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Brasília

Brasiliense reduziu consumo em 5% mesmo com fim do racionamento

Arquivo Geral

23/11/2018 7h00

Atualizada 22/11/2018 22h18

Vânia mora sozinha na Estrutural, aproveita água da chuva e nunca consome o mínimo pelo que paga todos os meses. Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasilia

Jéssica Antunes
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O brasiliense aprendeu com o racionamento de água provocado pela crise hídrica. É o que aponta um estudo elaborado pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), que indica queda de 5% no consumo até setembro deste ano, em relação a 2017. São 2,5 milhões de metros cúbicos economizados na capital, sendo que os moradores de áreas nobres são os que mais diminuíram o uso. Aqueles que vivem em área de vulnerabilidade e consomem menos que o preconizado pela Organização Mundial da Saúde também fecharam as torneiras.

O histórico de consumo de água coloca a capital entre os líderes do Brasil, mas existe uma tendência de diminuição per capita desde 2013 e não houve mudança na curva após o fim do rodízio de 15 meses, encerrado em junho. Até setembro de 2017 a economia foi de 9,5%. Em 2018 a economia em relação ao ano anterior foi de 5%. A exceção é fevereiro, com leve aumento no uso.

“Foi uma redução significativa e persistente. Mesmo com crescimento populacional, o consumo caiu. Agora, aumentamos a oferta de água com a entrada de novos sistemas produtores e diminuímos a demanda. Certamente a situação para a próxima gestão será mais confortável”, aponta Alexandre Brandão, gerente de Estudos Ambientais da Codeplan.

De onde não tem

Na Quadra 5 do Setor Leste da Estrutural, Vânia Soares mora sozinha em um barraco de alvenaria de menos de seis metros quadrados. A pensionista de 59 anos chegou ao local há 18 anos e viu chegar a água tratada fornecida pela Caesb. Seu consumo médio é baixo e longe do padrão mínimo cobrado pela companhia.

Ela pega água da chuva para lavar louças, limpar a casa e até dar descarga. Vânia conta que começou a economizar na época do racionamento e não pretende parar. “O valor vem sempre o mesmo, em torno de R$ 50, mas isso não me impede de gastar menos. Tem tanta gente que desperdiça à toa, lava carro, calçada. Eu gasto o mínimo porque acho que um dia pode acabar”, diz.

O estudo não se aprofundou a ponto de explicar os motivos que levaram essas regiões mais pobres a consumirem ainda menos do que já usavam – e que já era inferior ao recomendado. Assim, não se sabe se há outras fontes de água, como poços artesianos, se as famílias passam por severas restrições ou se conseguiram se adaptar, como o caso de Vânia.

Para o gerente de Estudos Ambientais da Codeplan, diversos fatores são hipóteses para explicar a redução ainda maior do consumo nas moradias de menor faixa de renda. “Por conta da crise econômica, as pessoas podem ter deixado as contas em nível muito apertado. O aumento da tarifa explica parcialmente por que populações com menos renda consomem menos que os dez metros cúbicos cobrados e poderia aumentar, mas não o fez”, diz Brandão.

Foto: Raianne Cordeiro

“Gordura maior”

A casa da professora Ione Goulart, 44 anos, tem 350 metros quadrados no Lago Norte. Há área de churrasqueira, piscina, jardim. Ela conta que, quando o racionamento começou, a capacidade de armazenamentos em caixas d’água foi ampliada de mil para 5,5 mil litros. “A gente passou a lavar roupa com menos frequência, não fazia faxina, não aguava o quintal. Preferíamos deixar as coisas acumularem”, diz.

Depois do fim do rodízio, a família de quatro pessoas relaxou na economia, mas o consumo é bem menor que o anterior ao período crítico. “Tivemos uma mudança de cultura. Já não molhamos o jardim, usamos regador e balde em vez de mangueira. Foi muito natural’, afirma. O resultado veio na conta, com redução de cerca de 20% do valor.

“Regiões com terrenos grandes, casas espaçadas e nível de renda maior têm mais ‘gordura’ para economizar. Eles fizeram mais esforço, mas tinham mais para reduzir que aqueles que já estavam no limite. Era natural que reduzissem mais o gasto”, entende Alexandre Brandão, da Codeplan.

Renda interfere no uso

A Organização Mundial de Saúde (OMS) indica que o consumo mínimo necessário para uma pessoa saciar a sede, ter uma higiene adequada e preparar os alimentos é de 110 litros por dia. Em alguns casos, como Park Way e Lago Norte, o uso é maior que o dobro. No Lago Sul, chega a ser três vezes o valor de referência. Por outro lado, os menores índices estão na Fercal, Itapoã e Estrutural, com menos de 70 litros por habitante (veja quadro).
Na ponta do medidor, o maior uso é cerca de seis vezes o menor. Da mesma forma, as economias são proporcionais. As regiões com maior gasto e renda são exatamente as que mais conseguem economizar. Dados relativos do estudo indicam que Lago Norte, Lago Sul e Park Way fizeram maior “esforço” para diminuir os índices.

“Algumas coisas influenciam nisso. A principal é a quantidade de população, seguida pela renda e pelo padrão de consumo. Uma das hipóteses é que a tipologia da residência e da estrutura urbana influenciam – se casa ou apartamento, se tem condomínio ou jardim, por exemplo”, explica Cássia Castro, geógrafa, mestre e doutora em Geociências.

Prédios, em geral, gastam menos que casas em condomínios. Ainda assim, os comportamentos são diferentes se há infraestrutura de lazer, que eleva os valores de referência em Águas Claras, por exemplo.


Serviço

Consumo de água em residências por habitante

1º Lago Sul
376 litros por habitante por dia
2º Park Way
280,5 litros por habitante por dia
3º Lago Norte
223,7 litros por habitante por dia
29º Fercal
71,7 litros por habitante por dia
30º Estrutural
62,3 litros por habitante por dia

 

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