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Brasília

Família e amigos velam corpo de policial morto em tentativa de assalto

Tido como “gente boa e bom profissional”, Walisson Holanda Fernandes, 28 anos, foi morto na garagem de casa. “Quero justiça”, disse o pai

Vítor Mendonça

18/11/2020 10h37

O policial militar Walisson Holanda Fernandes, 28 anos, morto na garagem de casa após reagir a uma tentativa de assalto na última segunda-feira (16), em Ceilândia, foi velado pela família e amigos na manhã desta quarta-feira (18), no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga. A cerimônia contou com cerca de 800 pessoas.

“Tudo muito triste”, relatou o pai de Walisson, Manoel Fernandes, ao Jornal de Brasília. “Quero justiça”, continuou. Na casa onde o crime ocorreu, familiares e amigos lamentavam a perda de Walisson e se apoiavam. Por desgaste emocional, a família preferiu não continuar com a entrevista. Policiais Militares também prestaram condolências aos entes da vítima. O carro ainda estava no local, e marcas dos disparos ainda são visíveis.

O soldado Charles Santos trabalhou com Walisson em algumas ocasiões durante os dois anos que trabalharam juntos no 6° batalhão da Polícia Militar (Asa Norte). “Era gente boa, tranquilo e bom profissional. Sempre cumpria com as obrigações dentro da unidade. Não tenho nada a falar contra ele, apenas coisas boas, era um bom policial e todos gostavam dele. Todos estão abalados com o que aconteceu”, afirmou.

O Tenente Coronel Costa Reis, comandante da região do Paranoá, onde Walisson trabalhava, afirmou que o policial “nunca deixou a desejar”. “Sempre trabalhou com afinco o que foi passado pelos oficiais. A corporação e a sociedade sentem muito. É um fato raro [PMs morrerem violentamente], mas não esmorece nosso serviço. Nos fortalece para trabalhar com mais afinco para eliminar a criminalidade”, disse.

Amiga, a cobradora de ônibus, Morgana Feitosa, 24, o conheceu há dois anos pelo Instagram e ainda sofre pela morte do amigo. Os dois começaram a conversar pessoalmente quando passaram a se ver na rodoviária. “O Walisson era incrível. No que precisávamos, ele estava pronto para ajudar. Nem eu sabia que se tornaria uma amizade tão grande para mim”, contou. “Uma vez precisei de fazer uma ‘chupeta’ para a bateria no carro e nenhum dos meus familiares podia me ajudar. Quando liguei pra ele, nem perguntou onde eu estava e já disse que estava indo, depois é que pediu a localização”, continuou.

“Meu mundo desabou quando fiquei sabendo. Tinha falado com ele 40 minutos antes. Quando me falaram, não consegui acreditar e fiquei ligando pra ele. Quando não atendeu, caiu minha ficha e desabei e chorei; ainda está doendo bastante. É um sentimento de raiva [do ocorrido e da criminalidade]”, disse. “Ele era sensacional, muito próximo, muito parceiro. E se está difícil pra mim, imagina para os familiares. Desejo que Deus console a todos nós.”

Dinâmica

De acordo com as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) o crime aconteceu por volta das 19h30, quando Walisson estava na garagem de casa com dois amigos, uma mulher e um homem. Enquanto conversavam, uma mulher que dirigia um Volkswagen Fox de cor branca passou em frente a casa de forma lenta e, em seguida, dois homens também seguiram a rota do carro, como se tivessem acabado de sair do veículo.

“Foi nessa hora que Walisson alertou aos amigos que deveriam ficar em alerta. Logo em seguida, os dois anunciaram o assalto e começou o tiroteio. Um dos tiros atingiu um dos criminosos no pé e outro acertou o peito do policial, que morreu praticamente na hora”, detalhou o delegado-chefe da 19a Delegacia de Polícia (Setor P Norte – Ceilândia), Gustavo Augusto Araújo. Após a confusão, os assaltantes correram.

Apesar da fuga, os três criminosos que premeditaram o crime de assalto foram localizados pela Polícia Militar do Goiás na cidade de Águas Lindas do Goiás, no Entorno do DF. Eles foram trazidos para a delegacia de Ceilândia, mas não se pronunciaram quanto ao ocorrido. “Eles vão responder porque todas as testemunhas os reconheceram. Agora eles vão participar de uma audiência de custódia para decidir se vão responder em liberdade ou não”, explicou Gustavo.

O crime foi classificado como latrocínio consumado – classificação independente do sucesso no roubo ou não – e os envolvidos podem pegar pena de 20 a 30 anos. “Agora vamos investigar outros delitos que possam ter cometido”, continuou o investigador. De acordo com o delegado-chefe, todos os participantes do crime já possuíam passagem na polícia por outros delitos. Os dois homens têm 18 e 22 anos de idade, e a mulher que dirigia o Fox, 29.

“O de 18 era quem estaria com a arma e teria realizado os disparos, apesar do de 22 ter afirmado ser ele o autor dos tiros. O mais novo tem passagem por latrocínio e roubo, cometidos quando ainda era menor de idade, portanto atos inflacionários, e o mais velho apenas por roubo. A mulher responde por três ocorrências de tráfico de drogas”, detalhou o delegado.

Na ocorrência de roubo do mais novo, também houve restrição de liberdade. A vítima seria de Taguatinga Sul, onde o delito fora registrado, na 21ª DP. No crime de segunda-feira, o de 18 anos levou o tiro no pé. A partir de agora, a prisão dos três foi convertida em preventiva.

Criminalidade

De acordo com o coronel Jorge Eduardo Naime Barreto, da direção da Polícia Militar em Ceilândia e Brazlândia, a reincidência dos crimes tem a ver com as políticas criminais do país, que não têm efeito prático para uma mudança de atitude por parte do criminoso, segundo ele. Ele esteve na ocorrência de segunda-feira à noite. “Os três são reincidentes e agora findaram com a vida de um policial, que, antes de tudo, é um cidadão e um ser humano”, disse.

“Temos um problema em que a sociedade precisa parar e discutir. É preciso cobrar o que querem de política criminal com os legisladores, se não continuaremos a ver crimes e a reincidência deles. São necessárias leis mais eficazes, que tratem mais sobre a reintegração na sociedade, com uma mudança real”, defendeu. “Prendemos muito, mas também se solta muito. A reincidência é alta e o senso de impunidade também cresce.”

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