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Brasília

Em livro, brasiliense conta sobre a sua relação com dependentes químicos

Arquivo Geral

18/09/2018 7h00

Atualizada 17/09/2018 21h36

Foto: Lígia Vieira

Lígia Vieira
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Servidora pública e mãe de três filhos, Gianni Puglisi, 40 anos, começou a escrever sobre a relação dela com dependentes químicos há sete anos, ao criar o blog Amando um dependente químico. Na época, nem imaginava que em 2015 lançaria, de forma independente, um romance homônimo. Nem mesmo contava que, a partir de um edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), estaria à frente do projeto Leitura e Laços em Movimento, o qual passará por dez pontos nas regiões de Sobradinho, Planaltina e Fercal distribuindo gratuitamente 1,5 mil exemplares desta obra literária.

No início do projeto, Gianni achava que era a única que convivia com dependentes químicos. Porém, a cada nova publicação que fazia na internet, descobria a existência de muitas outras histórias semelhantes. Ela diz ter nascido “num lar em que meu pai era dependente”, e acrescenta: “As pessoas achavam que minha irmã e eu também viraríamos”.

As primeiras publicações no endereço eletrônico começaram “como um modo de desabafar, de registrar meus pensamentos em algum lugar”, relembra a autora. Tanto no livro quanto no blog, ela utiliza o pseudônimo de Polyanna P., pois, segundo Gianni, “a Polyanna surgiu como uma forma de não me expor e para evitar preconceitos”.

Foi a partir da participação dela em grupos de apoio a familiares de dependentes químicos que surgiu a vontade de escrever. Nestes encontros, ela percebeu que podia realizar seus sonhos apesar da realidade que vivia dentro de casa.

Depois, foi atrás de cursos e se especializou no assunto. Chegou a trabalhar com políticas públicas de prevenção de drogas no Distrito Federal. Ela enxerga que o sucesso de Amando um dependente químico se deu porque, “quando você vive na pele, os leitores criam empatia”. Afinal, neste caso, quem conta a história passou pelas mesmas situações de quem lê.

O livro não é uma autobiografia, mas uma junção de experiências próprias com vivências compartilhadas por leitores do blog.

Foto: Lígia Vieira

Sonho realizado

A distribuição de exemplares começou na sexta-feira passada, na área externa do Na Hora de Sobradinho I. Para Gianni, a ação é a realização de um sonho. “Um sonho que é fruto de muita dor, mas que valeu a pena, pois hoje serve para ajudar outras pessoas”, descreve.

Sobre a distribuição do livro, ela reflete: “Fico pensando em quem vai ler agora e vai ter mais informações e mais maneiras de lidar com essa realidade”. No dia do lançamento, havia fila o tempo todo, e antes da distribuição foi feita a leitura de um trecho da obra, que fala sobre se amar.

Enquanto autografava os exemplares, muitos conversaram com a autora e comentavam que passam por situações parecidas. Por isso, levariam o livro a filhos, vizinhos e outros conhecidos. Houve quem pedisse para levá-lo a familiares de um jovem que estava sendo enterrado naquele momento. Morte causada por overdose.

Gianni Puglisi tomou gosto pela escrita e já pensa em escrever o segundo livro, desta vez “mais voltado à prevenção do uso de drogas”. O livro será sobre Francine Deschamp, uma jovem que morreu de overdose. A obra será baseada no diário dela, que foi dado a Gianni pela irmã.

“As primeiras publicações no blog começaram como um modo de desabafar, de registrar meus pensamentos em algum lugar. A Polyanna surgiu como uma forma de não me expor e para evitar preconceitos”. Gianni Puglisi, autora do projeto

Um lugar de discussão e reflexão

Mais que um lugar para expor suas vivências, o blog de Gianni se tornou um fórum de encontro e de troca de informações. Ao lançar a página eletrônica, percebeu que os leitores pediam ajuda, então ela começou a fazer publicações com o que sentia e com o que aprendia com as situações.

Um mote que a servidora pública traz em suas publicações é “ se amar e se cuidar antes de cuidar do outro”. Para ela, “não é um egoísmo. É como quando estamos no avião e falam ‘primeiro coloque a máscara em você, depois no passageiro ao lado’”.

A escritora ainda deixa a mensagem de que quanto mais divulgação de informações sobre o assunto melhor. “Além disso, deve-se investir em políticas de prevenção e de apoio principalmente para as famílias”, destaca.

Saiba Mais

O Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC) destina verba a atividades artísticas e culturais do DF. Os projetos são selecionados por editais públicos. Por meio do FAC são produzidos, por exemplo, filmes, peças de teatro, CDs, DVDs, livros, exposições, oficinas e pesquisas.

A principal fonte de recursos do FAC consiste em 0,3% da receita corrente líquida do GDF.

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