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Brasília

Atrasos na Sanoli geram revolta

Funcionários da empresa que fornece refeições para hospitais do GDF estão sem salário e 13º

Redação Jornal de Brasília

12/12/2019 5h00

Pedro Marra
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Salários atrasados, 13º, férias e FGTS não pagos a funcionários geraram uma crise financeira na Sanoli, empresa de alimentação que alega não pagar os próprios trabalhadores por não ter recebido cerca de R$ 42 milhões da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) desde 2014 referentes a uma atualização financeira dos valores da data-base dos funcionários.

Parte dos cerca de 2,5 empregados da empresa já ameaçam cruzar os braços caso não recebam as verbas a que têm direito. Um deles é Agenilton Francisco, 29 anos, assistente de confeitaria há pouco mais de três anos no Hospital Regional do Gama (HRG).

“Nosso pagamento era para ter saído desde a semana passada. Não recebemos o nosso 13º, nem a primeira e nem a segunda parcela. Não dá mais para continuar trabalhando nessa empresa. Meu aluguel está atrasado desde o dia 5 deste mês, ainda não paguei fatura de cartão de crédito”, protesta.

Há quatro anos como garçonete no escritório central da Sanoli, uma funcionária que pediu para não ser identificada, disse que não recebeu o pagamento do 13º salário e nem o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

“Eles alegam que não têm dinheiro no caixa para fazer pagamento para a gente, que o GDF está devendo, só que a dívida é antiga. Estamos meio que sem saber o que fazer, por isso vamos fazer uma greve geral. Eles cancelaram até as férias da gente. Eu tenho um ano de atrasos. Um mês nos pagam, em outro, atrasam”, revolta-se a funcionária.

Uma copeira do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), que também não quis revelar a identidade, pegou férias agora em novembro, e ainda espera receber o 13º salário da Sanoli. Há oito anos na empresa, ela já teve propostas para sair.

“Diz no nosso contrato que o pagamento é no primeiro dia do mês. Mas teve vezes que eu recebi até no dia 20. Tem oito anos que trabalho lá como copeira, e já tive várias oportunidades de trabalhar em outros lugares. Um deles é de copeira num Ministério. Espero também uma resposta de um concurso do Hospital Sarah Kubitschek, e outra oportunidade numa empresa particular. Mas eu não vou jogar fora os meus oito anos na Sanoli”, afirma.

A empresa alega que abriu processo contra a pasta, que tramita dentro da própria Secretaria de Saúde do DF, na tentativa de receber o suposto valor alegado de R$ 42 milhões. A Sanoli espera “normalizar os pagamentos assim que receber os valores da SES-DF”, diz a assessoria de imprensa da companhia.

Por sua vez, a Secretaria afirmou, em nota, que “os processos existentes relativos à dívidas indenizatórias com a Sanoli ainda estão em análise.”

Conversa com funcionários

Em vídeo recebido pela reportagem, um representante da Sanoli aparece conversando com funcionários, que o questionam sobre o atraso nos pagamentos.

“Os R$ 42 milhões que o governo deve, ele [GDF] não quer pagar, fala que não é gestão Ibaneis, verdade. Só que nós não trabalhamos para o Ibaneis, trabalhamos para o GDF. Esses R$ 42 milhões são justamente verbas trabalhistas, salários, data base. São datas-base que nunca foram repassadas. Isso já está judicializado, está ganho, existe a dívida reconhecida, só que o governo, a atual gestão diz que não é dívida deles”, explica ele.

Ainda durante o bate-papo, o representante segue justificando o uso do valor pago pelo GDF.

“Foi passado R$ 72 milhões esse ano? Foi, senão a gente não estava aberto. Os senhores sabem quanto a gente gasta em média por semana de compras? Só em compras? Um milhão e meio. Os senhores sabem, que operam aqui dentro. A nossa folha salarial são R$ 2,5 milhões. Então quando se fala em R$ 5 milhões, R$ 6 milhões de faturamento por mês, é o que a empresa gasta. Só que falta o que eles não pagaram, porque todas as data-base da empresa foram cumpridas. Isso não foi pago para a empresa. Isso custa R$ 42 milhões”, diz.

Sem previsão de 13º

Os trabalhadores da companhia também não receberam o pagamento do 13º, nem o salário de novembro. Quando perguntada sobre outras formas de juntar dinheiro para quitar os pagamentos dos funcionários, a assessoria de imprensa da Sanoli disse que “tem outros contratos, mas todos os lucros desses contratos foram usados para abastecer o capital de giro da empresa. O valor devido pelo GDF deixou a empresa sem qualquer alternativa.”

Com a alegada dívida do Governo do DF com a Sanoli, a empresa diz que não conseguiu pagar a folha de novembro nem a primeira parcela do décimo terceiro. “Esperamos normalizar os pagamentos assim que recebermos os valores da SES-DF”, informa.
Braços cruzados

A partir do expediente de hoje, funcionários prometem iniciar uma greve por volta de 8h contra os atrasos salariais em frente ao escritório central da Sanoli, no Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (Saan).

Com o entrave na negociação, a Sanoli suspendeu, desde ontem, parcialmente, a alimentação de servidores e acompanhantes de sete hospitais e três Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Distrito Federal. A Sanoli ainda fornecerá alimentação para os acompanhantes especiais, “até esgotar o atual estoque de matéria-prima e enquanto tenhamos um quadro mínimo indispensável de distribuição das refeições”, diz a empresa.

Com a decisão, sete hospitais e UPAs serão afetados. Os hospitais são: Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), Hospital Regional do Gama (HRG), Hospital Regional da Ceilândia (HRC), Hospital Regional de Samambaia (Hrsam) Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) e Hospital Regional do Guará (HRGu). As UPAs dos DF afetadas pela suspensão parcial são as do Gama, Ceilândia e Samambaia.

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