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Brasília

Emocionados, familiares e amigos se despedem de Dona Sebastiana, a centenária de Brasília

Arquivo Geral

12/09/2018 19h44

Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília

Manuela Rolim
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A despedida de Sebastiana Coelho de Matos, nesta quarta-feira (12), não tinha como ser diferente. O velório da centenária lotou a capela 4 do cemitério Campo da Esperança, em Taguatinga, no início da tarde. A emoção tomou conta dos familiares e amigos da senhora de 101 anos que encantou o Jornal de Brasília ao participar de duas reportagens publicadas em abril deste ano. O sepultamento foi às 17h30.

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Sebastiana deixa dez filhos, 50 netos, 40 bisnetos, oito tataranetos e um marido apaixonado, o também centenário Francisco Fernandes de Alencar, 103. Foram 82 anos de puro companheirismo, interrompido no início da tarde de ontem (terça-feira 11), quando Sebastiana teve uma insuficiência respiratória devido a uma pneumonia grave e faleceu em casa, em Vicente Pires.

Francisco não teve condições de ir se despedir de Bastiana. Era assim que ele a chamava. Ao receber a notícia, o senhor ficou muito abalado. “Ele está meio passado, calado, triste pelos cantos da casa. Busca conforto, mas não encontra”, afirma o filho do casal, Fanstone Matos de Alencar, 63, funcionário público.

Segundo Fanstone, foi difícil contar para o pai sobre a perda. “No momento em que ele perguntou se a minha mãe estava bem, se tinha comido, tivemos que falar a verdade. Ele já estava percebendo uma movimentação estranha na casa, até perguntou se era feriado”, explica o filho.

Fanstone de Matos Alencar, filho de Sebastiana. Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília

Para ele, a mãe foi um exemplo. “Ela foi uma mulher ímpar. Uma pessoa amorosa, dedicada à família e muito prestativa. Não é fácil viver um século e a minha mãe fez isso de uma maneira exemplar. Sou muito grato por ser filho dela. Foi um privilégio todos esses anos”, declara.

Há 15 dias, Sebastiana foi parar no hospital. Em seguida, foi montada uma espécie de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na casa dela. “Queríamos que ela ficasse perto da família”, acrescenta Fanstone, visivelmente emocionado.

“Puro amor”

No velório, também estava uma das netas de Sebastiana, a enfermeira Jane Ester Alencar. Com uma foto da avó nas mãos, ela lamenta a perda. “Vai fazer muita falta. Minha avó era puro amor, uma ‘vozona’. Fazia tudo pelos netos, todas as nossas comidas preferidas”, afirma Jane.

A preocupação dela agora é com o avô. “Desde que soube, ele não deu um sorriso, não falou quase nada. Vimos os olhos dele cheios de lágrimas, foi de partir o coração. Acho que meu avô pensava que ela era eterna, assim como todos nós acreditávamos nisso. Ele sempre disse que ia partir logo depois dela. Agora que ela foi embora, ele está sem chão”, declara.

Jane Ester Alencar, neta da centenária. Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília

Relembre a história

Internados na enfermaria do Hospital Regional de Samambaia, em abril, seu Francisco Fernandes de Alencar e da dona Sebastiana Coelho de Matos foram exemplo para toda a capital do sentimento tão genuíno que tinham um pelo outro. Até mesmo dentro do quarto de um hospital, os dois não se desgrudaram.

O casal permaneceu unido durante a internação no hospital. Foto: Matheus Oliveira/Secretaria de Saúde

Na época, Sebastiana apresentou hiperglicemia. Precisou ser internada. Em casa, Francisco se recuperava de uma forte gripe, mas sentiu falta da esposa e começou a ter problemas nos rins. Então, seguiu para o hospital. “Chamamos o Samu e a vaga que tinha era no Recanto das Emas. Mas quando o motorista soube que a vó estava no HRSam, ele seguiu para lá, para saber se aceitavam”, contou a neta Jane Ester Alencar Alves, 42, ao Jornal de Brasília.

Francisco sempre se mostrou preocupado com a esposa. No hospital, perguntava se ela já tinha comido, se estava dormindo. Até no dia que receberam alta, ele sugeriu qual seria o cardápio da comida quando chegasse em casa e que “Bastiana” também teria que comer.

Noivos em fuga

Aos 19 anos, Francisco saiu do Maranhão para ganhar a vida. Trabalhador rural, encontrou na fazenda do pai de dona Sebastiana a oportunidade de um emprego e sustento. “Só que quando ele viu minha avó, se apaixonou à primeira vista. Ele não teve coragem de chegar nela, porque dizia que não tinha condições e que ela não o merecia. Mas uma tia da minha avó percebeu e se tornou a ‘cupida’. Incentivou o meu avô a falar com ela”, diz a neta.

O que conquistou Sebastiana foram os olhos azuis de Francisco. Mas seu pai não concordava com o namoro. “Meu bisavô não aceitou. Dizia que minha avó tinha posses e ele, nada. Só que, com a ajuda da tia, eles planejaram uma fuga e se casaram”.

Era 1936 quando saíram do interior de Goiás rumo a uma vida toda juntos. A primeira parada foi justamente em uma igreja onde selaram as juras de amor eterno. “Quando meu bisavô descobriu, deserdou minha avó”, afirma Jane. “Voltaram à fazenda em 1961, quando tiveram a última filha, mas meu bisavô já tinha morrido”, completa.

Dona Sebastiana deixa o companheiro Francisco, 10 filhos, 50 netos, 40 bisnetos e oito tataranetos. Foto: Matheus Oliveira/Secretaria de Saúde

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