Menu
Brasília

Benzedeiras cuidam de corpo e alma de pacientes em unidades de saúde

Provavelmente quem é do interior já ouviu falar que é melhor se benzer contra espinhela caída, quebranto e mau olhado

Aline Rocha

15/08/2019 15h07

Foto: Mariana Raphael/Secretaria de Saúde

Da Redação
[email protected]

Uma vez por mês, três unidades básicas de saúde (UBS) ficam lotadas de pessoas em busca de saberes populares. Provavelmente quem é do interior já ouviu falar que é melhor se benzer contra espinhela caída, quebranto e mau olhado. 

Acostumada ao benzimento na cidadezinha onde mora, no Espírito Santo, a aposentada Dalva Caversan aproveitou a estadia em Brasília, onde está para cuidar do neto que acabou de nascer, para levar a família inteira à UBS 2, da 114/115 Norte, onde cerca de 50 benzedeiras atuam uma vez por mês.

“Lá, temos o costume de levar as pessoas para ser benzidas quando estão com alguma dor, com um machucado, quando estamos bocejando muito ou, ainda, quando a criança está muito agitada”, conta ela. A filha, Nair Angélica, já está acostumada e, agora, levou o pequeno Miguel para receber o que ela teve muito na infância. “Lembro-me da minha mãe levando a gente. Saímos mais leves”, destaca, ao lado do marido, Vilar Cardozo, benzido pela primeira vez.

As benzedeiras trabalham em uma roda, onde fazem uma oração entre elas antes de abrir o círculo. Em seguida, com os presentes, fazem a leitura de um texto e explicam como funciona o processo de benzimento. Elas permanecem por duas horas no local, seja no fim da manhã ou no fim da tarde. Nesse período elas distribuem senhas para aquelas que são encaminhadas às benzedeiras. 

Vocação

Cada benzedeira tem seu método. Algumas usam terços, outras preferem um galho de arruda. Há ainda aquelas que usam da conversa, um abraço, massagem. O mais importante é ter fé e conexão com quem está buscando este auxílio.

Há um ano e meio atuando como benzedeira, Edna Francischetti diz que, para exercer essa tarefa, é preciso ter sintonia com quem precisa ser benzido. “Quando pergunto por que a pessoa veio, já se vai estabelecendo uma conexão mais profunda, de muito acolhimento e compreensão. Olho no olho, ouço e vou-me conectando com o melhor de mim mesma, um amor mais alto. Então, com base nisso, ou faço uma “costura” ou benzo com alecrim e água, usando palavras fortes de uma bênção muito antiga”, diz ela, sempre calma.

Qualquer um pode se candidatar a ser um benzedor. “É preciso ter fé e confiar que somos capazes de interceder para o bem-estar de outros, humanos ou animais. Existe uma formação que promovemos anualmente para compartilhar nosso caminho e experiências, para nos conectarmos com a energia cósmica de nossos ancestrais”, explica a guardiã da Escola de Benzedeiras, Maria Bezerra, responsável por levar o trabalho às unidades básicas de saúde.

Espaço

Além da UBS 2, da Asa Sul, as unidades 1, da 612 Sul, e também a de número 9, do Cruzeiro, recebem o trabalho das benzedeiras uma vez por mês. Para a gerente da unidade da 114/115 Sul, Ana Carolina Tardin, primeira a abrir as portas para elas, o espaço é usado para a cura da alma, de modo a cuidar da angústia e dos sofrimentos, o que também é importante para a manutenção da saúde.

“Além disso, abrimos espaço para o acalento, criando uma rede de apoio. Muitas pessoas que moram em Brasília são de outras cidades e, às vezes, têm dificuldade em se aproximar dos outros por aqui”, destaca.

Para a benzedeira Edna Francischetti, as unidades de saúde são lugares dedicados às pessoas, o que casa muito bem com o trabalho que ela e o grupo desenvolvem. “Saúde física, emocional e espiritual, no meu entender, são um todo indissociável. Acolhimento é uma boa palavra para falar dessa integração saudável que estamos experimentando”, observa.

Boas energias

Conforme destaca Maria Bezerra, as pessoas que procuram se benzer saem da unidade em paz, reequilibradas. “Crianças têm apresentado melhora de sono, estados de irritabilidade, diarreias, males estes que são identificados como ‘quebranto’ e ‘ventre virado’. Pessoas com tristezas ou sensações de negatividade também têm relatado melhoras”, enumera.

Pela primeira vez nessa experiência, Ângela Guimarães disse que o próprio ambiente da UBS, onde a prática é feita, já trouxe tranquilidade a ela. “Estou saindo mais leve do que quando cheguei. Com certeza, voltarei outras vezes”, assegurou.

Além da busca pelo equilíbrio, tem gente que vai para agradecer. “Queria muito engravidar, já tentava há quatro anos e quando estava prestes a fazer uma inseminação, engravidei naturalmente e veio o Murilo. Então, eu o trouxe para benzer e agradecer pela vida dele”, conta a mãe, Mariana Leal.

Os encontros acontecem uma vez por mês e a agenda é divulgada em cada evento.

Próximos encontros com benzedeiras:
UBS 1 – 612 Sul
Data: 17 de agosto
Horário: 9h30 às 11h30

UBS 9 Cruzeiro
Data: 27 de agosto
Horário: 16h às 17h30

 

Com informações de Agência Brasília

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado