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Brasília

Dia do Meio Ambiente: Cerrado tem 130 espécies de animais ameaçadas de extinção, diz professor

O Cerrado sofre forte ameaça devido à certas intervenções humanas como a expansão agrícola e as queimadas

Agência UniCeub

05/06/2020 18h23

Por Mayra Christie 
Jornal de Brasília/Agência UniCeub

Pelo menos 130 espécies de animais estão ameaças de extinção no Cerrado. Nesta sexta (5 de junho), Dia Mundial do Meio Ambiente, professores e pesquisadores da área ambiental têm mais razões para preocupação do que para celebrar a data. O bioma é o segundo maior em área (2 milhões de km²) no país.  Cerca de 20% das espécies de animais presentes no Cerrado são exclusivas do ambiente.

“Isso levou o Cerrado a ser declarado um hotspot de biodiversidade pela União Internacional pela Conservação da Natureza”, atenta o professor de zoologia da Universidade de Brasília, Eduardo Bessa. A região tropical é o maior foco de biodiversidade no mundo. São quase 200 tipos de mamíferos e mais de 800 espécies de aves, além de 150 espécies de anfíbios, 180 répteis e mais de 1200 espécies de peixes e 90 mil espécies de insetos. “Entre algumas espécies emblemáticas temos a Seriema, Lobo-guará, Arara canindé, Tamanduá bandeira, Ema, Tatu canastra, Coruja buraqueira, o lagarto teiu e o sapo cururu”, completa o professor.

Foto: Edson Faria Júnior

Serviços Ecossistêmicos 

Hoje a importância dos seres vivos dentro do conceito de Serviços Ecossistêmicos já é considerada e reconhecida por cientistas. “Esses serviços se dividem em provisão (coisas que utilizamos e retiramos dos animais), regulação (efeitos da existência daquele animal no ambiente), cultural (utilizações dos animais em manifestações culturais regionais ou artísticas) e suporte (interações daqueles animais sobre outros organismos dentro do ambiente)”, esclarece o professor Eduardo Bessa. Os exemplos desses serviços vão desde a criação de algumas espécies para extração de carne ou apreciação de uma trilha ecológica à controles de algumas populações, como por exemplo, as de cupim praga, através dos tamanduás e as de ratos transmissores de hantavirose através de cascavéis e corujas. Eduardo também ressalta os serviços prestados entre os próprios animais. “Quando um tatu cava uma toca que depois será ocupada por uma família de corujas buraqueiras que irá dizimar os ratos de um lugar, estamos vendo um serviço de suporte”, completa. 

Desmatamento e Queimadas

Apesar do reconhecimento, o Cerrado sofre forte ameaça devido à certas intervenções humanas. Como explica Eduardo, a expansão agrícola e as queimadas, que, de acordo com o professor, estão frequentemente ligadas à agricultura, são os principais fatores que influenciam no agravamento do quadro. “Mais da metade desse bioma já foi perdido devido às plantações, principalmente para pastagem e produção de soja, milho, e cana de açúcar”, explica Eduardo, que também chama atenção às barragens alagando amplas áreas e o uso de água dos rios e lençóis freáticos como uma nova forma de agressão ao ambiente. 

Tais condições, hoje, estão diretamente relacionadas às mais de 130 espécies ameaçadas de extinção no bioma. “Existem 137 espécies de animais típicos do Cerrado ameaçados de extinção, segundo a lista vermelha de espécies ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente”, conta o professor de zoologia. Eduardo Bessa explica que, destes, 80% correspondem a mamíferos e aves, mas que peixes e insetos não estão isentos das ameaças. O  lobo-guará, o tamanduá-bandeira e tatu canastra, são algumas das espécies famosas na lista. 

Foto: Andrea Bohl

Para Antônio Nobre, professor de Agricultura e Meio Ambiente, também na Universidade de Brasília, quanto maior a perda de habitats, maior é o número de espécies de animais extintas, o que ameaça também a vida humana. “A erosão dos serviços ecossistêmicos de sustentação, devido ao  alto percentual de supressão da vegetação nativa (desmatamento), o uso indiscriminado de agroquímicos (agrotóxicos, fertilizantes sintéticos solúveis), o processo de urbanização desordenado, são exemplos de atividades antrópicas que colocam em risco a vida dos animais, e também a nossa”, explica o professor. 

Papel do Estado

Embora a preservação do Cerrado seja responsabilidade de todos, Eduardo Bessa salienta a importância do papel do Estado nesse processo. “Criar e fazer valer, por meio da fiscalização, uma legislação que proteja o Cerrado é fundamental. Isso irá frear a perda da vegetação que acompanha os rios e as encostas de morros, evitar o desaparecimento de rios e lençóis freáticos, coibir a caça, o tráfico de animais e o desmatamento”, sugere. O professor também ressalta que o governo tem o papel de implementar e proteger unidades de conservação, e que apenas 3% da área do Cerrado está protegida nessas unidades. “Quase metade das espécies animais presentes no Cerrado buscam refúgio dentro desses parques”, acrescenta. 

Preservação 

Existem muitas ações em curso visando a preservação do Cerrado. Eduardo bessa cita como exemplos a ONG Save Cerrado, que, além de dar treinamento, faz cálculos para estimar o volume sustentável de exploração de plantas do Cerrado, e a WWF, com seus investimentos no manejo integrado das unidades de conservação do Cerrado.  

No último dia 20 a secretaria de meio ambiente do DF sancionou uma lei distrital que permite o pagamento de proprietários rurais do DF que mantenham a qualidade da água, do solo e realizem extrativismo sustentável do cerrado em suas terras. 

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