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Brasília

Caso Bernardo: “É simplesmente o desejo de matar”, explica psicanalista

Paulo disse que dopou o filho, matou e jogou o corpo à beira de uma estrada que liga Formosa-GO a Luis Eduardo Magalhães-BA. Buscas estão suspensas

Aline Rocha

05/12/2019 16h34

Foto: Reprodução

Aline Rocha e Willian Matos
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Paulo Roberto Osório havia combinado de pegar Bernardo, de 1 ano e 11 meses, na creche e devolver à mãe, Tatiana da Silva, 30 anos, na última sexta-feira (29). No entanto, momentos depois, ele entrou em contato afirmando que iria sumir com Bernardo. “No que depender de mim, você não vê mais [a criança]. Quis tirar de mim, então eu tiro de vocês”, disse o suspeito na mensagem.

“Eu te avisei que se você aprontasse na minha vida não ia ser a saia da sua mãe que iria te proteger. […] Achou o quê?! Que eu ia ficar quieto no meu canto?!. […]. Pode ir na polícia, porque eu não vou mais voltar. Abandonei tudo e larguei minha vida. Adeus para vocês duas. Espero que agora entendam o que é ficar sem ele”, disse Paulo.

Desde então, Bernardo não foi mais visto. Paulo foi encontrado em Alagoinhas-BA na última segunda (2), mas sem o garoto. Aos policiais, ele disse que dopou o filho, matou e jogou o corpo à beira de uma estrada que liga Formosa-GO a Luis Eduardo Magalhães-BA. A Polícia Civil (PCDF) conta que ele atentou contra a própria vida após ser preso.

O psicanalista Carlos Vieira explica que, dentro de si, o ser humano tem um impulso de destrutividade e, nem sempre, o assassinato é causado por um impulso reativo. “Esse impulso destrutivo é um impulso mortífero, ou seja, que tem a capacidade de matar. Eu penso, também, que não é necessariamente matar o filho ou matar a mãe ou matar alguém, é simplesmente o desejo de matar”, explica o psicanalista.

“A gente precisa ver para não só pensar que a razão [de um assassinato] é uma razão reativa, ‘eu matei fulano porque fulano fez uma ferida em mim’, eu acho que quando se diz que ‘eu matei alguém’, é porque, nessa pessoa, existe um potencial destrutivo maior que o potencial amoroso. E quando a destrutividade impera, a violência, o assassinato, essa força mortífera, também impera e, dependendo de algumas frustrações, ela é ativada e consegue cometer atos desse tipo”, reforça Carlos.

Buscas suspensas

A Polícia Civil (PCDF) suspendeu as buscas pelo menino Bernardo, de 1 ano e 11 meses, desaparecido desde a última sexta-feira (29). O pai dele, Paulo Roberto de Caldas Osório, 45 anos, sumiu com o garoto e disse que o matou e o jogou em uma mata na BR-020.

No entanto, os policiais da Delegacia de Repressão a Sequestro (DRS) começam a desconfiar da afirmação. Cria-se, agora, a hipótese de que Paulo arquitetou uma história para ludibriar as investigações e deixar a mãe da criança, Tatiana da Silva, 30 anos, desesperada.

Os policiais foram ao local em que Paulo conta ter deixado o corpo do filho. Trata-se de uma área de cerca de 100 metros de mata. Segundo os agentes, o local é uma região de plantação de soja. Os trechos de mata fechada foram “exaustivamente vasculhados”, mas Bernardo não foi encontrado. Um helicóptero auxiliou na operação. “Conclui-se que o cadáver não estaria na região”, afirma a polícia.

Para os policiais, Paulo não jogou o corpo onde contou que teria jogado. Ele pode estar querendo retardar as buscas e perpetuar o sofrimento da mãe e da avó do menino. Em conversa com Tatiana, o suspeito demonstra sentimento de raiva pelas duas. “Sua mãe é uma arrogante, metida a besta, que acha que só porque tem dinheiro pode fazer e acontecer na vida dos outros”, afirma em áudio.

“Pode ir na polícia, porque eu não vou mais voltar. Abandonei tudo e larguei minha vida. Adeus para vocês duas. Espero que agora entendam o que é ficar sem ele.”

O que se sabe até então

  • Na sexta-feira (29), Paulo buscou Bernardo na creche, na Asa Sul, como costumava fazer. Ele teria de devolver o garoto à mãe, Tatiana, às 20h. Chegou a dizer a ela que estava a caminho, mas não apareceu;
  • Depois, enviou mensagem à Tatiana dizendo que estava sumindo e que não voltaria com o filho;
  • A partir daí, a história é contada a partir da versão de Paulo, que ainda carece de investigação. Ele diz que, ainda na sexta (29), diluiu quatro comprimidos de remédio controlado no suco de Bernardo e deu a ele, com a intenção de fazê-lo dormir para que os dois viajassem para o Estado da Bahia;
  • Bernardo não teria dormido num primeiro momento. Paulo, então, teria dado banho no garoto e decidido devolvê-lo. Porém, o suspeito disse que o bebê vomitou e dormiu, o que o levou a retomar a ideia de viajar com o garoto para sumir e dar “um susto” em Tatiana;
  • Paulo conta que pegou estrada rumo ao Nordeste do país, até que parou para abastecer, ainda na sexta (29). Neste momento, ele afirma ter visto que Bernardo estava “molenguinho”, já sem sinais vitais;
  • Percebendo a morte do filho, ele teria andado por mais alguns quilômetros e jogado o corpo do filho em uma mata na BR-020, num trecho da estrada que liga Formosa-GO a Luis Eduardo Magalhães-BA.
    Dada a versão de Paulo, a polícia iniciou buscas aéreas e terrestres pelo corpo de Bernardo, na região indicada, em trecho de cerca de 100 km de mata. Após vasculhar a área, os policiais descartaram a presença do filho de Paulo e Tatiana;
  • Agora, as investigações trabalharão para reconstituir o passo a passo do que de fato aconteceu na sexta-feira (29), desde quando Paulo pegou Bernardo na creche.

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