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Brasília

Família sem filhos se torna opção cada vez mais comum

Arquivo Geral

12/04/2015 6h00

O número de famílias sem filhos aumentou 33% em dez anos no Brasil. No Centro-Oeste, o percentual foi de 15,2% em 2004, e saltou para 20,8% em 2013. Segundo pesquisa feita pelo Instituto de Vendas e Trade Marketing (Invent), o fator econômico é determinante. 

De acordo com o estudo, criar um filho custa entre R$ 2 milhões (classe A) e R$ 407 mil (classe C), desde o primeiro choro fora da barriga da mãe até os 23 anos. Outra questão também altera a configuração familiar tradicional: a escolha. Se antes as mulheres eram praticamente obrigadas a procriar para perpetuar o nome da família, os avanços da sociedade contemporânea mudaram esse cenário. 

Além do aumento do número de famílias sem filhos, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2013), do IBGE, mostrou uma redução de 13,7% na proporção nacional de casais com filhos. No Centro-Oeste, o percentual de famílias que optaram por ter crianças passou de 50% em 2004 para 42,8% em 2013. A queda foi uma das mais expressivas do País e está abaixo da média nacional, de 43,9%. 

Taxas de fecundidade

De acordo com levantamentos da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a transição da fecundidade no Brasil teve início em meados da década de 1960. Nessa época, as taxas de fecundidade giravam em torno de seis filhos por mulher, chegando em 2000 à média de 2,2  e, em 2010, a 1,74, conforme dados do Censo/IBGE.

Segundo a Codeplan, o volume de nascidos vivos, filhos de mães entre 15 e 49 anos no DF foi de 47,6 mil em 2000. Dez anos depois, foi para 44,04 mil. Isso significa uma redução de 3,5 mil partos, ou -7,5%. Ainda de acordo com o órgão, a participação dos nascimentos entre mães de 15 a 24 anos, que no início da década era de 51%, caiu para 36,9% em 2010 – uma redução de 27,7% no período. 

Nas demais faixas etárias, no entanto, a proporção de nascidos vivos aumentou. O destaque vai para os nascimentos no grupo de mães entre 40 e 44 anos de idade, que dobraram no período analisado. Além disso, o volume de nascidos de mães acima dos 40 anos aumentou mais de 90% entre 2000 e 2010.

Mais estudo significa prole menor

Segundo informações reunidas na Síntese de Indicadores Sociais (Sis-Pnad), mulheres com até sete anos de estudo tinham, em média, 3,19 filhos no ano de  2009. Isso é quase o dobro daquelas com oito anos ou mais (1,68).  

Ainda assim, entre os anos de 2000 e 2010, o número de filhos entre mulheres com até sete anos de estudo também sofreu uma redução brusca, de 44,4%. 

Ainda de acordo com o levantamento, além de terem menos filhos, as mulheres com mais instrução eram mães mais tarde – com média de 27,8 anos -, frente a 25,2 anos para as mulheres com até sete anos de estudo. Elas também evitavam a gravidez na adolescência. 

15 a 19 anos

Já entre as mulheres com menos de sete anos de escolaridade, o grupo   entre 15 e 19 anos de idade concentrava 20,3% das mães, apontou também a Síntese de Indicadores Sociais. 

Tempos modernos

Para Sheila Rigler, proprietária da Par Ideal Consultoria, Psicologia Educacional e Coaching em Relacionamentos, fatores como horário de trabalho estendido, dificuldade para contratar mão de obra especializada para ficar com as crianças e o custo elevado para criar um filho influenciam na decisão das famílias de não tê-los.

“Antigamente os pais deixavam os filhos com os avós para ir trabalhar, mas hoje os avós também trabalham. Além disso, a dificuldade para se contratar uma empregada ou babá de confiança também aumentou”, comenta a especialista. 

Rigler conta que cerca de 10% das mulheres que ela atende declaram não querer ter filhos por estarem mais preocupadas com a carreira. “Muitas vezes elas focam no desenvolvimento profissional e, quando se dão conta, passaram da idade ideal para ser mães. Estão beirando os 40 ou tão envolvidas com a carreira que fica complicado mudar os planos”, diz. 

Mas nem sempre a profissão e a projeção dos gastos com um filho são os únicos impeditivos. “Cerca de 15% das mulheres dizem que para elas ter filhos é indiferente, que depende da vontade do homem e de eles chegarem a um consenso”, conta. 

Fato é que, segundo a psicóloga, ter filhos deixou de ser uma “obrigatoriedade”. “As pessoas estão pensando mais sobre essa possibilidade. Já é normal ver maridos cuidando das crianças enquanto as esposas viajam a trabalho, por exemplo. Tem ocorrido uma  mudança de estigmas”, explica Rigler. 

Questões financeiras

Economistas enfatizam, por sua vez, que a opção de não ter filhos ou de reduzir a prole está intimamente ligada a questões financeiras. De acordo com um Estudo do Centro de Estudos de Finanças Pessoais e Negócios (Cefipe), uma família de classe média, com renda mensal de R$ 5 mil, gasta cerca de R$ 750 por mês na criação de um filho.  

Segundo o economista e coordenador da Cefipe, Marcos Silvestre, a decisão sobre ter filhos fica ainda mais séria quando o casal pensa em ter mais de uma criança. “Para criar um casal de filhos, do nascimento até a formatura universitária, as famílias gastam nada menos que R$ 1 milhão”,  afirma.

Consenso ou separação

A servidora pública Marília Perdigão, de 29 anos, e seu marido, o também servidor público Heitor Campos, de 25, são um exemplo de casal que não quer ter filhos. 

“Sou de família nordestina, tradicional. Minha mãe ainda acredita que vai conseguir me convencer a mudar de ideia, mas estou convicta: não quero ter filhos”, assegura ela. Marília acrescenta que tem um lado feminista, gosta de liberdade e de investir nela mesma.

O marido conta que, apesar de nunca ter desejado filhos, não falava sobre isso com outras namoradas. “O que é vendido é que você nasce, cresce e precisa reproduzir. Todas as namoradas que eu tive queriam filhos, até que encontrei uma pessoa que pensa como eu”, comemora. 

“NÃO NASCI PARA SER MÃE”

Carla Yamamoto, secretária, 32 anos, é categórica ao afirmar: “Não nasci para ser mãe”. Ela chegou a se divorciar, há cerca de um ano e meio, por esse motivo. “Esse era o sonho do meu ex-marido. Mas como em 12 anos de casados não entramos em consenso, optamos pela separação”, conta.

Ela diz que entende o desejo dele, mas que ela tem o direito de não querer a maternidade. “Percebo que as pessoas acham estranho quando eu digo isso, me acham insensível, perguntam se eu não gosto de crianças, mas não é nada disso. Eu só escolhi viver para mim”, alega.

Carla confessa que, ao contrário de outras meninas, nunca teve o sonho de ser mãe. “Nem de casinha eu gostava de brincar. Porém, em pleno século 21, ter filhos continua sendo quase uma obrigação. Só que eu não guio minha vida baseada em convenções sociais”, garante. Ela se defende dizendo que “nunca iludiu o marido”. “Ele é que acreditava que poderia me fazer mudar de ideia”, finaliza.

Ter filhos só depois de dez anos juntos

O empresário Oswaldo Marinho, 30 anos, se casou em 2007, quando tinha   22 anos de idade. Sua esposa, a massoterapeuta Jemima Marinho, hoje com 34 anos,   tinha   26. Em função da pouca idade, da necessidade de firmar raízes em um lugar e de conquistar a tão sonhada estabilidade financeira, os dois fizeram um pacto: não ter filhos durante os primeiros dez anos de casamento. 

“Não nos arrependemos dessa escolha. Temíamos que um filho interferisse nas nossas finanças. Somos microempresários e os negócios exigem acompanhamento constante. Além disso, uma criança modifica a vida a dois”, analisa Oswaldo. 

Instabilidade profissional

Jemima concorda que a instabilidade profissional teve peso na escolha. “Na época tínhamos planos de mudar de país, mas desistimos. Na sequência, decidimos mudar de cidade. Viemos de Salvador para Brasília porque o Oswaldo tem família aqui. Lá eu estava estabilizada e aqui teria que recomeçar a minha carreira. Definitivamente, não era o melhor momento para pensar em aumentar a família”, analisa.

Mas ela não descarta, por completo, a possibilidade de ser mãe. “Tenho esse sonho. Acontece que após tantos anos sozinhos nos acostumamos com a liberdade de fazer o que e quando queremos. Penso que se tiver que abrir mão disso, melhor não ter filhos”, completa ela.

Os anos passam

O avanço da idade, no entanto, começa a preocupá-la. “Estou vivendo um momento de pressão interna para resolver isso. Tenho, no máximo, mais cinco anos para tomar essa importante decisão. Vamos ver no que vai dar”, conclui. 

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