Lucas valença
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A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) recebeu a visita ontem do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e da Polícia Civil do DF (PCDF), que cumpriam um mandado de busca e apreensão em ambientes relacionados ao deputado distrital Robério Negreiros (PSD). O gabinete da Mesa Diretora e a sala da Diretoria Legislativa também receberam visitas.
Quatro equipes dos órgãos atuaram de forma simultânea na CLDF e na empresa da família do político, Brasfort. Além do gabinete do parlamentar, a segunda secretaria, comandada por Negreiros, foi alvo da operação batizada de Absentia. O termo vem do latim e significa ‘ausência’.
Folhas de ponto
O distrital vive momentos inglórios por conta das acusações de ter fraudado o ponto de presença da CLDF. Recentemente, Negreiros, por meio da Segunda Secretaria, enfrentou os servidores da Casa Legislativa ao anunciar a implantação do ponto eletrônico. Depois do fato, que gerou manifestações nos corredores da Casa, o parlamentar se viu alvo de investigações por supostas fraudes.
Nesta operação, o MPDFT com o apoio de agentes da PCDF, examinou documentos relacionados ao parlamentar e levou cópias dos que consideraram relevantes. Além das folhas de ponto, os integrantes da operação também levaram documentos relacionados ao atestado médico que foi utilizado pelo deputado para respaldar a ausência dos dias anteriores ao recesso parlamentar. Um laptop e arquivos de computadores também foram apreendidos.
Segundo fontes que presenciaram o ato, o mandado apresentado trazia uma relação de documentos que poderiam ser aprendidos e que acabam se distanciando um pouco da posição inicial das investigações. O mesmo mandado também obrigava os agentes a esperar que algum responsável pela sala comparecesse ao local para abrir as portas, impedindo que a Polícia Legislativa (vinculada à Casa) abrisse o local.
Há o entendimento de que novos fatos podem vir a surgir na investigação, ultrapassando a questão da fraude no ponto eletrônico. Nos ambientes onde foram feitas as coletas de informações a conduta dos investigadores não foi criticada, mas também não foi elogiada. Vários servidores reclamavam do suposto tom ríspido na maneira como foram tratados.
Três perguntas para Robério Negreiros
1- Como o senhor viu a ação do MP e da PC na CLDF hoje?
Vi com bons olhos. É sinal de que temos uma democracia amadurecida regida pelo Estado Democrático de Direito.
2- O que o senhor tem a dizer sobre as acusações de que teria fraudado o sistema de pontos da Casa?
As acusações levianas fazem parte da vida de qualquer pessoa que esteja na vida pública e que tenha coragem de enfrentar interesses corporativos nada republicanos. É o esperneio denuncista de quem quer manter privilégios e que não entende que o Brasil mudou.
3- O senhor teme ser preso ou perder o mandato parlamentar?
Não temo, pois não devo. E, no final da história, ficarão claras as intenções levianas que estão por trás de tudo isso. Acredito no trabalho da polícia (Civil) e do Ministério Público. E sei que, no final das investigações, toda a
verdade virá a tona.
Imagens exclusivas da operação
Em um momento de indecisão, representantes do MPDFT expuseram as famosas maletas recheadas de documentos à imprensa. Eles estavam plantadas no hall de acesso da CLDF, mas, logo em seguida, um telefonema foi atendido por um dos representantes. Do outro lado da linha estava a ordem para que descessem ao estacionamento, mais precisamente ao andar inferior dois.
Sete minutos depois, uma van entrou no local para recolher as cinco maletas.
O Jornal de Brasília conseguiu acesso ao local e conseguiu, com exclusividade, fotos da operação.
Procurados, o gabinete 19, representado pelo distrital Robério Negreiros, emitiu nota sobre a atuação dos órgãos de investigação.
“Entendemos as ações de hoje como naturais em um regime democrático e sobre o império das leis. Temos certeza que sairemos fortalecidos no final do processo, quando a verdade for restabelecida e os covardes denuncistas e mentirosos desmascarados”, afirmou a nota.
Por meio de nota, a CLDF informou que coopera com as investigações e que a Casa “forneceu todas as informações solicitadas”.
“(A Câmara) Aguarda a conclusão das apurações para adotar as medidas cabíveis no âmbito da Poder Legislativo”, garantiram.
Ao total, a operação contou com 9 carros, uma van e dezenas de agentes do MPDFT e da PCDF.
O caso de Robério chegou a ensejar um pedido de impeachment do deputado distrital, movido por instituições externas que atuam na fiscalização dos trabalhos da Câmara.
O pedido foi analisado em junho e arquivado pela Mesa Diretora. Caso passasse, o pedido iria primeiro à Comissão de Direitos Humanos, Ética e Decoro Parlamentar, antes de ser debatido e votado em plenário.
Enquanto tramitava o pedido, o deputado chegou a se ausentar por uns dias das atividades parlamentares.