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Brasília

Crise faz aumento das mensalidades de escolas particulares recuar

Arquivo Geral

18/09/2018 7h00

Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília

Raphaella Sconetto
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Escolas particulares da capital iniciaram a corrida pelas matrículas para 2019. O novo ano, porém, traz a preocupação com os valores das mensalidades, já que o preço é reajustado anualmente. A previsão do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe) é de que as instituições de ensino sigam um acréscimo médio de 5%. O percentual confere com pesquisa feita pelo JBr.

Segundo o presidente do Sinepe, Álvaro Moreira, o reajuste deve seguir o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) da educação, que está atualmente em 5,08%. “Isso, de forma geral. Sabemos que tem escola que vai ter reajuste maior ou menor, a depender do contexto do estabelecimento”, pondera.

Moreira explica ainda que, antes de decidir os valores, as escolas precisam fazer uma planilha com gastos e despesas. “O principal item que nos preocupa é a folha de pagamento bruta: pagamento de salários, férias e todos os encargos trabalhistas. Isso corresponde até 60% de toda nossa receita. As escolas precisam observar isso muito bem”, aponta. “E não podemos desconsiderar a inflação do País, que deve fechar em 2% e 3%”, completa.

Diminuir para manter

“Ou as escolas definem um reajuste baixo, ou vão perder cada vez mais alunos”. A afirmação é de Luis Claudio Megiorin, advogado e presidente da associação de pais Aspa- DF. Atuante no cenário da educação brasiliense, Megiorin afirma que para o próximo ano a associação espera bons números. “Já tivemos notícias (do reajuste) de algumas escolas e ficamos surpresos”, comenta.

Segundo o presidente da Aspa, a média era de 10% a 15% de acréscimo nos anos anteriores. “Historicamente, as mensalidades superaram a inflação. Eles cobravam valores até três vezes a mais do IPCA, porque as escolas não eram comedidas. E isso nos mostra o que sempre suspeitávamos: as instituições sempre aumentaram além do que necessitam”, ataca.

Para Megiorin, parte do empresariado notou que é preciso baixar o preço para manter a clientela, já que com a crise econômica mais de 33 mil alunos migraram da rede particular para a pública só no ano passado. “Há uns cinco anos, os pais tinham reajustes salariais todos os anos. Hoje, esse aumento é inexistente ou mínimo. A escola pesa muito na decisão de um pai. Então, os donos têm de ter a visão de que precisam ajudar na economia”, aponta.

A esperança da Aspa é de que nos próximos dias mais escolas definam os seus reajustes baixos. “É bom para que os pais consigam manter os filhos na rede particular. Sabemos que a escola pública não tem condições de absorver a demanda com qualidade”, avalia.

Assunto velado

Embora muitos colégios tenham definido o reajuste de 2019, o assunto ainda é velado nas instituições. A reportagem procurou vários estabelecimentos de ensino, mas nenhum gestor quis comentar abertamente sobre quais foram os principais pontos na hora de definir os preços.

Conforme a pesquisa do Jornal de Brasília, as mensalidades de 2019 do Galois, por exemplo, vão variar entre R$ 2.040 e R$ 2.982 – quando comparado com este ano, os valores vão aumentar de 5% a 7,22%. No Colégio Ideal, de Taguatinga e Águas Claras, o reajuste médio foi de 6,9%. No Dínatos Seb, localizado na Asa Sul, o aumento foi de 9%.

No Centro Educacional Católica, o reajuste foi de 5,74%. As mensalidades serão a partir de R$ 1.022 na educação infantil e até R$ 1.486 no Ensino Médio. Contrariando as previsões, o Colégio Dom Bosco optou por não ter reajuste e manterá os preços: de R$ 994 a R$ 1.696.

Aperto no orçamento das famílias

A desempregada Aparícia Porto, 45 anos, afirma que sempre precisou readequar as contas de casa para manter a filha Vitória, de 11 anos, em escola da rede particular. Ainda mais agora, que ela está sem emprego. “Sinto que todos os anos tem aumentado mais. E todos os anos temos que tirar de um lado para colocar na escola. Muda o nosso planejamento do dia a dia, mas é necessário”, considera.

Para ela, a situação seria diferente se o ensino público fosse melhor. “Era para termos uma escola pública de qualidade, mas não temos. Assim não teria necessidade de pagar escola particular”, critica. “Nunca pensei em colocá-la em escola pública. Preferimos apertar para manter, porque acompanhamos as taxas do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e vemos todos os anos uma queda. Fica cada vez mais assustador”, lamenta.

“Sinto que todos os anos tem aumentado mais. E todos os anos temos que tirar de um lado para colocar na escola. Muda o nosso planejamento do dia a dia, mas é necessário”. Aparícia Porto, 45 anos, desempregada, com a filha Vitória, de 11 anos. Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília

Assim como a desempregada, a educadora física Priscila Ângelo, 38 anos, nunca pensou em tirar Pedro, 10 anos, da escola particular, apesar da mensalidade alta. “A prioridade na minha casa é a educação. Deixamos de fazer uma viagem mais cara, um passeio ou outra coisa, só para manter na escola particular”, relata.

Priscila acredita que o fato de Pedro ser filho único colabora para a saúde financeira da família: “Eu e meu marido trabalhamos, então, no momento, ainda não precisamos cortar muita coisa. Talvez, se fossem dois filhos, a gente teria que tirar da aula de inglês, por exemplo”. (Colaborou Lígia Vieira)

Saiba Mais

A Secretaria de Educação do DF não interfere nos valores das mensalidades das escolas particulares da capital. Em nota, a pasta informou que o papel é referente apenas à legislação educacional, ou seja, “ que envolve o processo de ensino-aprendizagem do estudante”. A expectativa da secretaria é de que em 2019 a rede absorva mais 30 mil alunos – sejam eles oriundos de escolas privadas ou que ainda não haviam ingressado no ensino.

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