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Brasília

Buzinas para festejar a vitória

A família da idosa Mércia esticou um cartaz no carro pedindo que buzinassem pela conquista

Vítor Mendonça

08/09/2020 9h14

“A bordo, está uma guerreira que venceu a covid-19. Sorria e buzine para ela”, estampava a faixa fixada na parte traseira do carro onde a pernambucana Mércia Andrade, 65 anos, pegava carona para voltar para casa no último domingo (6). Depois de 26 dias internada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) em decorrência do novo coronavírus, a senhora desfrutou do ar fresco fora da unidade hospitalar novamente.

No caminho para casa, solidários cumpriam com o pedido exposto na traseira do carro: buzinavam, acenavam e gritavam das janelas, parabenizando-a pela vitória. De dentro do carro, a senhora também acenava e agradecia às felicitações. O trajeto de aproximadamente 30 km até a residência no Setor O, em Ceilândia, marcou uma nova liberdade para Mércia, no dia 6 de setembro.

A moradora da cidade com a maior quantidade de casos no Distrito Federal voltou para casa no dia em que Ceilândia atingiu os 20 mil casos da doença. A taxa de óbitos com pessoas acima de 60 anos é a maior e chegou a 2 mil mortes ontem. Mércia, porém, faz parte dos mais de 90% recuperados da covid-19.

Diagnóstico

Há quase um mês, os primeiros sintomas da doença começaram a aparecer nos familiares da casa, mas com Mércia as manifestações foram mais preocupantes.

Primeiro vieram as tosses, depois o cansaço, e, por fim, a falta de ar. Quando decidiram ir ao médico, a senhora já estava muito fraca para se recuperar em casa e foi internada. Há cerca de um mês, porém, a idosa havia vencido um câncer de mama naquele mesmo hospital.

“Ela chegou a precisar de 15 litros de oxigênio por minuto, que é a dosagem mais alta que podem dar antes de entubar os pacientes”, afirmou Marilena Andrade, uma de três filhos de Mércia.
“Quando a deixei no hospital, lembro de virar as costas sem saber se a veria novamente. Imaginávamos que ela não voltaria, por todo o histórico dela”, confessou. “Ela é hipertensa, diabética, teve câncer e é idosa. Tinha todos os requisitos médicos para vir a óbito.”

Durante seis dias, Mércia não dava sinais de melhora e não tinha forças para se movimentar por conta própria. De acordo com Marilena, o médico que a acompanhava afirmou que, se no dia seguinte, a mãe não reagisse aos medicamentos, a única alternativa seria a intubação. No sétimo dia, no entanto, a idosa conseguiu se sentar, apesar de muita dificuldade.

Três dias sem conseguir falar

Conseguir sentar-se sozinha foi o necessário para Mércia não seguir para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

“Ela tinha ficado três dias sem conseguir falar, e quatro sem sentir as pernas. Mas minha mãe é uma pessoa de muita fé e, durante esse tempo e em tudo o que ela passou, confiou em Deus. No 15º dia começaram a reduzir os níveis de oxigênio e estava melhorando, percebi que realmente Deus iria trazer minha mãe de volta”, contou Marilena.

Guerreira

O adjetivo “guerreira” se encaixa com a aposentada. No início de 2019, Mércia descobriu um câncer na mama esquerda e o combateu até a cirurgia para a retirada do quadrante lesionado pela doença, em fevereiro deste ano.

Durante este tempo, fez 16 sessões de quimioterapia, perdeu cabelo e a imunidade foi reduzida a quase zero. Depois da cirurgia, vieram os procedimentos de radioterapia e, ao final de julho, finalizaram-se as sessões. Vencera o câncer.

Talvez no hospital

“Já estávamos contando vitória com o fim do câncer e passamos a fazer visitas semanais no médico para poder acompanhar a recuperação depois de tudo. Não sabemos onde contraímos a covid-19, mas achamos que foi no hospital mesmo”, disse.

Chegando em casa, a aposentada teve a surpresa de ver que todos os vizinhos da rua haviam sido convocados para a grande festa de recepção. Cada qual da porta de suas casas acenavam, ovacionavam, sopravam apitos e balançavam balões para celebrar a vitória de dona Mércia.

Em casa, foi recebida com bolo, doces, e um vídeo com mais de 40 mensagens gravadas por amigos próximos e familiares de outros estados.

“Foi tudo muito emocionante”, relatou Mércia. “Tenho muita gratidão e muito carinho por todos os que torceram por mim. Foi muito bom saber que sou amada por eles também. Tenho uma gratidão eterna por tudo”, continuou.

Saiba Mais

Às vésperas do feriado de 7 de setembro, a Semana da Pátria, que representa a liberdade do Brasil, agora também representa a libertação de duas grandes lutas, para Mércia e sua família.

“É uma liberdade respirar fora do hospital. [Durante o tempo em que ficou internada] tive muito medo de ser intubada.”

Em relatos à filha Marilena, Mércia confessou que “nada do que passou se compara ao que enfrentou lá dentro [do hospital]. “Foi um milagre”, acredita a filha.

Como mensagem, a pernambucana alerta para que “todos tomem os devidos cuidados, [pois] ninguém está livre”.

A quem enfrenta a doença ou possui parentes em condições similares ou mais graves que as dela, Mércia deixa outro recado.

“Mesmo que esteja passando por isso, confie em Deus, se apoiem uns nos outros. Acreditem na vitória de cada dia”, finalizou.

Desde o início da pandemia, 156.012 pessoas pegaram a covid-19 e se recuperaram, o que representa uma taxa de 91.3%.

A batalhadora Mércia é uma dessas pessoas.

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