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Brasília

Crise faz brasiliense cancelar viagens no feriadão e esvazia hotéis

Arquivo Geral

28/05/2018 21h04

Pirenópolis. Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Rafaella Panceri
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O turismo do Distrito Federal e de municípios próximos como Pirenópolis (GO) sofre impacto da greve dos motoristas de caminhão. Em Brasília, a quantidade de cancelamentos de reservas de hotéis foi de 1.107, em 28 hotéis do Setor Hoteleiro Sul e Norte, desde a última quarta-feira (25), segundo a representação da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Distrito Federal (Abih-DF).

Os cancelamentos, segundo a presidente da associação, Adriana Pinto, são reflexo direto da paralisação dos caminhoneiros. “O desabastecimento impediu o turista de chegar a Brasília. Não é só o setor hoteleiro que sofre, mas toda a cadeia produtiva do turismo, como motoristas de táxi, bares e restaurantes”, analisa.

O setor não esperava um impacto tão expressivo nos negócios. “Imaginávamos que o desabastecimento causasse danos, mas não tantos. Foi avassalador”, define Adriana Pinto. “Caso a situação persista, não sabemos o tamanho do estrago. Fechar hotéis e liberar férias coletivas são alternativas possíveis”, aponta.

Setor Hoteleiro Norte. Foto: Oswaldo Reis/cedoc Jornal de Brasília

Turismo regional
Em Pirenópolis, a semana foi de hotéis e pousadas vazios. Segundo o secretário de turismo do município, Marcos Vieira, o movimento caiu bastante. Os proprietários de estabelecimentos já contabilizam os cancelamentos de reservas. Na pousada Ikabana, a taxa de desistências chega a 9%. Na pousada Cavaleiros dos Pireneus, a taxa de desistências é de 6%. “O fato de a lista de espera ser muito grande para o feriado não nos prejudicará tanto”, acredita o proprietário George Medeiros, também presidente da Abih-GO. “Brasília se beneficia porque Pirenópolis é bem próxima”, aponta.

Na pousada Villa Bia, uma das mais tradicionais da cidade, três clientes cancelaram reservas de última hora nesta semana. Porém, o proprietário Romeu Ferreira Borges está otimista com o feriado de Corpus Christi. “Quem vem a Pirenópolis já está se ajustando para isso. Vai perder uma hora na fila para abastecer o carro, mas virá”, acredita.

A taxa de ocupação da pousada está em 95%. “Todos os clientes já pagaram metade, mas se houver cancelamento vamos devolver 100% do valor. Não somos obrigados pelo Código de Defesa do Consumidor, mas entendemos que é uma situação excepcional e totalmente justificável”, declara.

Piri Bier

A expectativa da Secretaria de Turismo é que a greve acabe. “O quanto antes, para mais gente ter condições de visitar a cidade”, afirma o secretário Marcos Vieira. Ele acrescenta que Piri Bier, maior festival de cervejas artesanais do Centro Oeste, marcado para o próximo dia 30 de maio, pode ser prejudicado. “É um dos eventos mais importantes do calendário anual e traz uma alta na taxa de ocupação dos leitos, gera mídia espontânea e traz crescimento para Pirenópolis”, salienta.

A organização do Piri Bier informou, por meio da assessoria de imprensa, que o evento está mantido. “Não existe a menor possibilidade de cancelamento. Não sabemos como as pessoas irão chegar à cidade, mas sugerimos buscar alternativas como os ônibus de viagem”, informou a organização.

Piribier, evento de cervejas em Pirenópolis (GO). Foto: Divulgação

Apoio à greve
O hotel Pousada Mandala, em Pirenópolis, decidiu fechar as portas hoje e amanhã, em apoio à paralisação dos caminhoneiros. “Fizemos isso em solidariedade ao movimento que não é só deles, mas de todos os brasileiros que não aguentam mais ser explorados com tantos impostos”, defende o proprietário José Carlos Ruiz. “Um sacrifício momentâneo pode contribuir para uma mudança efetiva”, opina.

O hotel reabre na quarta-feira (30), com check-in a partir das 14h. Até hoje, hóspedes não entraram em contato para cancelar reservas. “Como nós, empresários, eles devem esperar mais alguns dias para ver se a situação se normaliza”, analisa. Caso o cliente solicite o cancelamento, receberá o valor integral de volta. “Não é justo com o hóspede que reservou com antecedência perder dinheiro por algo que foge do controle dele”, esclarece José Carlos Ruiz.

A última semana foi marcada pela baixa demanda por hospedagem. “Caiu bastante. Normalmente, nessa época do ano, vendemos pacotes para feriado prolongado com um mês de antecedência. Com essa crise no fornecimento de combustíveis, temos só 40% vendido para próximo. A última semana nos prejudicou muito”, conta.

Desistência
A família do engenheiro Igor de Oliveira, 24, precisou mudar os planos para o próximo feriado. “Eu e meu pai estávamos nos programando para ir a um festival agropecuário na quinta-feira e voltaríamos no domingo”, conta. A ExpoSanta acontece entre os dias 30 de maio e 2 de junho e é conhecida por movimentar o município de Santa Vitória (MG) com shows musicais gratuitos e rodeios.

“O motivo da viagem era diversão. Agora não vamos mais, porque não sabemos se vai ter combustível para voltar para casa”, lamenta Igor. “É muito arriscado ir, mesmo com o tanque pela metade. Não há sequer garantias de que terá combustível no meio do caminho”, reclama.

Saiba mais
A Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV Nacional) informou que está apreensiva com os efeitos cumulativos da greve. “Se não tivermos uma solução a curto prazo, todos arcaremos com prejuízos”. Algumas agências associadas reportaram à associação que o movimento de vendas parou desde o início da greve. “A procura, que vinha crescente para a temporada de julho, já estagnou. Temos reservas, mas ninguém quer fechar com risco de não embarcar”, afirmou a associação, em nota.

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