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Brasília

Casos de HIV aumentam no DF no últimos dois anos

Segundo levantamento da Secretaria de Saúde, os diagnósticos de infecções pelo vírus cresceram entre 2018 e 2019 no Distrito Federal

Pedro Marra

02/12/2020 16h17

Foto: Arquivo pessoal

O Distrito Federal registrou aumento nos casos de infecções pelo vírus HIV em 2019. Levantamento da Secretaria de Saúde (SES-DF) mostra que foram 752 notificações, enquanto em 2018 foram 701. Dos casos diagnosticados com Aids, também houve aumento, mas em quantidade menos expressiva. Nos últimos dois anos do comparativo, a doença causada pelo vírus infectou 294 pessoas no ano passado, oito a mais que no ano anterior.

A SES-DF alerta para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce para controle da infecção e o não desenvolvimento da doença. Para conscientizar a população, começou ontem a campanha Dezembro Vermelho com várias ações pelo Distrito Federal.

Um caso exemplar de busca pela tratamento precoce é o do cientista político, Diego Callisto, 30 anos. Ele trabalha no Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde. Além de tratar do tema no ambiente de trabalho, ele também possui HIV. Aos 18 anos, foi diagnosticado com o vírus após uma relação sexual com o antigo parceiro, que faleceu de Aids.

“Quando descobri, passou um mundo de coisas pela minha cabeça e fiquei muito inseguro. Naquela época, a informação circulava bem menos, e não tínhamos as redes sociais fortemente ativas como hoje para nos informarem também. Acabei pesquisando muito na internet, em blogs e sites. Consumi muita informação equivocada. Quando descobri, me senti muito desamparado. Escutei vagamente sobre HIV no ensino médio”, relata Diego.

Em tratamento do vírus há mais de uma década, o cientista político reconhece a relevância de procurar conhecimento sobre o assunto em fontes responsáveis pelo tema. “À medida que fui filtrando informação, buscando com equipes do serviço de saúde, por exemplo, tive orientações melhores e vi que o tratamento era o melhor caminho. Iniciei de forma precoce, restabeleci o meu sistema imunológico e minha carga viral ficou indetectável”, comemora.

Perguntado sobre o apoio emocional recebido de pessoas próximas, Diego afirma que o principal foi ter o suporte médico. “A gente não conta sobre o diagnóstico quando sabe, mas quem mais me apoiou foi o serviço de saúde e ONGs nesse primeiro momento. Num segundo momento, quando fui me abrindo, tendo informação adequada, minha família me acolheu. Eles ficaram muito assustados, mas foram se conscientizando”, conta.

O cientista político do Ministério da Saúde deixa uma recomendação de como se tratar e buscar apoio profissional com base na própria experiência. “O Brasil avançou muito, e até recomenda a prevenção combinada. Temos a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), medicamentos e outras tecnologias de prevenção. Mas na minha época, era mais recomendada a camisinha mesmo. Hoje, a todo momento me preocupo. Tenho uma relação com o meu parceiro sorodiferente (que não possui HIV), e ele faz a relação com a PrEP, mas também uso o preservativo para evitar a DSTs”, acrescenta.

“A principal mensagem é conhecer as estratégias de prevenção combinada disponíveis. É importante visitar os canais de informação, organizações confiáveis, sites de veículos livres de estigmas e discriminações. Conhecer o trabalho institucional das organizações, e das secretarias de saúde de estados e municípios”, conclui Diego.

Mais de 4 mil casos de 2014 a 2019

De acordo com a Subsecretaria de Vigilância à Saúde (SVS), de 2014 a 2019, foram notificados 4.102 casos de infecção pelo HIV e 2.150 casos de aids. Os dados são do boletim epidemiológico divulgado ontem pela Secretaria de Saúde, quando começou a campanha Dezembro Vermelho em alusão ao mês de combate a Aids.

Em 2019, de acordo com o boletim, 92% das pessoas em tratamento com medicamentos antirretrovirais apresentaram carga viral indetectável. Ou seja, a situação pode indicar que, apesar do aumento da infecção pelo vírus HIV, a adesão ao tratamento também pode ter aumentado, o que reflete também na redução no número de casos de doentes com Aids.

Os casos de Aids tiveram redução entre os anos de 2014 e 2018. Em 2019, porém, o aumento foi de 2,8%. Já os casos de HIV cresceram durante todos os anos do período citado anteriormente. A gerente de Vigilância de Infecções Sexualmente Transmissíveis, Beatriz Maciel Luz, destaca que as estratégias de prevenção adotadas pela rede pública de saúde podem ter refletido para que o aumento não fosse maior.

“Essas estratégias, como a oferta de testagem, por exemplo, fazem com que as pessoas que vivem com HIV sejam diagnosticadas precocemente iniciando o tratamento de forma oportuna”, afirma a gerente.

Beatriz reforça que graças às medidas de prevenção e diagnóstico que a Secretaria de Saúde oferece, além do interesse da população em manter a vigilância da doença “essas pessoas estão aderindo ao tratamento e estão vivendo com a carga viral indetectável. Assim não desenvolvem a forma mais avançada da doença, que é a Aids”.

Situação epidemiológica por região

Entre os anos de 2014 e 2019, o Riacho Fundo I foi a Região Administrativa do DF que apresentou maior aumento nos casos de Aids e HIV. Eram 17,3 casos de Aids por 100 mil habitantes e, no passado, saltou para 30,1 caso por 100 mil habitantes, ou seja, um aumento de 74%. Em relação ao HIV, a infecção pelo vírus atingia, em 2014, 7,4 casos para cada 100 mil habitantes. Esse número cresceu 524%, passando em 2019 para 46,2 infecções para cada 100 mil habitantes.

O Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), que não tinha casos registrados de infecções por HIV nos anos anteriores, notificou, em 2019, dois casos. O coeficiente de detecção do vírus foi de 74,6 casos por 100 mil habitantes.

De acordo com o mapa abaixo, quando se compara 2014 com 2019, o aumento de detecção de HIV também foi maior em Sobradinho, que apresentava, em 2014, o coeficiente de infecção entre 10 e 20 casos por 100 mil habitantes, ficando entre 30 e 40 em 2019. No Gama também houve aumento, passando de 20 a 30 casos para cada 100 mil habitantes em 2014 para 30 a 40 casos por 100 mil habitantes em 2019.

O mapa traz redução no coeficiente de infecção no Cruzeiro, que era entre 40 e 50 casos por 100 mil habitantes em 2014 regredindo para entre 10 e 20 casos para cada 100 mil habitantes. De acordo com o mapa, também houve redução em Sobradinho II, Vicente Pires, Taguatinga, Candangolândia e Lago Sul.

Dos casos de Aids, o Paranoá se manteve com o coeficiente de detecção entre 17 e 23 casos por 100 mil habitantes entre 2014 e 2019. Também ficaram estáveis as regiões de Sobradinho II, Santa Maria, Ceilândia, Riacho Fundo II, Varjão e Planaltina, com coeficiente de 6 a 12 casos por 100 mil habitantes. As demais regiões administrativas apresentaram redução, sendo a mais significativa no Lago Norte, que tinha em 2014 o coeficiente de detecção de 23 a 30 casos por 100 mil habitantes regredindo para 0 a 6 casos em 2019.

Mortalidade por Aids

O coeficiente de mortalidade por aids (por 100 mil habitantes), no Distrito Federal, de 2014 a 2019, apresentou redução de 30% passando de 4,6 para 3,2 óbitos por 100 mil habitantes. Nesse período, a Região de Saúde Norte (Planaltina, Sobradinho, Sobradinho II e Fercal) foi a única que apresentou aumento (81%), passando de 1,7 para 3,1 óbitos por Aids a cada 100 mil habitantes.

As maiores reduções foram observadas nas Regiões de Saúde Sul (Gama e Santa Maria) e Centro-Sul (Guará, Estrutural, Sia, SCIA, Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Park Way, Riacho Fundo I e Riacho Fundo II), com 53,5% e 52,7%, respectivamente.

Em 2019, as Regiões Oeste (Ceilândia, Brazlândia e Sol Nascente/Pôr do Sol), Sul e Leste (Paranoá, Itapoã, São Sebastião e Jardim Botânico) apresentaram coeficientes de mortalidade por Aids superiores aos do Distrito Federal como um todo. Nesse mesmo ano, o coeficiente na Região Centro-Sul voltou a crescer, com 22,2% de aumento. A Região Norte também apresentou aumento (21,5% em relação a 2018).

No Distrito Federal, a queda foi de 15,2%, comparados os dois últimos anos analisados. Em números absolutos, foram 671 mortes por Aids entre 2014 e 2019, sendo 73,2% (491) em homens e 26,8% em mulheres (180).

Saiba como se cuidar

Em todas as 172 unidades básicas de saúde e no Núcleo de Testagem e Aconselhamento (NTA), localizado na Rodoviária do Plano Piloto, são oferecidos testes, sendo na maioria rápidos, para detecção do HIV. Essas unidades disponibilizam, durante todo o ano, preservativos masculinos e femininos e gel lubrificante.

A rede pública de saúde oferece a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) disponibilizada no Hospital Dia e no Hospital Universitário de Brasília, como estratégia de prevenção, além do uso de preservativos. A PrEP é disponibilizada para populações de maior vulnerabilidade e que tenham práticas de maior risco para infecção pelo HIV.

Com informações da Agência Brasília

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