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Brasília

Após racha que matou mãe e filho, Rollemberg pede mais fiscalização

Arquivo Geral

02/05/2017 10h50

Myke Sena/Jornal de Brasília

Daniel Cardozo e
Jéssica Antunes
[email protected]

Após o racha que matou mãe e filho na L4 Sul, o governador Rodrigo Rollemberg disse, nesta terça-feira (2), ter pedido para intensificar a fiscalização no trânsito durante os fins de semana. “Lamentamos e nos solidarizamos com as famílias vítimas dos acidentes acontecidos no último fim de semana e pedimos intensificação das fiscalizações principalmente nos fins de semana para inibir a continuidade da combinação álcool e direção no trânsito”, afirmou.

Os suspeitos de disputar o “pega” confessaram o consumo de bebida alcoólica antes de dirigir, mas não foram presos. O sargento do Corpo de Bombeiros Noé Albuquerque Oliveira, 42 anos, e o advogado Eraldo José Cavalcante Pereira, 34, se apresentaram e negaram as acusações, apesar de terem se recusado a fazer o teste do bafômetro, e de uma testemunha assegurar que houve “pega”. A Polícia Civil já trabalha com hipóteses de indiciamento e eles podem responder por morte em decorrência de corrida ilegal, além de homicídio doloso ou culposo, o que será definido de acordo com as investigações.

No domingo à noite, um Ford Fiesta seguia com quatro pessoas na L4 Sul, sentido Zoológico, quando foi atingido, saiu da pista, bateu em uma árvore e capotou. Dentro dele estavam Elberton Silva Quintão, 37 anos, Osvaldo Clemente Cayres, 72, Cleusa Maria Cayres, 69, e Ricardo Clemente Cayres, 46. Os dois últimos morreram no local.

Antes de perder o controle, o Fiesta foi atingido por um Jetta dirigido por Eraldo Cavalcante, que prestou depoimento por cerca de duas horas na 1ª DP (Asa Sul). Ele admitiu ter tomado “uma lata de cerveja” no começo da tarde, mas negou estar em alta velocidade. “Ele disse que, quando mudou da faixa do meio para a da esquerda, não percebeu a freada do Fiesta e não conseguiu frear a tempo”, disse o delegado João Ataliba.

Flagrantes de irresponsabilidade

Em operações de sexta-feira até a madrugada de ontem, o Detran e a Polícia Militar autuaram 77 condutores por dirigir após a ingestão de bebida alcoólica. Quatro deles foram conduzidos à delegacia por apresentar concentração de álcool superior a 0,3 miligrama por litro de ar alveolar, que é considerada crime. Ainda foram flagrados 15 motoristas inabilitados e 129 veículos foram removidos ao depósito.

À polícia, Eraldo disse que fugiu a pé, por estar assustado. Com a frente destruída, o Jetta foi deixado. O depoimento foi prestado no fim da tarde, depois do contato entre o advogado e a Polícia Civil ocorrer durante toda a segunda- feira. Um pedido de prisão preventiva foi cogitado pelo delegado antes da apresentação espontânea. Eraldo e o advogado deixaram a 1ª DP sem falar com a imprensa.

Mais cedo, o condutor do Land Rover Evoque que também participaria do racha, o bombeiro Noé Albuquerque, esteve na delegacia e apresentou uma versão idêntica: de que havia bebido também uma lata de cerveja e de que não houve racha. Mesmo tendo entregue o documento do carro e a carteira de habilitação a um agente do DER, Noé deixou o local quando foi mencionada a possibilidade de teste do bafômetro. Em depoimento, o bombeiro afirmou que estaria levando a mulher para o hospital devido a um mal-estar desde antes do acidente. O suspeito garantiu ter prestado socorro às vítimas.

Myke Sena/Jornal de Brasília

Myke Sena/Jornal de Brasília

Perícia apontará conduta e velocidade

Uma terceira motorista envolvida, a militar do Exército Fabiana Albuquerque Oliveira, 37 anos, prestou depoimento ainda na cena do crime, já que foi a única que permaneceu no local. Condutora de um GM Cruze, ela voltava da mesma festa em que estavam o irmão Noé e o cunhado Eraldo. O veículo de Fabiana acabou atingido na lateral esquerda durante o acidente. A polícia já não trabalha mais com a hipótese de que Fabiana teria participação na colisão. Ainda assim, ela também pode ser indiciada, uma vez que, da mesma forma, negou o teste do bafômetro.

Os próximos passos da investigação serão definir as circunstâncias do acidente. A perícia no local determinará se os dois veículos estavam ou não acima da velocidade da via e se houve conduta perigosa por parte dos envolvidos.
Apesar da falta de provas sobre a ingestão de álcool – não foram coletados testes do bafômetro – , os investigadores poderão apurar junto aos outros convidados da festa se os suspeitos beberam ou não.

Após os depoimentos, o delegado José Ataliba falou também sobre a possibilidade de coleta de provas, caso exista monitoramento por câmeras na Avenida L4. “A gente tem que ver se existem essas imagens, se o radar captou algum excesso de velocidade para saber se houve de fato esse racha. O depoimento (de Eraldo) foi convincente. É claro que tem algumas contradições que precisamos checar, algumas informações divergentes, até das familiares que foram ouvidas ontem”, disse.

Os laudos têm prazo de 30 dias para serem concluídos, mas, devido à complexidade do caso, já existe a expectativa de que essa espera possa ser mais longa. Também será investigada a fuga dos envolvidos em um Fiat Uno depois do acidente. Nesse caso, a dona do veículo, também familiar dos suspeitos, poderia ser responsabilizada legalmente. O carro consta no sistema da Secretaria de Segurança Pública como supostamente roubado.

Em nota, o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal informou que todas as informações sobre o sargento Noé Albuquerque serão prestadas à Polícia Civil.

Dor e impunidade

Reprodução/TV Globo

Reprodução/TV Globo

A família das vítimas passou o dia no Instituto Médico Legal aguardando a liberação dos corpos. Ricardo Clemente Cayres e sua mãe, Cleuza Maria Cayres, serão cremados – um desejo manifestado ainda em vida –, e não haverá velório. Renato Cayres, filho e irmão das vítimas, informou ao Jornal de Brasília que o pai e o cunhado receberam alta do Hospital de Base.

Osvaldo Clemente Cayres, 72, estava no banco do passageiro e teve escoriações pelo corpo, mas passa bem. O condutor do veículo, Elberton da Silva Quintão, 37 anos, genro do idoso, teve ferimentos e luxações, está em choque e, segundo os familiares, tem lapsos de memória. “Ele esquece o que aconteceu. Chora muito e faz perguntas sobre o caso, se estava no acidente, se dirigia”, contou Renato. Antes do acidente, a família estava em uma festa no Jardim Botânico e os pais seriam levados para casa, no Guará.

Renato soube do acidente pelo pai, que já estava no hospital e não sabia as consequências da capotagem. A caminho da unidade de saúde, na Asa Sul, o filho viu o carro e deduziu, pelos panos estendidos, a morte dos parentes. “Sem punição, as pessoas perdem a consciência dos próprios atos. A gente fica sem chão não só pela perda, mas por saber que um ato de irresponsabilidade pode ficar por isso”.

Cleuza era tida como sentimental, solidária e estava feliz com a chegada de um neto. Mãe de quatro filhos, será cremada junto a um deles, o desenhista industrial Ricardo – centrado e trabalhador. “A pessoa sabe o que fez e ficará, para sempre, com isso nas costas. Não tem justiça maior que uma culpa assim. É claro que ninguém sai com a intenção de matar. Agora, uma pessoa que bebe, pega um carro potente, corre e causa morte é culpada, sim”, acredita.

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