É natal! A hora e a vez dos bons velhinhos
Eles vêm de bem mais perto que o Pólo Norte e contam ao JBr a emoção de representar o sonho das crianças
Época de Natal é também a época em que o bom velhinho chega a grande parte das cidades do Brasil e do mundo. A figura do senhor de barba e cabelos brancos, de óculos redondos, sempre acompanhado de um saco de presentes é icônica e símbolo de esperança para muitos.
Pouco se sabe, no entanto, quem são as pessoas por trás do personagem, que alegra a temporada natalina.Fernando Xavier é um dos muitos que assumem, por um período de pouco mais de dois meses, a figura simpática do bom velhinho. Ao contrário da lenda, porém, não é do Pólo Norte que ele vem. Bem mais próxima à capital, sua jornada é de 92 km, de Alexânia até Brasília.
Desde os 46 anos, o homem hoje com 65 anos enverga o personagem que traz presentes e alegrias no Natal. Sua parada é o Brasília Shopping.
Salário extra
Papai Noel esta na cidade. Foto: Vitor Mendonça/Jornal de Brasilia
Aposentado da Marinha do Brasil, a trajetória como bom velhinho começou quando, segundo Fernando, os rendimentos eram escassos e um salário extra era bem-vindo para ajudar a pagar as contas da casa. “Foi aí que entrei nessa de Papai Noel”, disse.
Nos anos 2000, na busca por emprego, o ex-militar que dedicou 25 anos da sua vida como sargento fuzileiro veio a Brasília para tentar a chance em uma nova carreira. E virar Papai Noel não era exatamente o que estava nos seus planos.
Enquanto aguardava para ser atendido em uma agência de empregos, as palavras de um dos funcionários da empresa ainda estão frescas na memória. “Atenção senhores! Precisamos de três pessoas gordinhas, que tenham olhos verdes ou azuis e que saibam trabalhar com crianças; precisamos de um Papai Noel’”, relembra. “Ninguém levantou a mão e, de início, eu também fiquei acanhado. Quando ele foi para a porta, resolvi levantar e ir na direção dele. ‘Será que eu sirvo para essa vaga?’”, perguntou o homem. Como resposta, apenas lhe pediram para comparecer ao local do shopping.
Química
No início, na falta de cabelo e barba grandes, Fernando precisava usar material postiço. Precisou até criar uma nova fórmula para manter os fios brancos. “Inventei uma química para colocar no cabelo, porque antigamente não havia tinta branca”, comentou. “Até ter a fórmula pronta, caíam os cabelos todos e os fios não ficavam brancos; ficavam amarelados, estranhos. Agora a barba é fofinha, cheirosa”, conta. Há oito anos, ele apenas apara a barga e o cabelo de Papai Noel.
Os olhos azuis, que já vislumbraram tantas indas e vindas de crianças, pais e avós, ainda se enchem de lágrimas ao lembrar das pessoas que transitam todos os dias com um grande sorriso diante do Papai Noel.
“Fico triste porque as pessoas vêm, mas nunca ficam; é muito bom ter a companhia delas. Aí quando elas vão embora, sinto falta”, afirmou.
Desejos e pedidos
Para o Papai Noel Matias, do JK Shopping, localizado entre Taguatinga e Ceilândia, duas das Regiões Administrativas que detêm as maiores concentrações populacionais do Distrito Federal, a demanda de abraços e cartas recebidas com pedidos de presentes é extensa.
Todos os dias, de 8h às 22h, o bom velhinho por vezes precisa contornar os desejos por vezes inviáveis.“Uma vez, uma das crianças que recebi aqui me pediu um cavalo. O único problema é que ela morava no 13º andar de um prédio”, conta com uma risada.
“Alguns pedidos são mais emotivos, como quando há o falecimento de um ente querido, normalmente de um pai ou de uma mãe. A gente segura as emoções e vai conversando”, diz .
Desde 2013 assumindo o personagem no mesmo local, Papai Noel Matias entende que a figura que personifica é muito carismática.
“De 0 a 80 anos” é a faixa etária para a qual entende trabalhar.
“Eu me divirto muito. Tem mães que trazem o filho com 15 dias de nascido — e há outras pessoas mais velhas que eu convido para tirar foto e ficam surpresas; me perguntam: ‘Eu posso? Nossa, minha primeira foto com o Papai Noel’. E aí vêm as lágrimas”, confessa. “São emoções realmente muito fortes. Eu não tenho preparação, é uma coisa natural, não costumo ficar pensando em como vou fazer; simplesmente acontece. Não considero como profissão, é mais um lazer. Tenho uma visão de divertimento disso tudo. Fora daqui, de longe me reconhecem como Papai Noel e até me chamam para tirar fotos nas ruas. Não me canso nunca de fazer o que faço.”
A aparência mais magra gera questionamentos por quem espera por um abraço mais volumoso. “Às vezes as pessoas estão na fila e comentam que o Papai Noel está meio magrinho. Quando chegam perto de mim, eu falo que sou um Papai Noel fitness”, brinca.
Depois que o período passa, o Papai Noel segue para o Pólo Norte e cuida para que a volta aconteça no ano seguinte, quando mais presentes e sorrisos precisam ser distribuídos. O recado final é claro e enaltece as boas relações.
“Ho ho ho! Feliz Natal!”, despede-se o bom velhinho.
Saiba Mais
O comércio de Brasília está otimista quanto às expectativas de venda para o Natal deste ano.
Com a recuperação da economia e alguma melhora no emprego, os comerciantes estimam um aumento de 12% nas vendas deste ano em comparação com o desempenho do ano passado.
O segmento de lojas de vestuário e acessórios, como bolsas, é o mais otimista, com uma expectativa de aumento das vendas de 17,8%.
O segmento de calçados estima crescimento de 10,5% e as óticas de 9,8%.
Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Instituto Fecomércio em novembro.
Para 64% dos empresários entrevistados, o movimento nas lojas será maior do que foi no ano passado.
Ainda segundo a pesquisa, os comerciantes esperam que o preço do presente de Natal fique em média em torno dos R$ 300.
