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Brasília

Dia de Combate ao Fumo: uma questão de sobrevivência

Arquivo Geral

29/08/2018 7h00

Atualizada 28/08/2018 22h10

Foto: Francisco Nero/Jornal de Brasilia

Rafaella Panceri
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O Distrito Federal marca mais um Dia Nacional de Combate ao Fumo com uma taxa de fumantes abaixo da média nacional. Enquanto 12% das pessoas são dependentes do cigarro no País, o percentual é de 10,7% no DF. No ano passado, 2,1 mil pessoas procuraram ajuda para abandonar o tabagismo em hospitais e postos de saúde da região. Entre elas, mil conseguiram, de acordo com a Secretaria de Saúde — índice de sucesso de 48%. Especialistas explicam que a tendência é nacional, mas alertam para o acréscimo de 31,2 mil novos casos de câncer de pulmão no País. A indústria tenta se adaptar ao novo cenário com oferta de outros tipos de cigarro, como o eletrônico, e a fiscalização da Vigilância Sanitária no comércio local aplica multas de até R$ 1,5 milhão a quem descumpre a Lei Antifumo.

Fumante há 40 anos, a técnica em informática Carla Carvalho, 54, começou por diversão e por considerar o hábito bonito. “Depois virou um vínculo social. Fumava enquanto encontrava pessoas e conversava”, relata. Um amigo sugeriu que ela parasse pela primeira vez. Foram várias tentativas, sem êxito. “Parava e voltava. Há dois meses, procurei um médico por vontade própria. Já tive fragilidades na saúde”, admite, e destaca as mudanças que já observa: “A pele está com cor e textura mais saudáveis. O paladar e o olfato melhoraram”.

Carla trocou um maço de cigarro diário por dois cigarros de palha por dia. “Por ter que fazer o cigarro à mão, artesanalmente, dificulta um pouco. Há apetrechos que preparam para você, mas dependendo da maneira, podem até dificultar a queima do tabaco e a passagem da fumaça”, explica Carla. Além de diminuir a quantidade de cigarros, ela toma um medicamento prescrito por pneumologista. “Ele substitui as sensações de prazer sem gerar dependência. Então você vai abandonando o vício sem perceber”, complementa.

Custo do vício

Em um mês, Carla gasta em média R$ 170 com os comprimidos. Por outro lado, um tratamento para câncer de pulmão pode chegar a R$ 500 mil, segundo o médico oncologista Arilto Silva Júnior. Outro segmento que lucra com o hábito é a indústria tabagista. O Brasil é o maior exportador de tabaco em folha do mundo, com 481 mil toneladas encaminhadas para 100 diferentes destinos e US$ 2,1 bilhões de faturamento em 2017. Os números são semelhantes a 2016, conforme o Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco). O País controla entre 18% e 20% do mercado global em termos de receita — US$ 11,3 bilhões por ano.

Em todas as unidades da federação, o desafio da indústria é se adaptar à redução no consumo. Para a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), a queda é tímida — da ordem de 1,4% — e vem sendo sufocada pela intervenção antitabagista do governo, “por meio de medidas diretas de restrição ao uso ou de tributação”, afirma a entidade no Anuário Brasileiro do Tabaco de 2017. “Haverá elevação do uso de substitutos, como “cigarros vaporizadores” e outros métodos de liberação de nicotina”, prevê.

Cigarros comuns, eletrônicos, de palha, charutos, cachimbos e narguilés estão relacionados a doenças graves, como o câncer, mas também matam por infarto e acidente vascular cerebral. De acordo com a Saúde do DF, o tabagismo é responsável por 12% de todas as mortes por doenças cardíacas. Entre as cardiovasculares, só fica atrás da hipertensão arterial como causa de óbitos. O oncologista Arilto Silva Júnior alerta para os perigos do tabagismo passivo, “que aumenta em 30% os riscos de desenvolver câncer”, cita, e destaca um estudo recente da Universidade de Harvard sobre o tabagismo “de terceira mão”. Segundo a pesquisa, r o cigarro deixa resíduos no ambiente por mais de 30 dias. “Nas cortinas, paredes e papel de parede”, explica o médico.

Apesar da redução do número de fumantes, a expectativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é que o Brasil registre 31,2 novos casos de câncer no pulmão em 2018. “Hoje há mais gente com longos anos de fumo no País. Isso, somado ao envelhecimento, se converte em mais casos. Novas tecnologias possibilitam mais diagnósticos”, analisa o oncologista.

Os jovens merecem atenção. “Trabalhos de conscientização nas décadas de 1980 e 1990 repercutiram nas gerações seguintes, que ficaram mais atentas. Hoje, jovens de 15 a 20 anos talvez não se preocupem com as doenças ou não acreditem que elas são reais. Perdemos o medo”, sugere o médico. “O pensamento de que cada um faz o que quer com o próprio corpo é equivocado nesse caso. Você pode assumir o risco de se matar com o cigarro, mas não tem o direito de estender isso a outras pessoas”, analisa.

Saiba Mais

Além do câncer de pulmão, considerado o mais agressivo, o hábito de fumar pode causar câncer nos lábios, língua, faringe, laringe, orofaringe, base de língua, esôfago, rins, bexiga e mamas.

Quando diagnosticado precocemente, há 90% de chance de cura.

Em estado avançado, a expectativa de vida vai de 6 meses a 2 anos. O tratamento na rede particular varia entre R$ 5 mil e R$ 500 mil.

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