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Brasília

Cursinhos para concurso expõem crise no ramo

Arquivo Geral

03/12/2014 7h40

Os tempos mudaram para os cursos preparatórios para concursos públicos no DF. Os gigantes passam por   “readaptação” ante a recessão do mercado. O Gran Cursos teve queda de 40% nas matrículas neste semestre e precisou trocar as sedes do SIG e Taguatinga por locais com aluguel mais barato. Já o Vestcon  interrompeu as aulas sem aviso     e deixou muita gente indignada. 

“Cheguei hoje (terça-feira, 2) e descobri que não haveria aula”, revoltou- se a assistente administrativa Ana da Costa e Silva,   36 anos, em frente ao terreno da Vestcon da 906 Norte. “Há duas semanas vários professores foram embora dizendo que ‘se cansaram de ser éticos’, pois não recebiam salário há   meses”, relatou.

A sede da Asa Norte estava abandonada ontem.  Segundo um ex-funcionário da empresa, cerca de 70% do quadro foi demitido nas últimas semanas. 

“O próprio Ernani Pimentel (dono do cursinho) foi à sala de aula, algumas semanas atrás, dizer que a culpa era da crise financeira. Disse que haveria mudanças como mais videoaulas e apenas turmas com duração de quatro meses, mas agora não sabemos direito. Para mim, isso é má administração”, desabafou Ana. 

O curso dela começou em 23 de outubro e deveria ir até fevereiro, mas ela não sabe se isso vai ser possível. Junto aos outros alunos de sua classe, a mulher pretende buscar consultoria jurídica para saber quais medidas tomar.

Caso mais grave é o do vigilante Gilvandro Gonçalves,   42 anos. Morador de Planaltina, ele paga mensalidades para a filha de 19 anos frequentar a chamada turma Prodigium, com duração de pelo menos um ano. “Fiz o maior esforço para pagar mensalidades de R$ 400 com meu salário de R$ 1,5 mil”, revela. Segundo ele, problemas acontecem desde a matrícula da jovem.

“Ela saiu de casa muitas vezes às 5h para chegar aqui às 7h e não ter aula. Sempre o professor faltava e ninguém sabia o porquê”, contou o vigilante, que foi à sede da 906 Norte  para rescindir o contrato, mas não encontrou ninguém. “Vou cancelar os pagamentos junto ao cartão de crédito e procurar um advogado. Vou pedir danos morais. Desde que ela entrou aqui, só tive perdas”, lamentou.  O JBr. não conseguiu contato com a direção.

Como proceder
 
De acordo com Geraldo Tardin, presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), o aluno que se sentir lesado pelo cursinho ou suspeitar quebra de contrato deve notificar a empresa e aguardar dez dias por uma resposta. Caso ela inexista ou seja insatisfatória, a orientação é registrar reclamação no Procon e, paralelamente, entrar com ação no Juizado Especial para buscar reaver o dinheiro já investido. “O bom é ir à Delegacia do Consumidor (Decon), pois lá há profissionais treinados para lidar com isso”, finaliza. A Decon fica no Setor de Áreas Isoladas do Sudoeste, no Bloco D, e os telefones para contato são  3362-5634 e  3362-5935.
 
Estruturas encolhem
 
José Wilson Granjeiro, diretor- presidente do Gran Cursos, precisou deixar a sede no  SIG, onde esteve por   14 anos, parar se reestabelecer em um local de aluguel mais acessível. O mesmo acontece  em Taguatinga, onde o cursinho era mantido no Centro. 
 
De acordo com Granjeiro, a falta de publicação de editais nos últimos seis meses, aliada à Copa do Mundo e às Eleições, esfriou a abertura de novas matrículas e obrigou as empresas a cortar  custos. “Não há mais lugar para estruturas caras nesse mercado. Queremos oferecer a mesma qualidade em um espaço menor”, revela. As unidades do SIG e Taguatinga devem ser movidas para locais ainda não anunciados. Um deles, no entanto, deve ser na Asa Sul.
 
O diretor do Gran Cursos também cita “cursinhos de R$ 1,99” e aulões gratuitos como fatores que prejudicaram o segmento. “Há muita concorrência com a informalidade. E falta   um cronograma para  editais”, opina. Apesar disso, ele projeta um reaquecimento: “Devem surgir   500 mil vagas, só no Governo Federal, devido a  aposentadorias”.
 
Sistema lucrou, mas também não suportou
 
Proprietário da marca de cursinhos Adição e mestre em Economia, Germânico Monteiro  atribui os problemas atuais à mentalidade das grande empresas. “As estruturas são gigantes e   pagam muito aos professores. Não há quem aguente esse sistema. Conseguiram financiar isso por um certo período  por meio de empréstimos, mas isso virou uma bola de neve e muitos tiveram de fechar”, avalia.
 
Segundo ele, a inflação e outros fatores econômicos apertaram o cinto das famílias e obrigaram muitas a cortarem gastos. “Se antes as pessoas faziam dois ou três cursinhos por ano, agora só podem fazer um. Quando há endividamento familiar alto, o primeiro corte é o de coisas não prioritárias”, afirma.
 
Para o próprio negócio, ele diz estar em  expansão devido à decisão de enxugar as unidades. Em espaços menores e pagando “valores de mercado”, ele conta que estratégias como alocar grandes auditórios apenas para aulões  de provas importantes e investir em conteúdo on-line são saídas. “Como todo negócio, não há garantia alguma”, ressalta.
 

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