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Brasília

Dia das Crianças: referência na história de Brasília, Parque da Cidade passa por gerações

Arquivo Geral

12/10/2018 7h00

Foto: ayra Paiva Franco/Jornal de Brasília.

Rafaella Panceri
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O Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek faz parte da vida dos brasilienses há quatro décadas. As ciclovias, os gramados e ícones como o brinquedo em formato de foguete do parque Ana Lídia compõem o cenário de narrativas que perpassam gerações. Este ano, o 12 de outubro deve levar 40 mil pessoas ao parque, por conta do Dia das Crianças. Entre outros cantos a reunirem famílias inteiras, as churrasqueiras e as proximidades do lago estarão cheias. O que não falta é amor do brasiliense pelo parque, algo que transpira em histórias contadas por alguns frequentadores.

Do namoro ao casamento, a roda-gigante do Nicolândia – um parque dentro do Parque da Cidade – é uma referência no relacionamento de Fernando dos Santos Dias, 29, com a mulher. Em 2011, com quatro meses de namoro, eles foram ao local pela primeira vez. “Saímos da Cidade Estrutural em um grupo de oito casais, no Dia dos Namorados, para ir ao parque. O passaporte da alegria estava na promoção e eu achei uma boa ideia levá-la à roda-gigante”, lembra.

Este ano, chegou a vez de os dois levarem o filho para brincar no carrossel. “É a minha primeira vez aqui como pai”, conta Fernando. “Me lembro como se fosse ontem do dia em que trouxe minha esposa aqui. Ficou na história.”

Em família

A família não foi sozinha. Levou a matriarca, Maria de Fátima dos Santos, 49, para passear com outros quatro netos. Dona de casa, ela lembra que frequentava outra área do Parque da Cidade: a piscina de ondas.

“Ia para lá com a turma da escola e no fim de semana. Fui diversas vezes com a família. Naquela época, o ingresso era baratinho”, recorda. Moradora de Ceilândia, ela não chegou a levar os filhos ao parque quando eles eram crianças. “A vida passa muito rápido. A gente vive ocupada, mora longe e se esquece”, justifica. “Ainda bem que eles puderam vir depois de adultos.”

Os anos se passam, mas o ponto de diversão é o mesmo. Maria de Fátima dos Santos, sua filha Samara dos Santos Reis e seus netos se divertem no parque. Parque da Cidade. Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília

Maria de Fátima lembra com saudosismo a piscina pública, maior atração dos dias quentes da cidade décadas atrás. “Parecia um mar mesmo. As ondas iam e vinham, te levavam. Uma pena meus netos não terem visto aquilo, porque era muito gostoso.”

Volta à infância

Filha de Maria de Fátima, a dona de casa Samara dos Santos Reis, 18, acompanhava a família no Nicolândia na última terça-feira (9) e confirmou que, quando criança, não frequentou o Parque da Cidade. “Tive essa chance quando trouxe a minha filha no Ana Lídia para brincar no foguete pela primeira vez, no ano passado. Ela adorou ficar ali, na terra. Me senti um pouco criança também”, relatou.

Leia também: Saiba o que fazer com os pequenos no Dia das Crianças

Outro adulto que trouxe à tona a infância no Nicolândia nesta semana foi o promotor de justiça Leonardo Bandarra, 52. Ele se mudou para a capital aos 15 anos e era fã do tobogã, brinquedo que ficou famoso no parque por vários anos seguidos. “Era o mais legal de todos, mas fechou”, recorda. “Hoje o parque é uma das melhores opções para os meus filhos. Eles mesmos me pediram para vir, depois de ver as luzes da roda gigante acesas. Tive de subir junto. A altura é significativa e ela [a roda gigante] para lá no alto por alguns minutos. Venta bastante.”

Dentro do Parque há os parquinhos

Morador de Taguatinga, o professor Jucélio Alves, 46, considera o parque Ana Lídia “um monumento de Brasília”. Nesta semana, sua filha Maria Fernanda, 5 anos, fez a estreia no parquinho. “O foguete do Ana Lídia faz parte da história do brasiliense”, diz. “Qual a criança que não quer brincar nele?”

Maria Fernanda, conta o professor, gosta das brincadeiras ao ar livre. “O fato de muitas crianças preferirem o celular à natureza não é somente culpa delas”, avalia. “Muitas mães e pais priorizam a facilidade de ter o filho quieto, sob controle, de olho na tela, mas com certeza brincar solto, na areia, é uma coisa deles. Eles preferem assim.”.

Pais levam os filhos para aproveitar as tardes no parquinho. Jucélio Alves, acha que as crianças preferem brincar livres em um parque ao invés de aparelhos eletrônicos. Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília

Outra frequentadora do Ana Lídia é a advoga da Marília Pimentel, 29. Mãe de uma menina de dois anos, ela acredita que o contato com a terra é benéfico para a saúde “Estimula os anticorpos. Tem de haver esse contato com o mundo exterior”, sugere. “Os brinquedos são excelentes para a coordenação motora dela. A brincadeira sai de graça, a estrutura é ótima, bem-conservada, e o ambiente é limpo”, descreve.

Pronto para o feriado

De acordo com a administração do Parque da Cidade, os eventos previstos para este feriado terão toda estrutura para acomodar o público infantil. Depois da recente reforma , o parque Ana Lídia também está pronto para receber a criançada.

Mesmo sendo uma das atrações mais concorridas em datas comemorativas, o Ana Lídia andava praticamente abandonado. “Foram mais de 10 anos sem reformas”, lembra o administrador do Parque da Cidade, Alexandro Ribeiro.

“Além de um trabalho de recuperação da estrutura, com duas reformas nos últimos três anos, pudemos promover o sentimento de pertencimento dos moradores de Brasília com o local”, resume. “O Ana Lídia estava sendo pouco utilizado. Reformamos os brinquedos, fizemos uma pintura geral, recuperamos a parte elétrica de iluminação pública e os banheiros. Um bom equipamento público promove o melhor uso e gera essas histórias de longa data. Nesse feriado, as crianças criarão novas histórias com seus pais e avós”.

Ponto de Vista

No Dia das Crianças, o convite para brincar se estende aos adultos. Para Cristiano Alberto Muniz, professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, a brincadeira faz parte do processo de aprendizagem.

“Todo ser humano vive para aprender. Criança só aprende se brinca e, quando brinca, está em um processo de plena aprendizagem”, destaca. “Ao brincar, ela se permite aceitar desafios, construir esquemas mentais e superá-los. O adulto não se permite isso porque não brinca. Tem receio de se lançar. Teríamos melhores adultos na sociedade atual se eles se permitissem continuar brincando, aceitassem desafios e interagissem de maneira plena com o mundo lúdico.”

Para o professor, favorecer a brincadeira aos pequenos é investir “na formação de indivíduos mais críticos, integrais, criativos e éticos.”

Saiba mais

Nem tudo são flores. Nesta quinta-feira, quando o Parque da Cidade completou 40 anos da inauguração, o Jornal de Brasília mostrou que o estado de conservação do maior parque urbano da América Latina – e segundo maior do mundo – sofre com vandalismo e mau uso. Confira: Parque da Cidade chega aos 40 anos com sinais de abandono.

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