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Brasília

Estudo da UnB vai avaliar grávidas com covid-19

Ao todo, 300 gestantes serão analisadas por equipe médica do HUB, que também vai acompanhar possíveis sintomas nos bebês

Pedro Marra

24/06/2020 15h07

Um estudo da Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Hospital Universitário (HUB) vai acompanhar 300 gestantes com diagnóstico confirmado do novo coronavírus há pelo menos 14 dias para avaliar os efeitos da doença, tanto no corpo da mulher quanto no bebê. Elas serão avaliadas e acompanhadas por um grupo de profissionais da área em conjunto com a Secretaria de Saúde (SES-DF).

As etapas de avaliação do vírus serão as seguintes: ao longo da gravidez da mulher, no parto, durante o período pós-parto, além do estado clínico da criança recém-nascida. Nesse processo, os especialistas vão analisar se a covid-19 aumenta o risco de abortamento, parto prematuro, pré-eclâmpsia e malformação fetal, e se o vírus pode ser transmitido da mãe para o feto.

Chefe da Unidade Materno-Infantil do HUB e uma das coordenadoras da pesquisa, Lizandra Paravidine comenta o andamento do trabalho e a meta futura para completar o grupo de grávidas para a pesquisa. “O HUB está com mais de 20 projetos em andamento sobre covid-19, e a ideia partiu do comitê gestor das pesquisas nesta unidade. Já tivemos até o momento mais de 30 inscrições em processamento, e a ideia é recrutar as 300 gestantes para acompanhamento pré natal até dezembro de 2020”, adianta a especialista.

A médica explica que o acompanhamento pré natal será realizado por uma equipe multiprofissional, com todos os exames próprios deste período gestacional e as ecografias obstétricas realizadas no HUB, assim como o parto. “A orientação é que os contactantes íntimos ou domiciliares (que vivem no mesmo cômodo) com as gestantes ou qualquer outro paciente com covid-19 durante a fase aguda da doença [primeiros 14 dias da doença] devem se manter em isolamento domiciliar, procurando o sistema de atendimento hospitalar se tiver sinais de gravidade da doença como falta de ar, cansaço, perda de consciência, alterações motoras, entre outros”, esclarece Lizandra.

Avaliação dos bebês

Desde quando nascerem até completarem cinco anos, os bebês também serão avaliados no estudo. Nesse tempo, os médicos verão se o vírus interferiu no desenvolvimento neuropsicomotor da criança e se aumentou a mortalidade infantil.

O professor da Faculdade de Medicina da UnB, Geraldo Fernandes, será responsável por acompanhar os bebês durante a pesquisa. Segundo ele, o foco da coordenação é achar respostas para as reações das crianças no início da gestação.

“Alguns estudos mostram que eles não tiveram nada e evoluíram super bem. Outros deixam isso em dúvida. E se a gente vai comparar com algumas outras doenças virais que as mães possam ter durante a gestação, alguns bebês podem evoluir de forma ruim. Com isso, o objetivo da pesquisa é fazer um seguimento minucioso dessas crianças para ver se elas não vão ter alguma alteração clínica ou no desenvolvimento psicomotor. É algo que a gente ainda precisa investigar se traz alguma sequela para os bebês”, afirma Geraldo, que também é pediatra

Das pesquisas publicadas até então, Geraldo relata que existem as que falam de mulheres que foram infectadas mais para o final da gestação, mas não cita o início da gravidez. “Estudos que saíram na China e Europa falam mais deste [primeiro] perfil. Mas ainda não temos estudos de gestantes que foram infectadas no início da gestação. Essa necessidade de respostas nos motivaram a iniciar essa pesquisa. Se a ela está infectada, pode infectar o companheiro, assim como ele pode infectar a gestante. Dos bebês que as mães se infectaram no final da gestação, eles não tiveram muitos sintomas. Por isso que precisamos acompanhar o desenvolvimento dessas crianças”, ressalta.

Aprovada pelo Comitê de Ética, a pesquisa vai usar a metodologia de estudo de corte. Consiste em um estudo observacional epidemiológico com foco em analisar a incidência de uma doença ou fenômeno relacionado à saúde ou a uma patologia. Além de avaliar as grávidas infectadas pelo Sars-CoV2, a pesquisa fará uma comparação com as que não se infectaram.

“Esperamos, com o estudo, avaliar características, como presença do vírus e presença de anticorpos no líquido amniótico e no sangue do cordão umbilical”, explica Licia Mota, reumatologista e professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (FM/UnB), também à frente do estudo.

Segundo a docente, a pesquisa também observará se há repercussão no desfecho da gestação: “E, para os filhos, no desenvolvimento comportamental, cognitivo e auditivo”. As evidências disponíveis, até agora, mostram que não há transmissão vertical do Sars-Cov2 da mãe para o bebê.

A iniciativa é uma das aprovadas em chamada pública de projetos contra a covid-19 realizada pelo Decanato de Pesquisa e Inovação (DPI), pelo Decanato de Extensão (DEX) e pelo Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de combate à covid-19 (Copei) da Universidade de Brasília.

Como participar

Para a gestante ser atendida no HUB e participar da pesquisa, deve entrar em contato com o hospital pelo telefone (61) 2028-5232. É preciso ter o diagnóstico confirmado de covid-19 há pelo menos 14 dias e atender a alguns critérios, como ter 18 anos ou mais e não ter suspeita ou confirmação de outras infecções congênitas ou doenças crônicas pré-existentes, exceto diabetes e hipertensão.

Além do HUB, instituições do Brasil e do mundo estudam os efeitos da covid-19 na gravidez. Para facilitar o acesso da equipe de saúde às publicações voltadas ao tema, integrantes de um projeto de extensão da UnB criaram um site contendo os documentos científicas. A qualidade e procedência dos artigos e publicações são avaliadas por um grupo de professores universitários. “Todos os artigos passam por revisões prévias para apresentar informação científica qualificada para os profissionais de saúde”, informa o professor Alberto Zaconeta, coordenador do projeto.

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