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Brasília

Dia de Combate ao Fumo: existe, sim, uma saída possível

Arquivo Geral

29/08/2016 7h37

Divulgação/USP Imagens

João Paulo Mariano
Especial para o Jornal de Brasília

A manicure Clea Marques de Lima, 37, e a assistente social Elizabete Carcute, 54, têm em comum os muitos anos envoltas na fumaça do cigarro. A primeira fumou por 26 anos, e a segunda, por 17. As duas resolveram parar por entender que a vida que queriam levar não seria possível se o cigarro estivesse presente. Hoje, é lembrado o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Um tempo para pensar e entender os riscos e desvantagens de tragar as mais de quatro mil substâncias presentes em cada cigarro.

No DF, o percentual de fumantes caiu 40% em menos de uma década, mas voltou a subir ligeiramente: passou de 9,7% em 2014 para 11% no ano passado. O tabagismo é considerado uma pandemia pela OMS e a maior causa de morte evitável. A estimativa é de que um terço da população do planeta seja fumante e que morram cerca de 6 milhões de pessoas, a cada ano, por doenças relacionadas ao tabaco. Dessas, aproximadamente 600 mil eram fumantes passivas. Cerca de 170 mil morrem no Brasil com doenças ligadas ao tabagismo.

Clea Marques começou a fumar aos 20 anos por influência dos amigos e por achar que “era bonito”. Apesar de ter passado quase duas décadas no vício, ela reconhece que precisava parar e lembra da data com precisão: 1º de outubro de 2015. “No começo, eu achava legal, mas, com o tempo, quando fumava, passava mal. Havia um amargo na garganta”, lembra. A manicure era interpelada pelo filho, de 13 anos, para que parasse.

“Hoje, sinto o cheiro e o gosto das coisas. Eu tomava banho e passava perfume e era o mesmo que nada”, afirma Clea, que atualmente está grávida. Ela aconselha as pessoas a largar o cigarro. Umas delas é o marido, que abandonou os maços há quatro meses. “Eu respiro melhor atualmente. Quando fumava, não corria 25 minutos de esteira. Hoje, consigo”, explica.

Elizabeth Carcute começou a fumar aos 15 anos pelos mesmos motivos. Só parou há 13 anos, após passar por um programa do governo. “Eu tinha muita vontade, mas a dependência era muito grande. Foi aí que pensei em participar do grupo”, diz a assistente social. Como herança do vício, ela sofre de bronquite e asma.

Incontáveis malefícios

Conselheiro da Sociedade Brasileira de Cardiologia no DF, o cardiologista Lázaro Fernandes Miranda lembra que, além do câncer, o fumante tem mais chances de adquirir doenças cardiovasculares, enfarte e acidente vascular.
Segundo ele, zerar os malefícios leva o mesmo tempo do período de vício. “De imediato, você já sente uma melhora na capacidade do sistema cardiovascular, pois interrompe o processo de piora. Quanto ao câncer, você atenua, mas não retira a possibilidade”, garante.

O paciente pode ainda ser diagnosticado com enfisema pulmonar, que é gradativa e pode levar a pessoa a depender de cilindros de oxigênio pelo resto da vida. Sendo muitas vezes necessário o transplante de pulmão – o que, para adultos, é algo ainda mais complicado. O cardiologista lembra que o sangue de quem é fumante é “mais grosso” devido à intoxicação da hemoglobina pelas toxinas. Isso pode gerar coagulação mais fácil e entupimento das veias.

O médico considera que as campanhas contra o tabagismo são vitoriosas no País.

Superação se torna exemplo

Elizabeth, que agora trabalha no Centro de Saúde 1 de Taguatinga ajudando pessoas a largar o cigarro, precisou da ajuda de um desses grupos há 13 anos. A assistente social se sente como um incentivo para os que chegam e sempre conta sua história. Um grupo de 20 pessoas é formado todo mês em vários centros de saúde para que recebam ajuda médica. Em geral, o trabalho é feito por um ano com encontros, remédios e adesivos de nicotina.

Após esse período, a pessoa é acompanhada por telefone por mais um ano. Se houver recaída, ela é convidada a voltar para o grupo. De acordo com Elizabeth, cerca de 40% das pessoas voltam. Só no centro de saúde em que a assistente social trabalha, já foram 93 grupos. “Sou uma pessoa que está perto, não um personagem distante. Fico satisfeita porque consigo passar a mensagem”, afirma.

O cardiologista Lázaro Fernandes indica aos que querem abandonar o vício a procurar um profissional que possa auxiliar, em especial em períodos de abstinência. Ele expõe que é preciso ter cuidado com o narguilé e os cigarros eletrônicos, pois ambos fazem mal à saúde. “A pessoa se sentirá tão bem que não vai querer voltar”, garante.

Saiba mais

Dados da Secretaria de Saúde referentes ao primeiro semestre de 2016 indicam que 2.139 pacientes iniciaram o tratamento para parar de fumar. Destes, 1.783 fizeram uso de medicação e 1.178 conseguiram abandonar o vício.

Na rede pública do DF, 59 unidades de saúde atendem ativamente pacientes que querem parar de fumar, sendo 10 com agenda aberta (sem fila de espera).

As pessoas que desejarem auxílio para deixar o cigarro podem procurar o posto de saúde mais próximo e buscar informações sobre o grupo de ajuda.

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