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Brasília

Enxurrada causa estragos para população de São Sebastião

Arquivo Geral

17/04/2018 7h00

Atualizada 16/04/2018 22h31

Foto: Breno Esaki

Raphaella Sconetto
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Acasa gotejando em todos os cômodos e o forte cheiro de mofo denunciam os prejuízos na casa da dona Geilvânia Silva da Paixão, 46 anos. São Sebastião foi uma das regiões que mais registraram ocorrências relacionadas à chuva da madrugada de ontem, de um total de 21 chamados pelo Corpo de Bombeiros. A capital registrou precipitações acima da média em três meses deste ano.

O sobrado da dona de casa e do marido, José Aparecido Veiga, 51, tem um quarto, cozinha, sala e uma área de serviços. Tudo feito provisoriamente. Sem laje ou telhado no segundo andar, é inevitável que a estrutura se encharque.

“Compramos a casa com o sonho de terminar. Até que conseguimos dar uma continuação nas obras, mas meu marido caiu da escada e quebrou o braço, no dia 30 de dezembro. Ficou faltando fazer a laje”, diz.

Geilvânia mostrou à reportagem todos os cômodos e o estrago causado. “Eu sei que chover é bom, mas para mim só traz problemas. Não está dando tempo de secar direito. Antes de parar de pingar, chove de novo”, diz, em lágrimas. O marido lembra dos raios e da ventania da madrugada passada. “Foi muito forte”, resume.

Como no famoso “jeitinho brasileiro”, todos os dias Geilvânia sobe no segundo andar para rapar a água parada e improvisa: “Não tenho mais nada. No único armário eu coloco um guarda-chuva para não molhar a comida. Perdi sofá, tinha estante, mas ela acabou, o rack apodreceu. Meus móveis não aguentam. Quando a gente dorme, fica pingando. Acordo a noite toda com água caindo”, desabafa.

Em casa, a única renda vem da venda do sabão que ela produz. “Tenho dois filhos. Meu caçula faleceu no ano passado, em um acidente de trânsito. Era meus pés e minhas mãos. O único que trabalhava de carteira assinada. O outro casou. Só restamos nós dois e não podemos trabalhar”, conta. Geilvânia sofre de fibromialgia, tem uma lesão na coluna e nódulo no pulmão, é hipertensa e tem bronquite, asma e sinusite. “Como sobreviver assim?”, questiona.

Mais prejuízos

No Centro de São Sebastião, moradores da Rua 44 também relataram medo durante a madrugada. Uma casa corre risco de desabamento, conforme o Corpo de Bombeiros. No mesmo lote, fica a residência da doméstica Ana Lídia Afonso, 35 anos, que acordou com o barulho da água. Na frente de sua casa, há um bueiro e as manilhas da drenagem pluvial acabam dentro do seu quintal. “Com o lixo dentro do bueiro, não tinha para onde escoar. Veio todo o lixo de São Sebastião para cá”, critica.

De acordo com a moradora, a água chegou a bater na cintura. “Foi um terror. Para a água sair da minha casa, eu tive que quebrar a parede do banheiro. O carro do meu irmão foi parar no fundo do quintal”, conta. A doméstica passou o dia limpando os estragos.

Água entra até pelas janelas

Vizinho de Ana Lídia, o desempregado Cristiano Francisco de Jesus, 37 anos, alega que esta foi a primeira vez que a Rua 44 sofreu tanto com a chuva. O lote do homem abrange três casas. Em uma delas, a água chegou a entrar pela janela. Assim como a vizinha, ele precisou quebrar um pedaço do muro. “No fundo do lote eu tive que começar a nadar. A água chegou a bater no peito”, lembra.

Segundo o Corpo de Bombeiros, também em São Sebastião um homem foi arrastado pela chuva. Ele estava dentro de um veículo na Rua Principal Gameleira. O estado de saúde da vítima não foi divulgado.

Socorro

Da 0h às 9h de ontem, os bombeiros receberam 21 chamados, sendo dez acidentes de carro, seis quedas de árvores, dois riscos de desabamento, duas casas alagadas e a pessoa arrastada.

Um carro estacionado na 712 Sul ficou inundado. O prédio do Hospital Regional de Planaltina também foi alagado com a forte chuva. Segundo o relato de pacientes, a água invadiu os corredores do ambulatório, do centro obstétrico e do auditório. No Gama, o Centro de Saúde 6 foi atingido pela tempestade. Além das unidades de saúde, a Avenida Independência, em Planaltina, também ficou alagada.

O Corpo de Bombeiros ainda informou que muros de seis residências do Condomínio Ouro Vermelho 2, no Jardim Botânico, caíram por causa da tempestade.

Versão Oficial

Procurada, a Administração Regional de São Sebastião diz fazer limpar com frequência as bocas de lobo e bueiros da cidade, mas alega que não é o suficiente em razão da falta de conscientização de parte da população, que descarta o lixo incorretamente nas ruas e obstrui os canais de escoamento.

“O recolhimento do lixo e de inservíveis também é feito com frequência pela Administração, mas, por causa da constante reposição dos entulhos, os problemas continuam sempre que chove. A administração intensificará as campanhas de conscientização, averiguará a situação do endereço citado e tomará providências”, diz.

SAIBA MAIS

Se para uns a chuva causa estragos, para os reservatórios da capital as precipitações são essenciais. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o mês de abril está acima da média: já choveu 180 mm, enquanto eram previstos 130 mm. Em todo o ano, foram cerca de 850 mm. Somente em janeiro não choveu o que era estimado.

Com isso, os volumes dos reservatórios continuam a subir. No Descoberto, desde o começo do ano o nível encheu em 54,6%: de 30,5%, em janeiro, para 85,1% até ontem, quando foi feita a última medição pela Agência Reguladora de Águas (Adasa). A barragem de Santa Maria, por outro lado, está aumentando aos poucos. Lá, o ano começou com 30,5% e ontem tinha 53,5% do volume útil.

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