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Brasília

Emoção marca hora da defesa

Advogados apresentam testemunhas, cartas e documentos para demonstrar que relação de Adriana Villela com os pais, embora conturbada, era amorosa

Marcus Eduardo Pereira

27/09/2019 6h06

4 dia Julgamento Adriana Villela Foto: Vitor Mendonca Data: 26-09-2019

Tribunal passa a ouvir a defesa

O advogado Antônio de Almeida Castro, Kakay, disse que foi um dia importante em favor da ré

Olavo David Neto e Vítor Mendonça
[email protected]

O quarto dia de julgamento de Adriana Villela começou com muita emoção, às 9h08. O primeiro depoente de ontem (26) foi a nona testemunha e a segunda pessoa a depor em defesa da ré. Enio Esteves Perche, ex-cunhado da suposta mandante do crime, engasgou, soluçou e chorou ao falar sobre a relação de Adriana e os pais, José Guilherme e Maria Villela. Em um dia dedicado à defesa da ré, Geraldo Flávio de Macedo Soares e Regina Batista Lopes de Luna, conhecida de Adriana, prestaram seus depoimentos ao tribunal do júri.

De acordo com ele a relação entre os entes poderia ser conturbada em alguns momentos, mas de pilar “amoroso”. “Uma relação de amor, um amor que compreende as diferenças”, disse Enio. Quando requerido pela defesa da ré, cartas e e-mails foram juntados pela defesa para que fizessem contraponto à carta escrita por Maria Villela à filha em 2006, lida na quarta-feira (25), por meio da qual recomenda que Adriana procurasse um tratamento para sua “agressividade compulsiva”, conforme descreve.

Parábola

Um dos e-mails foi enviado no domingo, 8 de julho de 2007, às 8h. “Nana querida, seu sucesso é nossa alegria. Leia, no Evangelho de Lucas, a “Parábola do Filho Pródigo”, e não precisarei te dizer mais nada […] Seja bem-vinda à casa paterna, que recebê-la-á sempre de braços abertos. Hoje almoçaremos no aeroporto por volta de 14h. Beijos carinhosos, Sua mãe.”

A partir de outro endereço de e-mail, no que parece ser uma resposta à mãe, cerca de um mês depois, no dia 11 de agosto, Adriana escreveu no assunto da mensagem “Gratidão que não cabe em caixa”. “Que lindo, mãe.

Em todos os sentidos, visíveis e invisíveis planos… Grata por sonhar comigo […] Beijos, mãe. Nana. / Ps.: comprei um presente lindo pro meu pai. Espero que ele vá gostar. Uma maquininha de expresso”. Em outro trecho, ela diz:“Como é que a pessoa vai entender o tamanho da gratidão que tem dentro das coisas? Pelo preço? Pelo carinho com que se dá? Espero que ele entenda o que o cafezinho dessa máquina significa para mim […]”

Foto: Vitor Mendonça/Jornal de Brasília

O advogado de defesa, Antônio de Almeida Castro, Kakay, tratou as duas primeiras testemunhas como trunfos em favor da ré. “Hoje é um dia especialmente importante para a defesa. A primeira testemunha disse das inúmeras ocasiões de afeto entre Adriana e seus pais, ao contrário do que a acusação fala, por causa de uma única carta”, declarou.

Pedido de Mabel

De acordo com a terceira testemunha de defesa do caso, o advogado do norte de Minas Gerais e morador de Montalvânia Geraldo Flávio de Macedo Soares, a ex-delegada da Corvida, Mabel Alves de Faria Corrêa, teria ido à cidade mineira e encontrado o homem para lhe dar orientações sobre o caso que envolvia a cidade.

Nas investigações, conforme conversavam, Mabel teria pedido que o advogado orientasse Paulinho, já preso por outro homicídio em Montalvânia, que o crime de mando lhe renderia uma pena menor que o crime de latrocínio, infração defendida pelos advogados em favor da ré, quando assaltantes roubam e matam em seguida. “Achei errado ela me pedir para orientar a dizer para Paulinho que dissesse que haveria mandante no crime, então eu só perguntei para ele se tinha ou não”, defende o advogado. “O Paulinho me disse, mesmo eu insistindo em entender se teve mando ou não, que ninguém mandou que matassem o casal.”

Corvida

Convidada pela defesa de Adriana Villela, Regina Batista Lopes de Luna foi a quarta testemunha da defesa a depor no quarto dia do julgamento. Regina e Adriana se conheceram em encontros de diferentes grupos terapêuticos.

No início de 2009, Regina se interessou numa loja na 116 sul e, junto a Adriana, fez a vistoria no imóvel, fechando o encontro com um almoço. Após as receptações telefônicas de Adriana, a comerciante entrou no radar da Corvida.

O depoimento dela contrapôs a acusação que disse que a Corvida foi a única delegacia a não incorrer em abusos de poder e excessos nas inquirições.

“Gostaria que me pedissem desculpas”

A primeira ação policial contra Regina Batista Lopes de Luna – que consta nos autos do processo – foi um mandado de Busca e Apreensão às 6h30 da manhã e, segundo ela, sem observância a direitos básicos, como a companhia de um advogado. De acordo com a testemunha, em uma das oitivas, um agente “bateu com a mão bem forte na mesa”, dizendo que a “casa caiu’”, conforme relato da testemunha.

Além disso, segundo Regina, ela foi posta numa sala com visão ampla de Adriana algemada e cercada de policiais. De frente para Mabel de Faria, conforme o depoimento, a delegada comentou, em tom lamentoso, o que a Adriana estaria fazendo com a colega, ao que ela respondeu que “não é a Adriana que tá fazendo isso, é a polícia”, declarou Regina.

O desespero de Regina, conforme o próprio relato, era se ver acusada de participar de um triplo assassinato e não conseguir convencer as autoridades de sua inocência. “Eu consegui provar direitinho onde eu estava, o que eu fazia; mas o que eu falava pra Corvida eles não acreditavam”, queixou-se a comerciante.
O martírio da comerciante durou de abril a setembro de 2010 e causou, inclusive, prejuízo profissional, conforme o relato de Regina. Dona de uma loja de cortinas e persianas, ela perdeu clientes e colaboradores, pois “ninguém queria ser ligado a uma investigada pela polícia”, declarou.

Regina também se queixou de nunca ter recebido escusas dos órgãos policiais, ou mesmo de Mabel pelos inconvenientes trazidos. “Nunca pediram [desculpas], e eu gostaria muito que pedissem”, sustentou a depoente. “Aliás, não precisa nem pedir desculpas, na verdade, era só dizer que eu estava livre, que não acharam nada”, corrigiu-se.

Procurador do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Maurício Miranda rebateu os relatos de Regina entrevista ao Jornal de Brasília. “Não houve abusos por parte da Corvida, tudo foi feito dentro da legalidade. Se houvesse, seria apurada por nós”, declarou o acusador. “Eu mesmo dei socos na mesa, isso não caracteriza nada.”

Primo diz que família sofre há dez anos

O professor Elimar Pinheiro do Nascimento foi a quarta testemunha no processo de Adriana Villela, ré no caso do crime da 113 sul ontem. Docente na Universidade de Brasília, ele deu aulas de Política Pública e Meio Ambiente no mestrado em Arquitetura da acusada.

Elimar descreveu Adriana como doce e atenta às necessidades de terceiros. Ressaltou os trabalhos sociais que ela desenvolvia em comunidades carentes. “O que me chamava atenção na Adriana era o desapego a coisas materiais. Ela se vestia, ao meu ver, mal, e tratava muito bem as pessoas subalternas”, declarou a testemunha.

O depoimento de Elimar revelou que ele esteve por duas vezes na casa dos Villela. Ele nega, porém, contato com José Guilherme e Maria Villela. Sobre as cartas de Maria à filha – nas quais a mãe pede que ela “procure tratamento” para o comportamento agressivo da, hoje, ré -, Elimar entende como “um desentendimento, mas imagino que seja normal na relação familiar.”

Uma década de sofrimento

Magistrado em São Paulo, Marcos Menezes Barberino Mendes é primo de Adriana Villela e depôs ontem no julgamento da parente. No depoimento, quinto e mais rápido do dia , ele deu detalhes da relação da família com Adriana e do sentimento dos familiares com o processo.

Ele relatou que Adriana sempre teve um estilo de vida alternativo. Segundo a testemunha, José Guilherme Villela, tinha certa insatisfação pelo fato da filha não seguir carreira no Direito. “Ele sempre comentava que ela se daria muito bem, porque é articulada, sabe expor suas ideias”, comentou.

A respeito do processo, Marcos comentou que o andamento ainda causa sofrimento na família, pois “ainda não pudemos fechar o período de luto. Nós nem damos notícias em tempo real porque tem pessoas mais velhas que podem não aguentar”, declarou o depoente.

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