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Brasília

Depressão: amadurecimento não exime idosos da doença

Preconceitos são obstáculos; conheça onde ter tratamento no DF

Agência UniCeub

02/09/2019 10h00

Imagem: Pexels / pública

Por Catarina Chaves e Roberta Stuckert
Jornal de Brasília/Agência UniCEUB

A perda da fala, sequelas motoras e mentais, além de uma sequência de lesões devido a um acidente vascular cerebral (AVC), fizeram com que Tereza* sofresse de depressão. Com apenas uma filha menor de idade e, por isso, não a visita com frequência, ela passa boa parte da vida carente desse amor e do vínculo familiar. Ela está acolhida na instituição pública e social Vila do Pequenino Jesus, no Lago Sul. Mas a situação de saúde a tornou agressiva e a deixou sem vontade de viver, segundo profissionais que cuidam dela no local. As oscilações de humor fazem com que ela não consiga mais comer, muito menos, conversar com quem tenta se aproximar, seja para cuidados diários ou para fazer as rotinas de higiene.  

Casos como o de Tereza trazem à tona que o diagnóstico da depressão no idoso, muitas vezes, é difícil. Preconceitos relacionados à velhice e às doenças mentais dificultam o acesso dos pacientes a um tratamento adequado. Mesmo assim, é uma das doenças mais frequentes em idosos e, na maioria das vezes, segundo especialistas, os sinais já estão presentes no decorrer da vida. Mas, nessa fase, a pessoa está mais vulnerável em termos de saúde física e mental, como foi o caso da idosa De acordo com a mais recente Pesquisa Nacional de Saúde (2013), mais de 11 milhões de brasileiros sofrem com a doença. Quando agrupados por faixa etária, os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram onde o problema é mais grave: a faixa dos 60 a 64 anos lidera o ranking, com 11% dos diagnosticados entre todas as faixas etárias. 

É muito comum encontrar idosas que tiveram problemas ao longo da vida, ou que foram abandonadas pelos familiares e se encontram em situações de depressão, dependendo às vezes até mesmo de medicações para crises que costumam surgir. Sônia Ferreira Pinto*, que também está na instituição pública, é um exemplo dessa superação. Com 64 anos de idade e quatro livros já publicados, a idosa explica que  a história dela é cercada de sofrimento físico e psíquico, o que desencadeou a doença que hoje se trata.

Aos 8 anos de idade, Soninha, como gosta de ser chamada foi diagnosticada com paralisia infantil. Desde então, a vida nunca mais foi a mesma. Em decorrência dessa doença, os pais a abandonaram em um orfanato em Londrina (PR) e ela nunca mais teve contato com a família. Como nunca foi adotada, passou muito tempo dentro deste lar para crianças abandonadas e, aos 13 anos de idade, neste mesmo lugar, foi violentada sexualmente. Na maioridade, teve que ir trabalhar em uma boate. Como não se conformava com a exploração sexual, na idade adulta,, mudou-se para um lar de freiras, chamado “Toca de Assis”, também no Paraná. Mesmo assim, não conseguia colocar a tristeza de lado.

No entanto, não tinha como ficar lá por conta que precisava de mais recursos em função da paralisia. Resolveu pesquisar na internet um lugar que daria a atenção e os cuidados necessários, também de forma gratuita. Soninha encontrou a Vila do Pequenino Jesus, em Brasília, “no dia 22 de junho de 2012’, lembra como se fosse hoje. Por isso,  resolveu se mudar para Brasília, pois a depressão de uma infância sofrida estava tomando conta de sua mente e do corpo. “Meu pai, quando eu nasci, me tratava como uma princesa, mas mesmo assim, ele não pensou duas vezes ao me abandonar quando descobrimos que eu estava doente. Não conseguia acreditar na época, e desde então sofro de depressão”, relembra com os  olhos cheios de lágrimas. “Eu só queria ficar na cama e chorar. Não comia e não queria ver ninguém”. Mesmo com todo o carinho e atenção que recebe do lugar em que vive hoje, ela nunca conseguiu superar essa fase da vida. té hoje, precisa tomar remédios para se tratar da depressão.. Em meio ao tratamento, Soninha encontrou uma forma de lidar com a doença: escrever livros sobre a trajetória de vida

Tratamento na ‘vila’

A Vila é uma instituição social especializada em pessoas acamadas e de difícil locomoção que necessitam de cuidados médicos, sendo a única de Brasília a receber pessoas que precisam de um pouco maior de atenção. Os mais de 60 acolhidos, entre eles idosos e crianças, contam com os cuidados diários de voluntários e funcionários que trabalham para o bem estar dessas pessoas, tendo o apoio de duas psicólogas e do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), eles fazem a seleção de quem irá receber o amparo do lar. 

Segundo a psicóloga da instituição, Thaiane Siqueira, é complicado fazer um diagnóstico exato de quem está com depressão por serem muitos os acolhidos e apenas duas profissionais. “Muitas vezes só conseguimos perceber pois estamos no dia a dia, ou então quando eles ficam mais calados e um pouco mais agressivos, como é o caso da Dona Tereza*“, relata a profissional sobre a história que abre esta reportagem. 

Acidentes no caminho

Dona Eleonor* é natural de Salvador (BA), e veio para Brasília aos 20 anos de idade ser babá na casa de uma família e melhorar as condições de vida. Com a mudança de cidade, até hoje ela não possui contato com a família de sangue. Depois de um tempo trabalhando com a “segunda família” (como ela chama o lugar que trabalhou), ela casou-se e resolveu viver apenas com o marido. Alguns anos depois eles acabaram se separando. Eleonor sofreu um AVC, e foi encontrada pela “segunda família” em condições críticas. 

Essa família também não tinha os recursos para cuidar dela, então resolveu levá-la  para a Vila do Pequenino Jesus. “Depois que eu vim pra cá, eu fico lembrando das coisas passadas, eu fico um pouquinho triste, mas eu não posso ficar pensando porque me dá vontade de voltar pra minha segunda família. Eu sinto falta deles”, desabafa Dona Eleonor.

Sintomas 

Segundo a psicóloga, mestranda em gerontologia, Fabiana Lima, os sintomas da depressão na terceira idade podem se apresentar da seguinte maneira: humor deprimido na maior parte do dia; acentuada diminuição de interesse ou prazer nas atividades diárias; perda ou ganho significativo de peso; insônia ou hipersonia; agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sentimentos de inutilidade ou de culpa excessiva; redução da capacidade de concentração e pensamentos recorrentes de morte. Ela relata que para ter um diagnóstico exato do Transtorno Depressivo Maior, a forma mais comum da depressão, é necessário que o idoso apresente, pelo menos, cinco ou mais sintomas anteriores por um período mínimo de duas semanas e acarretando prejuízos em áreas importantes da vida da pessoa. 

O aumento da incidência deste quadro em idosos vem ampliando as discussões entre profissionais da área, inclusive se há diferenças entre os sintomas da depressão neste público das demais fases do desenvolvimento, mas todos os sintomas acima colocados foram baseados em jovens saudáveis fisicamente, portanto, o uso de critérios para idosos poderia levar a um subdiagnóstico “devido a alta frequência de condições médicas concomitantes, à possível incapacidade cognitiva associada à idade, à ênfase dos idosos nos sintomas somáticos e cognitivos e aos múltiplos eventos de vida de adversos a que estão expostos”, explica. 

“Embora os estudos demonstrem um índice significativo de idosos com quadro depressivo, é importante desmistificar que tal ocorra como uma consequência natural de envelhecimento” conta a psicóloga. O quadro depressivo na velhice engloba diversas áreas da vida de um idoso, como o uso de diversos medicamentos que podem afetar a rotina diária, o uso abusivo de álcool também é outro aspecto que pode provocar os sintomas depressivos. 

Idosos com cuidados especiais estão mais propensos a terem depressão. No entanto, na?o necessariamente ou exclusivamente pela doenc?a apresentada; pois sa?o diversos os fatores que podem levar a um quadro depressivo. Idosos que te?m a necessidade de cuidadores geralmente ja? perderam sua autonomia, te?m um contato social mais restrito, uso de diversos medicamentos, entre outros. 

Convívio social 

O convívio social e a presença de um sentido para a vida são fatores importantes de prevenção, e a sua ausência, pode influenciar no desenvolvimento de um quadro depressivo. A presença e a paciência dos familiares são essenciais para o tratamento, especialmente com pacientes idosos. É importante que a família busque compreender as especificidades do idosos e, dentro do possível, busque manter a autonomia dele e a atenção é sempre o mais necessário. 

“Outro mito é esse de que à medida que a pessoa vai envelhecendo ela se torna incapaz ou volte a ser criança” segundo Fabiana. Debert (1999) relata que estudos sugerem que a tendência de que os idosos morarem sós não têm de ser, necessariamente, percebida como reflexo de um abandono por parte de seus familiares” (p.83).  A autora também afirma que viver com os filhos não representa também uma garantia de presença de respeito e dignidade e nem da ausência de maus-tratos. “De toda a forma, é importante que família busque compreender e dialogar com o idoso a fim de que se mantenha o seu bem-estar global” segundo mestranda. 

Como ajudar

O governo tem convênios com instituições sociais para amparar aqueles em situação de vulnerabilidade, mas mesmo assim esses lares ainda precisam de ajuda. As doações em dinheiro são fundamentais para o pagamento de algumas despesas, como remédios e funcionários, por exemplo. A ajuda também pode ser depositando um valor mensal cadastrando o cartão de crédito ou por boleto e todos os meses debita automaticamente o valor desejado para auxiliar esses lares.

Existem outras formas de doações, como, fraldas descartáveis, material de limpeza e higiene pessoal, que têm um alto consumo e são de valores altos. Também é importante os alimentos, inclusive os perecíveis (carnes, frutas e verduras), que são fundamentais para saúde dos acolhidos. 

Vila do Pequenino Jesus: 

Endereço: SHIS QI 26 Chácara 27,  Lago Sul – Brasília – DF

Telefone: 3526-0506 

Site: http://viladopequeninojesus.com.br

Associação São Vicente de Paulo:

Endereço: Ae 10, St. D Sul Qsd – Taguatinga Sul, DF

Telefone:  3352-6202

Site: http://www.lardosvelhinhosdf.com.br/quem_somos.php

Casa do Candango: 

Endereço: Conj A S/N, Sgas Q 603 Q 602, Brasília – DF

Telefone: 3591-1051

Site:  http://casadocandango.org.br

Instituto Integridade: 

Endereço: SMPW  Trecho 3 Área Especial  nº. 01 e 02 – Park Way,  Brasília – DF 

Telefone: 3552-0504

Site: https://www.institutointegridade.org.br

Lar dos Velhinhos Bezerra Menezes: 

Endereço: Rua Quadra 14, Área Especial 1, Sobradinho – Sobradinho, Brasília – DF

Telefone: 3591-3039

Site: http://www.lardosvelhinhos.org.br

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