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Brasília

“Dança é um reencontro com minha alma”, diz criadora de grupo cadeirante

Com o isolamento social da pandemia, o grupo tem inovado e procurado novas propostas para as aulas

Agência UniCeub

21/09/2020 18h30

Mayariane Castro
Jornal de Brasília/Agência UniCEUB

“Foi um reencontro com a minha alma”. Esse é o sentimento da criadora do grupo de dança Street Cadeirante, Carla Maia. O Street Cadeirante é um projeto social de dança voltado para pessoas cadeirantes criado em março de 2018 e que se expandiu brevemente na pandemia ao proporcionar aulas on-line de graça para todo o Brasil.

Com o isolamento social da pandemia, o grupo tem inovado e procurado novas propostas para as aulas. Carla conta que todo mês um novo profissional os ensina, já que o grupo não possui coreógrafo fixo. “Esse mês a gente está com Eduardo Amorim, professor de danças urbanas aqui em Brasília, e mês que vem a gente vai ter uma profissional do Rio de Janeiro que dá aula de musicais”, informa a gestora do Street Cadeirante.

Confira a entrevista completa abaixo

Como surgiu a ideia do projeto?
Carla Maia: Eu dançava antes de ser cadeirante. Quando eu fiquei cadeirante, fiquei tetraplégica com 17 anos, eu queria muito ter o prazer de voltar a dança e eu comecei a procurar lugares para fazer aula, fiz dança de salão e não gostei muito. Até que conheci um projeto nos EUA de uma cadeirante que me inspirou, ela dançava danças urbanas. Me matriculei em uma aula e gostei muito. Daí surgiu a ideia, conheci um professor experiente na época, a gente começou juntos o projeto, outros cadeirantes surgiram e eu chamei outros para participar e assim surgiu o Street Cadeirante. Hoje não temos um coreógrafo fixo, temos vários coreógrafos no grupo.

Saiba mais sobre o grupo 

Confira mais imagens do Street Cadeirante

Qual foi o ponto de partida para tirar a ideia do papel?
Carla Maia: A minha vontade de voltar a dançar. Quando eu achei o prazer de novo, eu chamei outras amigas que também queriam voltar a dançar e elas toparam, tudo isso serviu de gatilho.

Você teve apoio de familiares e amigos? O que eles acharam da ideia?
Carla Maia: Sim, os amigos sempre apoiaram, achavam legal de ver as apresentações da gente. Os familiares também, mas foi uma coisa muito despretensiosa. A minha ideia era só voltar a me divertir e ser feliz dançando, quando o grupo começou a funcionar e a gente começou a ser chamado pras apresentações, a gente nem acreditava. Daqui a pouco, a gente estava indo em eventos importantes em Brasília e foi tudo muito rápido.

O que você sentiu após a primeira aula do grupo?
Carla Maia: Quando comecei a ter aula, eu achei bem legal, eu me diverti sim e foi um reencontro com a minha alma, senti uma felicidade muito grande de perceber que cadeirante também dançava.

Qual foi a sensação que você sentiu com a primeira apresentação com o grupo já feito?
Carla Maia: Minha maior emoção foi depois da primeira apresentação do grupo e nem foi algo grande. Foi para os próprios alunos da academia da Juliana Casti e a gente fez uma coreografia. Ela pegou os alunos da academia para nos assistir e as pessoas bateram palma tão forte e levantaram para nos aplaudir que pra mim foi uma emoção muito forte. Eu chorei, me emocionei, não esperava que a gente estivesse dançando bem assim. Foi incrível.

Como funcionam os ensaios? Como são montadas as coreografias?
Carla Maia: Antigamente, os ensaios eram presenciais, uma vez na semana e a professora dava aula. Quando algum evento queria contratar uma coreografia nova, falava comigo e eu conversava com o coreógrafo e ele montava.

Você tem planos de expandir o projeto para mais lugares? Quais são os planos futuros do grupo?
Carla Maia: Sim, tenho vontade de expandir esse projeto mais em Brasília. Estamos com aula online gratuitas para todo o Brasil, quem quiser se inscrever pode procurar o instagram do grupo. Essas aulas devem ficar de graça ainda até dezembro e cada mês é uma proposta diferente com um professor diferente. Esse mês a gente está com Eduardo Amorim, professor de danças urbanas aqui em Brasília, e mês que vem a gente vai ter uma profissional do Rio de Janeiro que dá aula de musicais.

Eu queria muito estender isso para as cidades mais carentes de Brasília, queria começar em São Sebastião e oportunizar a dança para cadeirantes carentes também. Isso mudou muito minha relação com a minha qualidade de vida e acho que pode ajudar outras pessoas também e quem sabe exportar isso para o Brasil. Mas no momento só Brasília.

O Street Cadeirante é um projeto social, nunca pensei em me tornar bailarina profissional, eu quero dançar bem, quero que minhas amigas dancem bem, mas nunca pensei em fazer com que a gente virasse profissionais da área. Mas assim, quero continuar apresentando porque eu gosto muito de dançar, eu amo isso, mas eu quero estender o projeto para alcançar mais cadeirantes e carentes também. Então, minha proposta é oportunizar a dança para que mais pessoas tenham qualidade de vida e se sintam felizes, eu passo muitas mensagens de empoderamento, de possibilidade de que sim, é possível ter uma vida boa sobre rodas e que os sonhos se realizam.

O que você mais gosta em relação ao projeto?
Carla Maia: Além de dançar, o que eu mais gosto no projeto é ver a felicidade estampada na cara dos outros cadeirantes que participam. Fico muito feliz quando percebo que estou conseguindo proporcionar uma felicidade, um momento de encontro para eles, como eu disse que reencontrei minha alma. Uma vez uma amiga minha virou pra mim e disse “Meu filho viu a apresentação e disse ‘Mãe, você é meu orgulho’” e eu fiquei em êxtase.

O que a dança significa para você?
Carla Maia: Dançar para mim é um encontro comigo mesma, com a minha alma, com a Carla Maia que um dia foi andante. Têm muitos prazeres que tive que readaptar na vida pela cadeira de rodas, nem tudo é possível fazer, né? Eu gostava muito de praticar esportes e eu comecei a jogar tênis de mesa que era um esporte que eu não fazia. Mas, a dança é uma coisa que me conecta comigo mesma em todas as épocas da minha vida. O fato de ter menos movimentos não me impediu de continuar dançando de uma forma bonita e também não me impediu de ser muito feliz e ter prazer com isso. Então, é um reencontro de mim mesma comigo mesma, eu não deixo de ser quem eu sou porque fiquei cadeirante e isso é muito legal. Me sinto mulher, me sinto viva, cheia de energia. A dança me faz muito bem e é por isso que quero compartilhar isso com outras pessoas, para elas sentirem a mesma felicidade que eu sinto quando danço.

 

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