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Brasília

Atividades religiosas essenciais são para “saúde mental”

Em publicação do GDF, lei determina o livre exercício do culto, mesmo em estado de calamidade pública

Pedro Marra

14/07/2020 11h45

Após o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), reconhecer no Diário Oficial as atividades religiosas como serviços essenciais no DF, igrejas evangélicas, católicas, centros espíritas e templos de qualquer credo continuam abertos com aval do GDF durante a pandemia do novo coronavírus. A principal alegação é a de que são serviços de apoio psicológico às pessoas nesta pandemia de covid-19.

O pastor Josimar Francisco da Silva, presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal, concorda com o argumento de essencialidade dos espaços religiosos. “Estamos em uma situação atípica no DF e em todo o planeta. Neste período, aumenta a ansiedade, o estresse, conflitos familiares, e também aumenta muito o suicídio por falta de equilíbrio emocional, social e espiritual. É aí onde se justifica ser essencial a grande contribuição da igreja com orações e apoio para vencermos esta crise. Deus vai continuar sendo onipresente, onisciente e onipotente com pandemia ou não”, opina.

Ele diz que o DF possui aproximadamente 4 mil templos evangélicos, e que os espaços seguem as recomendações impostas pelo GDF, como distanciamento de 2 metros e sem aglomerações. “Estamos funcionando com muita restrição cuidado e responsabilidade, seguindo todos os protocolos estabelecidos pelas autoridades competentes.”

O padre Rafael Souza, da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, reforça que é necessário o Estado reconhecer as igrejas como forma de apoio mental aos fiéis. “Nós primamos pelo ser humano por completo, a sua dimensão física e psíquica. E a religião tem colaborado para dar sentido à vida das pessoas. Neste período em que a pandemia tem passado muito medo ao ser humano, a religião vem como um consolo para aqueles que sofrem e aos que perdem alguém. É muito importante para nós que o Estado reconheça o que se já existe, que é a presença da igreja na relação com Deus e com o próximo, até porque é no sofrimento que damos esperança e força”, comenta.

O sacerdote explica quais medidas de segurança tem adotado em sua igreja. “A segurança precisa ser primada, pois temos uma responsabilidade com a vida. Tanto que colocamos o tapete sanitizante, o álcool em gel e temos distanciamento. Tudo isso será mantido. Mas que as medidas de segurança devem ser cobradas para todos, porque a vida é mais importante neste momento”, complementa.

Um dos que contesta o decreto é o presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Rafael Moreira. Segundo ele, são 330 terreiros mapeados em Brasília, em um total de 700 dentro do DF, e 2 mil terreiros em Brasília e Entorno. Para ele, a preocupação maior nesses espaços é com os sacerdotes, que são idosos em sua maioria, justamente pessoas do grupo de risco do novo coronavírus.

“A lei foi votada por uma bancada evangélica, onde há uma pressão dos pastores para o funcionamento das igrejas. A Federação entende que o decreto é necessário para a reabertura dos templos religiosos, mas não apoiamos a reabertura das casas neste momento. Isso porque a maioria dos nossos pais e mães de santo são idosos. A gente não tem capacidade de colocar uma pessoa a 2 metros de distância da outra. Os nossos terreiros funcionam em residências, passar ervas no corpo da pessoa, às vezes tocando no corpo, e automaticamente você pode esbarrar em alguma parte”, analisa.

A lei ainda determina o livre exercício do culto, mesmo em estado de calamidade pública. Em cima disso, Rafael critica ainda a parcialidade da decisão. “A lei foi votada por uma bancada evangélica, onde há uma pressão dos pastores para o funcionamento das igrejas. Com isso, o funcionamento das nossas casas aberta ao público coloca em risco os nossos sacerdotes e sacerdotisas”, reforça.

“Para manter a saúde mental”, diz deputado

De autoria do deputado distrital Rodrigo Delmasso (Republicanos), a lei nº 6.630 deste ano, tem entre os critérios, o argumento de que “a liberdade de culto deve ser garantida, nos termos da Constituição da República Federativa do Brasil e da Declaração Universal dos Direitos Humanos.”

À reportagem, o parlamentar explicou outro motivo para ter levado a lei à frente na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF): o psicológico. “Vários psiquiatras dizem que é notório em momentos de isolamento: a religiosidade é extremamente importante para manter a saúde mental das pessoas. É o que foi definido para que eu apresentasse esse projeto de lei”, afirma.

“Claro que nós estamos à favor da vida. Esse assunto foi debatido nas comissões de assuntos sociais da CLDF. Mas neste momento de isolamento social, a religiosidade é uma grande aliada para o combate de outras doenças que causam males à saúde mental, uma delas é a depressão. Por isso é importante que as atividades religiosas ajudem nessa hora”, declara Rodrigo Delmasso.

De acordo com o decreto, também são consideradas atividades religiosas essenciais as realizadas dentro e fora dos templos religiosos. Isso assegura aos fiéis o livre exercício de culto, ainda que em situações de calamidade pública, de emergência, de epidemia ou de pandemia.

Procurado pela reportagem, o GDF enviou uma nota. “A lei reconhece atividade essencial o que, na prática, sempre foi respeitado pelo Governador Ibaneis Rocha durante toda a pandemia, na medida que as Igrejas não foram em momento algum fechadas no DF e todas as regras e limitações impostas ao pleno funcionamento justificadas pela crise sanitária vivida. Ou seja, a forma como as igrejas vinham sendo tratadas não muda”, diz o texto.

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