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Brasília

Casal consegue adoção definitiva de 5 irmãos que seriam separados

Arquivo Geral

11/10/2018 17h09

Foto: Matheus Albanez/Jornal de Brasilia.

Jéssica Antunes
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A história da adoção dos cinco irmãos que viveram por anos em um abrigo na Região Metropolitana do Distrito Federal ganha mais um capítulo com direito a final feliz. Pela ótica da lei, eles são o que já eram de coração: família. Um ano e quase mil quilômetros depois, uma audiência finalmente coroou o processo de adoção com a mudança de nome. A família Oliveira Guimarães ainda se adapta à casa cheia, mas não esconde o amor que os une.

O Jornal de Brasília contou essa história em julho. Moradores de Diadema (SP), Veranilda Oliveira Guimarães, 50, e o marido Adalberto Guimarães, 55, evitaram a separação dos cinco irmãos que viviam na Casa Lar Rebecca Jenkings, na Cidade Ocidental (GO). O abrigo é vinculado à Associação Brasileira de Ação Social Cristã (Abasc), onde Vera, como costuma ser chamada, atua como presidente.

Eles ficaram na iminência da separação. “É quase impossível achar um casal que adote cinco crianças de uma vez. Por isso, a ideia inicial era de separá-las para facilitar a adoção”, explicou à época o juiz da 1ª Vara Cível de Família, Sucessões, Infância e Juventude da Cidade Ocidental (GO), André Rodrigues Nacagami. Eis que 27 anos depois do nascimento da filha Nathália Oliveira Guimarães, a casa voltou a encher, com Maria Vitória, 14, Pedro Henrique, 11, Miguel, 8, Gabriel, 7, e Victor, 4.

De volta ao Cerrado, eles tiveram a audiência final na comarca da Cidade Ocidental na tarde desta quinta-feira (11). “A audiência foi linda. Agora eles são oficialmente nossos filhos e vão assinar com nosso sobrenome”, disse Vera, em meio à comemoração. Da adoção provisória à definitiva, passou-se um ano.

Amar é…

“É algo que nunca pensei que aconteceria. Achava que não podia me prender a um tendo que cuidar de mil. Não podia me desprender da missão e nem falhar com eles”, lembra a mãe. Mas foi o pai, que não tem vínculo direto com a causa, quem tomou iniciativa para que adotassem todos. O aposentado até tenta, mas não consegue evitar o choro emocionado de lembrar de tudo o que aconteceu até ali.

“Era o único jeito de impedir a separação. É fácil falar, mas atitude mostra mais que palavras. Acho que o juiz nem acreditou. Amor é abrir mão de você em favor de alguém. Nossa vida mudou completamente. Quando vê o sorriso no outro, você também está feliz”, descreve Adalberto.

Foto: Matheus Albanez/Jornal de Brasilia.

Vida nova

O processo de adaptação ainda corre – física e emocionalmente. Enquanto os pais reaprendem a ter crianças, elas constroem identidades como filhos. Em casa, tiveram que quebrar paredes, se desfazer de dois carros para comprar um maior. Quando conseguiram o veículo que coubesse todos, ele não entrava na garagem. O veículo só conseguiu entrar em casa há menos de duas semanas, após reforma.

A mais velha ainda tenta aprender a ser irmã. Ela precisou amadurecer muito cedo para cuidar dos irmãos. Agora, Maria Vitória, 14, diz que gosta de ter alguém para chamar de pai. “Me sinto bem e sou muito grata. Hoje todos nós estamos agregados a uma família abençoada por Deus”, comemora.

“Para eles é mais difícil. De repente, têm regras e pais. Nos deu muito desespero, mas sempre soubemos o que queríamos. Não são crianças que estão em minha guarda. São meus filhos. Conheço cada jeito, cada personalidade”, aponta a mãe.

Vera, que planeja até voltar a estudar para conseguir acompanhar a formação educacional das crianças, diz que descobriu que é leve. “Não tenho que ser super-mãe, tenho que ser eu. Está dando certo e hoje estou mais jovem”, garante. Ela brinca que os meninos chegaram no meio da “escada da vida”: “Eles chegaram quando eu deveria começar a descer, mas me seguram. A qualidade de vida está melhor”.

Adoção em números

» Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mais de 8,7 mil crianças e adolescentes estão à espera de uma família no Brasil. No Cadastro Nacional de Adoções, há 43,6 mil pretendentes.

» A conta, simples, não fecha por conta de exigências dos postulantes a pais, que preferem bebês. Quanto mais velhos, menor é a possibilidade de saírem de abrigos. Vínculos familiares também são empecilhos – poucas famílias se dispõem a adotar irmãos.

» O panorama da adoção na capital do País foi publicado pelo JBr. em março do ano passado em série de cinco reportagens.

Relembre:

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