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Brasília

Em média, brasiliense perde 40 dias por ano no trânsito

Arquivo Geral

29/01/2018 7h26

Foto: João Stangherlin

João Paulo Mariano
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Não importa se é de ônibus, carro ou bicicleta: os moradores da região Centro-Oeste não estão felizes com a mobilidade urbana. E não é por menos. A média do tempo gasto no trânsito é de 40 dias por ano. É o que revela pesquisa divulgada pela Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL-DF), que também apontou que 80% das pessoas estão insatisfeitas com essa situação, sem falar que 78% delas reclamam da qualidade do transporte.

É o caso do recepcionista Wagner Carvalho, 36. Ele acorda às 4h40 da manhã para pegar o ônibus das 5h30 e percorrer os mais de 40km de Planaltina ao Plano Piloto e chegar ao trabalho às 8h. As férias escolares dão um alívio, reduzindo os engarrafamentos na BR-020.

O tempo médio gasto pelos moradores de Brasília e região no transporte para as atividades diárias, tanto faz de carro, ônibus ou moto, é de duas horas e 38 minutos, informa a pesquisa. Wagner conhece bem essa realidade. Em dias de tráfego mais tranquilo, a ida e volta consomem cerca de 2 horas e 15 minutos. São “365 dias por ano em pé na ida e na volta”, mas esse cálculo pode chegar até a três horas fora do período de férias.

Ir de carro para ele não é viável, assim como para cerca de 53% dos entrevistados pela pesquisa. A segunda opção mais escolhida é o automóvel, com 23%, em seguida, a motocicleta (8%). A esperança de Wagner seria um corredor exclusivo para a região Norte ou outro transporte mais ágil que o ônibus.

Com uma população que, segundo o IBGE, ultrapassou os 3 milhões no ano passado, o Distrito Federal sofre com grandes engarrafamentos e transporte público cheio. Só de veículos licenciados pelo Detran/DF são 1,7 milhão. A proporção é de 55 carros para cada 100 pessoas, quase dois por morador, de acordo com a Secretaria de Mobilidade.

Porém, muitos acreditam que se o sistema público fosse melhor, a escolha seria bem mais tranquila. “Tudo começa pelo transporte público. Fora do Brasil, muita gente deixa de usar os carros porque a circulação é melhor. Não tem como não escolher aqui”, avalia o comerciante Fábio Carneiro, 38. Para ele, o ônibus seria uma boa opção, já que, morando no Park Way, o BRT seria interessante. Porém, nem as paradas de ônibus da região funcionam adequadamente.

Assim, não larga o carro. Ele diz que tem sorte de não pegar tanto engarrafamento porque circula fora do horário de pico. Fábio pensa como 65% dos entrevistados pela pesquisa e defende mais investimentos na qualidade do transporte coletivo. A pesquisa ainda diz que cerca de 43% das pessoas ouvidas sugerem melhorias nas estradas e 27% pedem incentivos a campanhas de carona solidária.

Prejuízo

A pesquisa foi feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Para o superintendente da CDL-DF, responsável por divulgar os resultados, Antônio Xará, Brasília precisa de investimento na mobilidade, até porque além do reflexo negativo no dia a dia de quem precisa se deslocar para trabalhar, o comércio também sente os problemas.

“O comércio sofre muito, em especial onde tem grande concentração de lojas, como nas Asas Norte e Sul e no Centro de Taguatinga. Não há estacionamento, os poucos são em frente às lojas e absorvidos por moradores. Dificulta muito as vendas”, reclama. Ele lembra que o problema joga para os shoppings os clientes que poderiam ser do comércio de rua. A falta de estrutura na W3 Sul seria o melhor exemplo.

Opção pela bicicleta dá bom resultado

Para fugir da bagunça que muitas vezes o trânsito se torna, tem gente que prefere gastar um pouco mais para morar perto do trabalho e até trocar o carro pela bibicleta. Desde 2013, o bancário Caetano Sampieri Filho, 35, aposentou seu automóvel e fez da bike seu meio de transporte, até mesmo em dias de chuva. Ele conta com a facilidade de trabalhar em um local com bicicletário seguro e vestiários com chuveiros.

Assim que se casou, em 2013, mudou-se para a Asa Norte. Uma das coisas que chamaram sua atenção foi a existência de ciclovia na região. Colocando no papel, Caetano economiza cerca de R$ 500 por mês e, de quebra, percorre 18km diários de bike, ajudando-o a ter uma vida mais saudável.

Em sua casa, há apenas o carro da esposa, que também está sendo abandonando o veículo aos poucos para ter uma vida com menos engarrafamentos. Além disso, o tanque cheio dura um mês. O que ele cobra agora é a estrutura: “Faltam ciclovias e um pouco de cultura ciclística para o brasiliense”.

O especialista em trânsito Márcio de Andrade ratifica a posição de Caetano e acrescenta que é preciso que o Estado olhe com atenção para as necessidades dos usuários de bikes. Para ele, a conscientização da proteção a quem pedala pelas ruas da Capital deveria ser maior. “O espaço deve ser compartilhado e não disputado”, afirma, ao lembrar que os carros não são donos das ruas.

Porém, ele lembra que ninguém vai utilizar bicicletas se as ciclovias não existirem. Nem as pessoas deixarão os carros para andar de transporte público, se “enfiar em uma lata de sardinha, que não sai que horas passa e nem tem a segurança necessária”.

Versão Oficial

Em nota, o Governo de Brasília informou que lançou, em maio de 2016, o primeiro Programa de Mobilidade do Distrito Federal, o Circula Brasília, que prioriza o transporte coletivo e não motorizado e visa melhorar a integração entre os modais, a requalificação urbana, a adoção de novas tecnologias e a valorização da acessibilidade.

O Circula Brasília também entregou 17 terminais rodoviários – entre novos e reformados – e possibilitou a criação de 700 linhas e a readequação de outras 1.700. O programa também foi responsável pela implantação da biometria facial, da regulamentação do transporte individual privado de passageiros por aplicativo e pela ampliação do sistema de bicicletas compartilhadas por meio do Plano de Ciclomobilidade+Bike.

A melhoria da mobilidade urbana no Distrito Federal também ocorre por meio da abertura de novas vias ou da implementação de viadutos, como a ligação Torto-Colorado e o Trevo de Triagem Norte (TTN). A expectativa é que esta obra beneficie aproximadamente 100 mil condutores diariamente. Serão investidos, aproximadamente, R$ 300 milhões nessas intervenções urbanas.

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