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Brasília

Busca pela valorização das línguas indígenas

Congresso debate a importância de relacionar o idioma com a terra

Marcus Eduardo Pereira

02/10/2019 4h40

indígenas maoris.foto : Ricardo Stuckert

Larissa Galli
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A revitalização de línguas indígenas de diferentes partes do mundo é tema do II Congresso Internacional sobre Línguas Indígenas e Minorizadas (Cirlin), que começou ontem e vai até o próximo domingo (6), na Universidade de Brasília (UnB).

Na cerimônia de abertura do congresso, que aconteceu ontem, a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RO) destacou a importância de relacionar a língua com a terra. “O Brasil é território indígena e nossas línguas estão relacionadas com a terra em que a gente vive e com nossos conhecimentos tradicionais. Antigamente era mais de mil línguas indígenas e hoje só restam 274. Nós precisamos trabalhar na revitalização e na valorização dos verdadeiros idiomas brasileiros, que são as línguas indígenas”, declarou.

A professora da UnB Ana Suelly Arruda, que organiza o evento, afirmou que a interferência de outro idioma dentro das tribos indígenas aumenta o risco de desaparecimento de algumas línguas nativas. “Primeiro, eles precisam de uma comunidade de fala e, se precisam de uma comunidade de fala, precisam de um território. Se não tiver a terra indígena, com o povo dentro, não tem língua. E, se eles não podem viver praticando a sua língua decentemente, sem grandes interferências do português, suas línguas não vão sobreviver”, argumentou.

Estudando há mais de 30 anos as línguas indígenas, entre elas as dos troncos linguísticos tupi e macro-jê, Suelly comenta que o que mais a impressiona, ainda hoje, são as reações de pesquisadores indígenas que passam a analisar a fundo suas próprias línguas. “Nessa perspectiva de revitalização e fortalecimento, o que há de mais interessante são os indígenas que vêm fazer mestrado e doutorado com a gente, quando estão aprendendo sobre como funciona a língua deles. Porque eles são falantes plenos, são os verdadeiros conhecedores da língua, mas não têm conhecimento da organização interna delas.

É muito importante quando eles começam a descobrir como elas funcionam e começam a se apaixonar e a entender a beleza enorme que é cada língua. E a vontade de lutar pela documentação dessas línguas, para coletar todas as histórias, prestar atenção quanto ao modo como os mais velhos falam, para trazer isso para os seus alunos. Isso, pra mim, é um fator muito importante”, diz.

O evento vai debater políticas de revalorização das línguas indígenas e atualização cultural, a importância das mulheres na vitalidade da língua karajá, o papel da literatura indígena para a promoção da língua munduruku, entre outros assuntos que serão temas de apresentações de trabalhos, simpósios e mesas de debate.

Exemplo estrangeiro

A tribo maori Ngai Tahu, da Nova Zelândia, é um dos maiores exemplos de empreendedorismo do mundo. Eles têm a língua e cultura preservadas e é uma das mais tribos indígenas ricas do planeta. Os investimentos em Turismo, Pesca e Propriedades chegam a 1,5 bilhão de dólares e o lucro é revertido para atividades de desenvolvimento cultural, econômico e ambiental da tribo.

A língua dos maori fazia parte de um grupo global de 2,680 línguas indígenas que estavam ameaçadas de extinção. Hoje, no entanto, após um longo trabalho de preservação de identidade cultural, a realidade linguística dos maori foi normalizada. “Os idiomas são absolutamente fundamentais para conectar nossa compreensão indígena do passado a um fator de bem-estar futuro em uma comunidade nacional e internacional. Sem linguagem, simplesmente emparelhamos sistemas e conhecimentos que não são tradicionais”, afirmou o indígena maori Darryn Russell, que também é pró-reitor da Universidade de Canterbury e presidente da Te Kahui Amokura.

Darryn também contou ao Jornal de Brasília que a questão do direito à terra é essencial para permitir o desenvolvimento de uma perspectiva favorável para uma economia indígena. “Quando se trata de economia indígena, aspectos sociais e ambientais estão conectados. A inovação não deve ser entendida como ‘os maori inseridos na economia convencional’, mas como um sistema econômico que permita o crescimento das economias indígenas dentro delas mesmas”, explicou.

Hoje, os maori participam de um evento paralelo ao congresso sobre empreendedorismo maori e cultura indígena, das 15h30 às 18h, no Centro de Excelência em Turismo (CET) da UnB.

Amanhã, a delegação dos indígenas da Nova Zelândia vão participar de uma programação especial dentro do II Cirlin dedicada especialmente à tribo maori. Das 10h até às 18h15, eles vão discutir temas como legislação e políticas maori, a conexão intrínseca entre te reo maori (língua maori), tikanga (tradições) e whenua (terra), além da apresentação de uma perspectiva das tribos sobre iniciativas de revitalização de idiomas lideradas pela comunidade.

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