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Brasília

Eles são os zeladores da saudade

Na véspera do Dia de Finados, conheça as histórias de quem tem como tarefa cuidar dos jazigos dos que descansam no Cemitério Campo da Esperança

Lindauro Gomes

01/11/2019 5h00

Jardineiro de cemitério Foto: Vitor Mendonca Data: 31-10-2019

A delicada e silenciosa missão de zelar pela última morada

Às vésperas do Dia de Finados, são os jardineiros que cuidam e embelezam os túmulos. Ivo da Silva conta sobre o ofício que abraçou há 26 anos

Vítor Mendonça
[email protected]

Na sociedade ocidental, ainda não se sabe ao certo como lidar com a morte. A um dia do feriado de Finados, enquanto para alguns é tema proibido e berço de superstições, outros dependem do fim da vida humana para se sustentar. Esse é o caso de Ivo da Silva Paixão, de 40 anos, que há 26 anos convive diariamente com o assunto. O homem, conhecido como Igor, trabalha como jardineiro de túmulos no cemitério Campo da Esperança, na unidade da Asa Sul.

Diligente, Igor cuida de aproximadamente 30 a 40 covas. De terça à sábado, das 7h30 às 17h, o serviço consiste no corte e regagem de gramas, plantação de flores e manutenção dos ornamentos colocados sobre os túmulos.

“Há umas pessoas que desde quando entrei aqui, com 14 anos, eu cuido delas. Cuido de algumas famílias também. Tem gente que pede para parar e outras chegam, e o serviço continua”.

A história com as covas e com a jardinagem no cemitério Campo da Esperança veio da própria família. “Meus primos faziam esse serviço e eu fui o terceiro a trabalhar com isso. Já tinha feito uns bicos de jardinagem antes e me pareceu uma boa oportunidade de fazer um dinheirinho a mais”, conta o homem.

Sobre o sentimento de cuidar daqueles que já se foram, principalmente por serem desconhecidos de Igor, o desconforto é real.

“É meio triste. Eu estou cuidando de uma pessoa aqui, mas de uma hora para a outra pode ser eu aqui também, enterrado. Eu tento nem pensar nisso, se não eu fico com trauma. Mas é um momento de pensar na vida também”.

Ganha-pão

Mensalmente, o jardineiro consegue tirar cerca de R$ 2 milpelo trabalho, debaixo de sol. Cada cliente paga entre R$60 e R$70 pela manutenção das covas. “Às vezes me pagam em mãos, outras por transferência”, comentou. Os custos, por outro lado, são por conta do trabalhador. Morador de Santo Antônio do Descoberto, de quinta a sábado, o jardineiro arca com a gasolina do carro; às terças e quartas, com a passagem do transporte público. São pelo menos 50 km de deslocamento desde a residência até o cemitério, no fim da Asa Sul.

Outro custo considerável para o bolso do também Microempreendedor Individual (MEI) são os gastos com a água para regar os túmulos que toma conta, que retira de uma associação de jardineiros no local. “A gente paga R$14 a cada tanque de mil litros de água”, disse. “Por mês, eu uso uns 16 tanques”. No total, então, são totalizados R$ 224,00 com as contas de água; cerca de 8% a 15% dos ganhos no cemitério.

“Mas todos os dias a gente tem que ser humilde com todo mundo, mesmo quando tem gente que, por ter um pouco a mais, não nos trata bem. Alguns que vêm aqui no cemitério contratar o serviço e não pegam nem na nossa mão. Por nojo, por medo de pegar uma bactéria, alguma coisa. Mas quando morrer, vão para onde?”, ironizou o homem. Provavelmente irão para os cuidados de Igor.

O homem se orgulha do trabalho, que já lhe forneceu uma casa própria e um carro, “prestes a ser quitado”. “Não penso em fazer outra coisa. Eu gosto de mexer na terra, dessas coisas de jardinagem. Me fazem bem”, disse.

Próximo ao dia de finados, Igor relata que o ritmo do trabalho aumenta bastante e a movimentação é bem maior. “Já tem uns dois dias que começou a ter muito mais gente por aqui trazendo flores para enfeitar os túmulos, mas aqui é sempre cheio”.

Saiba Mais 

  • O horário de funcionamento dos cemitérios do Distrito Federal será esticado
    As portas dos locais se abrem a partir das 7h e as atividades se encerrarão às 19h
  • Haverá distribuição de material informativo e formulários, por meio dos quais a população pode registrar críticas e sugestões
  • A partir de levantamentos feitos nas datas do feriado em outros anos, a Secretaria de Assuntos Funerários estima 500 mil visitantes os cemitérios no sábado

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