive bares, restaurantes, lojas de conveniências e afins; cultos e missas de qualquer credo ou religião; salões de beleza e centros estéticos; parques ecológicos, recreativos, urbanos e vivenciais, por exemplo.

O último boletim da Secretaria de Saúde (SES-DF) mostra que a região de Ceilândia, Sol Nascente/Pôr do Sol e Estrutural chegou a 41 mortes e 1798 casos confirmados do novo coronavírus, sendo 18 novos diagnósticos. Mas há moradores conscientes da decisão, embora não concordem. É o caso de Marcos Antonio, 48 anos, que é gerente de uma loja de sapatos no Centro de Ceilândia. Para ele, o fechamento é necessário, mas poderia ter ocorrido no início da pandemia no Distrito Federal.

“No momento eu temo o contágio sim, porque muitas pessoas não estão dando crédito a essa pandemia. Entendo que é um alerta porque se não vai continuar fechado. No primeiro momento, chama a atenção, porque aqui a gente vê muitas pessoas que não estão levando isso aí [a pandemia] a sério. Eu venho trabalhar pela necessidade, mas tenho medo de pegar o vírus. Mesmo usando álcool em gel, máscara, mantendo a distância, fazendo o nosso papel, a gente fica receoso”, analisa.

O gerente conta que tem limpado o piso pela manhã com água sanitária e higienizado os sapatos como uma das formas de prevenir os funcionários do novo coronavírus. “Na hora de passarmos cartão dos clientes, passamos álcool na máquina para poder atender o próximo cliente. Creio que isso vai chamar muita atenção, porque ou muda ou fecha. Se a gente tivesse feito esse trabalho de conscientização, talvez o período fechado não seria esse todo. O tempo que já se passou, fica mais difícil de se controlar”, complementa Marcos.

“Não vale mais a pena agora”

Por outro lado, o vendedor ambulante Elton Pereira, 33 anos, acredita que fechar boa parte das atividades na região já é tarde. “Não vale mais a pena agora. Em três dias vai se tornar um caos maior ainda. Meu auxílio emergencial do Governo não saiu, por exemplo. Então se eu for esperar meu auxílio, vou ficar morrendo de fome em casa. Logo eu que tenho um filho para criar, aluguel e conta ao fornecedor para pagar. As contas não esperam. E está chegando o dia dos namorados, aí o governador invés de facilitar para nós, está piorando o comércio. É igual aquele ditado, o rico continua mais rico, e o pobre cada vez mais pobre”, opina o vendedor, que é morador do Sol Nascente.

Elton conta como tem se prevenido para trabalhar nesse período. “A gente trabalha com medo. Sabemos o que acontece, mas vamos nos prevenindo com uso de máscara, álcool em gel, conversando afastado dos clientes. Eu mesmo deixo as roupas em um saco, borrifo álcool com frequência nos produtos”, conclui.

Lojista pede igualdade no fechamento

Na Estrutural, a dona de uma loja de uma sorveteria, Lucilene Ferreira, 50 anos, critica a atitude da própria população da região no combate à doença. “Não sei por quanto tempo eu vou aguentar a loja fechada. Também vendo por aplicativo, mas não entregam aqui na Estrutural. E aqui as pessoas não saem para comprar, e sim para se divertir, ir a uma sorveteria, padaria, causar aglomeração, porque não têm outra diversão. Tem uma semana que não recebo um pedido pelo aplicativo. Se eu dependesse disso para sobreviver, ficaria muito difícil manter minha sorveteria”, comenta.

Com cinco funcionários no estabelecimento, a lojista entende que deveria haver um fechamento mais igualitário no DF, já que o Plano Piloto, por exemplo, também está com os números altos: 1330 casos confirmados e 11 mortes.

“Por que não passa cinco dias com o DF fechado? Fecha tudo. Mas não fica dois ou três fechado, e o resto da população aberto, porque não vai tirar ninguém da rua. Do jeito que o mercado funciona, e ninguém está morrendo lá por isso, eu também tenho que funcionar. Porque eu vou morrer de coronavírus ou vou morrer de fome”, critica.

Vale destacar outras atividades também proibidas de funcionar, como: eventos, de qualquer natureza, que exijam licença do Poder Público; atividades coletivas de cinema e teatro; academias de esporte de todas as modalidades; museus; boates e casas noturnas; atendimento ao público em shoppings centers, feiras populares e clubes recreativos. Vale dizer que nos shoppings centers fica autorizado apenas o funcionamento de laboratórios, clínicas de saúde, farmácias e delivery.

Ao final, o decreto impõe que as medidas adotadas “podem ser prorrogadas, em caso de não observância das determinações nele contidas”. É importante lembra também que, com o aumento dos casos de coronavírus registrados na maior região administrativa do DF, o gabinete da Secretaria de Saúde foi transferido para Ceilândia.

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