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Brasília

Coronavírus: salões agonizam sem clientes

Após decreto do GDF fechando o comércio, profissionais temem ficar sem trabalho e falir

Redação Jornal de Brasília

23/03/2020 5h38

salão vazio coronavírus foto: cláudio py

Cláudio Py
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Após a implementação do decreto fechando estabelecimentos comerciais no Distrito Federal para amenizar o contágio do coronavírus, profissionais de beleza como cabeleireiros, manicures, massagistas e maquiadores viram-se sem clientes de uma hora para a outra.

“O meu emprego é a minha única fonte de renda. Não sei como farei para sustentar a minha esposa e meus dois filhos neste momento. Também preciso pagar todas as contas [luz, aluguel, telefone, água] e dívidas acumuladas. Se eu não trabalhar, fico sem receber um centavo. Estou desesperado”, afirma o cabeleireiro Gilmar Rocha, 59 anos, dono do salão de beleza Gilmar Cabeleireiro Unissex, localizado na QE 28 do Guará II.

Segundo ele, o movimento do salão despencou assustadoramente. “Em tempos normais, eu atendo em média 15 a 20 pessoas por dia. No entanto, só consegui cortar o cabelo de três clientes ontem. Isso me deixa bastante preocupado, mas seguirei trabalhando firme e forte”, complementou.

A manicure Lídia Ribeiro, 45 anos, também trabalha com Gilmar no mesmo salão. Para ela, as pessoas estão com medo de serem infectadas pelo coronavírus em salões de beleza, portanto, a situação tende a piorar nos próximos dias.

Questionados sobre a distribuição de R$ 200 mensais do governo federal para amparar trabalhadores informais durante o momento crítico, Gilmar Rocha e Lídia Ribeiro ponderam que a medida pode ajudar, mas não resolve o problema.

Fechar as portas

O dono do salão de beleza Zoom Hair Studio, Nélio de Oliveira Lima, 42 anos, afirmou que o estabelecimento provavelmente será fechado após a diminuição de faturamento de R$ 86 mil para R$ 20 mil. Segundo ele, a crise do coronavírus foi o maior desafio que já enfrentou em 22 anos de carreira. “O plano é sobreviver, não pegar o vírus, repousar em casa e esperar essa fase passar. (…) Estou disposto a fechar e entregar a loja para que eu possa recomeçar tranquilo, sem dívidas.”

A situação da maquiadora autônoma Kihara Rosa, 36 anos, também é complicada. “Estava com a minha agenda lotada até maio. Depois da publicação do decreto, praticamente todas as minhas clientes cancelaram o serviço comigo, o que me prejudicou bastante. Tenho 18 anos de carreira e nunca imaginei que isso poderia acontecer, não estava preparada. Por conta disso, vou entregar a chave do apartamento que alugo e irei me mudar para a casa da minha irmã. Além disso, provavelmente não conseguirei pagar todas as contas e ficarei devendo dinheiro”, afirmou.

O sócio-proprietário do Eliá Spa, Pedro Pinto Vasco, 45 anos, informou que a empresa investirá em um novo formato de serviço durante a pandemia, posto que todas as unidades físicas estarão fechadas a partir de hoje. “Vamos gravar vídeos diários ensinando como as pessoas podem levar um pouco do relaxamento e bem-estar do spa para dentro de suas casas”, disse.

Em contrapartida, a esteticista e massoterapeuta Edna Oliveira dos Santos, 37 anos, optou por diminuir o número de atendimentos para amenizar as chances de contrair o coronavírus. “Estou muito preocupada com esta crise porque não sabemos o que vai acontecer. Boa parte das minhas pacientes são aposentadas ou funcionárias públicas; também atendo empresárias que serão prejudicadas pela pandemia. A massagem é vista por muitos como algo supérfluo”, desabafou.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Salões, Institutos e Centros de Beleza, Estética e Profissionais Autônomos do Distrito Federal (Simbeleze), Célio Ferreira de Paiva, medidas estão sendo criadas para amenizar os danos dos profissionais da área da beleza durante a crise do coronavírus.

“Até o momento, tivemos algumas conquistas importantes, tais como a parceria entre o Fecomércio do Distrito Federal e o banco on-line DNV. Os profissionais filiados ao nosso sindicato terão empréstimo com carência de três meses e taxa de juros que chega a 0,8%. Isso pode gerar tranquilidade financeira aos trabalhadores, já que terão como pagar suas contas”.

Todos “precisam de renda”

O presidente da Simbeleze também afirmou que a diminuição dos valores de aluguéis dos filiados entre 30 a 50% é uma medida que pode ser aplicada nos próximos dias. “Ainda não está decidido, mas é uma demanda que estamos correndo atrás para conquistar.”

De acordo com o sindicato em questão, existem cerca de 19 mil salões de beleza no DF, compostos majoritariamente por microempreendedores individuais. Portanto, Célio Ferreira de Paiva defende a criação de novas medidas estratégicas para amenizar os danos financeiros dos profissionais da área da beleza. No entanto, ele reitera que o poder disposto ao sindicato é limitado à buscar soluções, e não executá-las.

O deputado distrital Fábio Felix (Psol) solicitou uma reunião à Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) para expor algumas recomendações para o Distrito Federal amenizar os efeitos da pandemia.

Assistente social, o parlamentar adiantou ao Jornal de Brasília que irá propor à pasta um plano de contingência de 90 dias para o setor, nos moldes do que foi feito para a saúde, com protocolos e padronização de atendimento em meio à crise do coronavírus. Para ele, é possível atender demandas de populações de maior vulnerabilidade em meio à calamidade pública, proposta pelo Executivo nacional e aprovada pelo Congresso na noite da última quarta-feira (18).

“Os desempregados precisam de renda, assim como os autônomos, que não têm condições de trabalhar”, argumenta o deputado. “Vale lembrar que, hoje, o isolamento é necessário, mas não é um direito; é um privilégio restrito a funcionários públicos e às classes mais altas”, comentou em entrevista ao JBr.

Segundo o legislador, é preciso pensar nas garantias de “uma série de benefícios, como auxílio aluguel e a entrega de cestas básicas”.

Felix também se mostra favorável ao fechamento das creches públicas. Mesmo fora dos grupos de risco, as crianças representam vetores de transmissão do novo coronavírus.

“Para isso, precisamos que os responsáveis possam ficar em casa, que tenham condições de pagar as contas mesmo sem poder trabalhar”, apontou.

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