Medo faz mulheres apelarem para spray de gengibre e tasers
Lojas esgotaram seus estoques na última semana. Cada produto custa R$ 129
Vanessa Lippelt
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As mulheres do Distrito Federal estão com medo e estão se armando após vir à tona a série de mortes e estupros cometidos por Marinésio dos Santos Olinto, assassino confesso de Letícia de Sousa Curado e Genir Pereira de Souza, e João Marcos Vassalo da Silva, que violentou sexualmente e matou Pedronila da Silva, no dia 1º de setembro.
“A gente costumava vender de 3 a 4 sprays de gengibre por mês. Nosso estoque acabou em um semana, conta o vendedor de uma loja de equipamentos táticos na Feira dos Importados, Paulo Nascimento, de 35 anos.
“Na última semana passamos a vender dez unidades por dia e todos para mulheres, que levam dois frascos, para mãe e filha.” Spray e taser custam R$ 129 cada.
Em um outro comércio de material tático, também na feira, o vendedor conta que houve um aumento de mais de 50% nas vendas de spray de gengibre e tasers. “Nosso estoque acabou há uma semana. Vamos pedir o dobro para atender a demanda”, conta Jeol Raulino, de 26 anos, que há 6 trabalha no ramo. “Entre o taser e o spray, o segundo é mais eficiente e tem mais procura porque você não precisa de contato físico. Alguns têm alcance de 1,5 a 3 metros e você consegue atingir o agressor de longe.”
Raulino explica ainda que a diferença entre o spray de pimenta – de uso exclusivo de órgãos de segurança – e o de gengibre é que o primeiro agride a retina. “Mas ambos têm a mesma eficácia”, pontua.
Durante a entrevista, o Jornal de Brasília flagrou duas mulheres comprando as duas últimas unidades do produto. Alessandra de Andrade Alencar de Coelho, de 42 anos, chegou à loja acompanhada do marido e em busca de segurança. “Eu estou apavorada”, diz ela. “Eu estou comprando para a minha filha que tem 16 anos e vai sozinha para a escola, utiliza Uber. Em toda a minha vida eu nunca me senti tão ameaçada”, reforça ela que diz que os últimos casos envolvendo os criminosos Marinésio e João Marcos foram decisivos para adotar um dispositivo de segurança.
A estudante A.R, de 34 anos também foi à loja em busca da segurança que, de acordo com ela, a polícia não dá. “Eles não dão conta. Eu já fui assaltada duas vezes em frente ao Iesb e ao IMP, na Asa Sul”, desabafa ela. “Me sinto frágil diante dessa violência contra nós mulheres. Vim comprar um spray porque mesmo que eu tivesse uma faca eu não sei se conseguiria usá-la. O spray é o que tem disponível no mercado.”
Vendas nas redes
Num grupo que reúne mulheres no Facebook, um anúncio de venda de taser provocou um corre-corre atrás da vendedora para garantir o equipamento. “A procura está muito grande”, conta a vendedora Alice Gomes. “Muitas mulheres desaprovam o uso de arma de choque porque a lei não é muito clara sobre o assunto e muitas aprovam se proteger. O que percebo e que a maior parte que aprova ja sofreu algum assalto ou ataque nas ruas”, conclui ela.
Durante os dois dias em que o anúncio ficou publicado na página do Facebook, Alice não parou de receber pedidos. “Eu estou com encomendas de mais ou menos 50 para entregar assim que a mercadoria chegar”, conta ela. “Eu estou com encomendas de mais ou menos 50 para entregar.”
O que a lei diz
O spray de gengibre é usado para defesa pessoal e autorizado pelo Exército Brasileiro. O produto tem validade de cinco anos.
O artefato deve ser usado em situação que ofereça risco à integridade física da pessoa como agressão, estupro, violência doméstica ou roubo, quando o agressor não estiver armado.
Armas de choque, via de regra, são controladas pelo Exército. No entendimento do Ministério Público do Rio Grande do Sul, o taser é“ um artefato controlado, de uso restrito, que só é possível de ser adquirido pelas forças armadas e de segurança pública.”