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Brasília

Ex-servidor do Banco Central que matou moradores de rua está livre

Arquivo Geral

28/06/2018 7h00

Foto: Myke Sena

Jéssica Antunes
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Quase dez anos após matar a tiros dois moradores de rua que incomodavam na vizinhança, o ex-servidor do Banco Central José Cândido do Amaral Filho, 57, está em liberdade, aposentado e chegou a fazer curso de meditação. Em 19 de janeiro de 2009, o economista atirou contra a dupla que dormia no coreto da Praça do Índio. Ele foi condenado em 2011, e, segundo o advogado dele, terminou de cumprir a pena em abril de 2018. No entanto, o envolvimento em crime semelhante o mantém em regime domiciliar.

O homem foi preso em janeiro de 2009 pelo homicídio de dois mendigos no coreto da mesma praça em que o índio Galdino morreu incendiado 12 anos antes, na 703/704 Sul. Paulo Francisco de Oliveira Filho, 35, levou três tiros na cabeça e um na mão, e Raulhei Fernandes Mangabeiro, 26, foi baleado na cabeça. José Cândido disse em depoimento que viu os dois moradores de rua mantendo relações sexuais e agiu, indignado.

José Cândido foi condenado quase três anos depois do crime, em 16 de agosto de 2011. A pena foi estipulada em seis anos e oito meses, e deveria ser cumprida em regime inicial semiaberto. O tempo de reclusão foi diminuído em quatro vezes. Isso porque foi considerado que as vítimas provocavam e representavam ameaça, uma vez que se envolveram em casos de agressões, roubos e furtos. Além disso, exame psicológico constatou perturbação de saúde mental do acusado.

José candido do Amaral Filho. / Foto: Reprodução Facebook

Em agosto de 2013, ele conseguiu autorização para trabalho externo via Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap). Com a medida, teve dias reduzidos da pena em ao menos oito vezes. Em junho de 2014, o condenado passou a ter saídas temporárias – de até 35 dias ao ano. A progressão de regime semiaberto para aberto ocorreu em setembro do ano passado.

Defesa nega outra morte

O juiz de Direito substituto Valter Andre de Lima Bueno Araújo considerou que o sentenciado cumpriu o tempo necessário para concessão da benesse. Na modalidade, o apenado deve trabalhar durante o dia e recolher-se no período noturno em prisão domiciliar. Em dezembro passado, o economista ainda conseguiu autorização para ampliar o horário fora de casa para frequentar curso de meditação.

Advogado do ex-servidor, Delcio Gomes de Almeida afirmou à reportagem do Jornal de Brasília que José Cândido “está gozando do benefício de cumprir a pena em casa”. Assim, está livre da cadeia, mas em prisão domiciliar. Almeida explica que a pena foi extinta neste ano, mas a inclusão do nome do homem em outro processo que “nada tem a ver” o mantém preso.

O crime que ele se refere aconteceu em Taguatinga, em março de 2006. A acusação diz que o analista fazia caminhada quando avistou Cleiton Mendes de Oliveira, 23, que teria o irritado ao pedir esmola. O morador de rua morreu com três tiros.
“A ele foi atribuída essa questão, mas ele nunca esteve lá”, diz o advogado, que revela que investigou e descobriu, por produção antecipada de provas, quem seria o real autor do caso. Ele deve apelar à Justiça pedindo revisão.

Memória

Em outubro de 2015, uma dívida de drogas motivou o assassinato cruel de Rita de Cássia Moura de Araújo. Ela foi queimada viva no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) por Willian da Silva Ferreira, que tentou matar outro homem na mesma ocasião. O acusado foi condenado pelo Tribunal do Júri de Brasília a mais de 25 anos dias de reclusão, em regime inicialmente fechado.

Em agosto de 2013, um morador de rua foi incendiado por homens encapuzados que jogaram gasolina e atearam fogo enquanto ele dormia em uma praça no Guará. A vítima foi internada em estado grave com queimaduras em 27% do corpo. Edivan da Lima Silva, 48 anos, morreu no dia seguinte.
Casos cruéis de atear fogo contra um ser humano remetem, quase automatica- mente, a Galdino Jesus dos Santos, o índio Galdino. Em abril de 1997, cinco jovens de classe média jogaram líquido inflamável e fogo no indígena de 44 anos que dormia em um ponto de ônibus da W3 Sul.

Os envolvidos fugiram, mas uma testemunha anotou a placa do carro e entregou à polícia. Com 95% do corpo atingido, a vítima morreu horas depois do ataque. Somente a parte de trás da cabeça e a sola dos pés ficaram livres da ação covarde. A praça ganhou uma obra de arte em homenagem ao índio. Os envolvidos foram condenados e, em 2004, ganharam liberdade condicional.

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