Menu
Brasília

Aumento nos avistamentos de capivaras preocupa moradores do Lago Norte

Habitando a península desde a década de 1970, população de capivaras na orla do Lago Norte chama a atenção dos moradores, que temem infestação de carrapatos

Lucas Neiva

17/08/2020 6h06

O avistamento de capivaras na orla do Lago Paranoá no Lago Norte aumentou de forma considerável desde o início da pandemia. Em 2019, o Batalhão de Polícia Militar Ambiental do Distrito Federal (Bpma) foi acionado 20 vezes ao longo do ano para lidar com esses animais. Em 2020, foram 16 vezes apenas entre os meses de janeiro e julho.

Segundo o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), as capivaras habitam o Lago Norte desde a década de 1970. As primeiras capivaras saíram do Parque Nacional de Brasília, chegando no Lago Paranoá por meio dos córregos que o abastecem. Em 2017, a orla do lago ao redor da península foi desocupada, abrindo espaço para o trânsito tanto de pessoas quanto de capivaras. O Ibram associa a liberação da orla ao aumento nos avistamentos.

Segundo o major Adelino, comandante do Bpma, as capivaras são animais dóceis, não havendo registro de ataques de capivaras no Distrito Federal. As ocorrências em que o Bpma é chamado para lidar com capivaras estão relacionadas a situações de risco ao próprio animal. “Essas ocorrências são de resgates de capivaras que se machucaram ou foram atropeladas”.

Explica também que esses acidentes costumam acontecer quando as capivaras entram em áreas urbanas, e não quando estão em seu habitat natural, que é a orla dos cursos de água “Elas costumam ser vistas passeando na beira do lago. É o habitat natural delas. É onde tem água e grama em abundância, e por isso elas vão pastar naquela região”.

Preocupação de moradores

Segundo o Ibram, não há ainda algum estudo conclusivo acerca do tamanho da população de capivaras no Lago Norte, o que torna difícil identificar se o aumento dos avistamentos possa ou não ser resultado de um crescimento no número de capivaras. Mas esse aumento nos avistamentos divide a opinião dos moradores da península.

Todos os moradores procurados pela reportagem afirmam acreditar que a população de capivaras de fato tenha aumentado. “No início, eu as via rarissimamente lá na estação de biologia da UNB e ficava maravilhado. Mas de uns 10 anos para cá, a coisa mudou de figura. Vem aumentando sistematicamente o número delas. A presença delas é comum na rua onde eu saio para remar. Já tentei contar e sempre tinha mais de 40 membros”, relata o morador da QL 14 Marcelo Pompeu, morador do Lago Norte há 35 anos.

Muitos moradores se preocupam com a possibilidade de transmissão de carrapatos pelos roedores. “Eu acho elas lindinhas, mas não podemos esquecer que estão ficando infestadas de carrapatos que transmitem a febre maculosa”, afirma a moradora do Lago Norte e estudante de medicina veterinária Mônica Staciarini.

Outros moradores já defendem a permanência dos animais. “Só vejo o povo reclamando delas, mais nunca peguei nenhum carrapato e sempre vou para perto delas. Elas compõem a natureza, deveriam ser deixadas em paz. A humanidade que tem que se adaptar ao convívio com com elas”, afirma Idemes Santos, fotógrafa moradora do Lago Norte.

Cuidados necessários

Apesar de não haver registro de ataques de capivaras no Distrito  Federal, é importante preservar o espaço das capivaras para que não hajam problemas. É o que explica a bióloga Isolda Monteiro. “As capivaras são muito territorialistas. Elas mantêm uma hierarquia entre elas, na qual o macho alfa também é muito territorialistas. Elas vivem em bandos, e caso se sintam ameaçadas, podem acabar atacando”. O cuidado com a distância deve ser redobrado em relação a animais de estimação, que não sabem como reagir na presença dos animais.

Isolda também alerta para o risco de transmissão da febre maculosa, uma doença multissistêmica que é transmitida pelo mesmo tipo de carrapato que ataca as capivaras. “De início ela provoca apenas dor de cabeça, tontura, vômito ou febre. (…) Mas há uma série de problemas que essa doença pode trazer”, explica. Mas apesar de fazer parte do ciclo da febre maculosa, o Ibram afirma que não houve registro da doença no Distrito  Federal ao longo da última década.

Controle populacional

De acordo com o Ibram, medidas de controle populacional só podem ser implementada quando já houver a constatação de que há a superpopulação de uma espécie e que essa espécie possa trazer risco iminente à saúde humana. Atualmente, o Ibram afirma estar “trabalhando em um termo de referência para a realização de um estudo amplo de monitoramento das populações de capivaras que tem como objetivo verificar quais os padrões de deslocamento dessa espécie na área entre outros fatores ecológicos inerentes da espécie”.

O Ibram também é responsável por gerir a área de preservação na orla do Lago Paranoá, onde as capivaras são frequentemente vistas. O instituto afirma que trabalha em conjunto com a Diretoria de Vigilância Ambiental para realizar uma vistoria  no local e sugerir modificações que possam impedir que as capivaras tenham acesso.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado