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Brasília

Aos 100 anos, Eiichi Sato faz artesanato, dirige, dança e esbanja disposição

Arquivo Geral

29/01/2018 7h33

Foto: Myke Sena

João Paulo Mariano
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“Na minha vida não há remorso. Como vou deixar esse mundo maravilhoso?”. O dono desta frase é Eiichi Sato, um japonês que resolveu construir raízes no Distrito Federal, mas que faz questão de carregar sua ancestralidade em fotografias, roupas, gestos e na paixão pelo país do Sol Nascente, que fica do outro lado do mundo. Nascido no dia 28 de janeiro de 2018, o homem viu guerras sendo formadas, a paz sendo buscada e todo o turbilhão de informações que foi o século passado. Ontem, foi o dia dele receber homenagens pelo centenário, vindas de familiares e amigos na Bunkyo DF – Sociedade Cultural Nipo Brasileira de Brasília.

A casa de Eiichi, em Taguatinga, é um memorial construído para matar a saudade das coisas boas vividas em 100 anos de vida. Seja pelas pinturas relacionadas ao Japão nas paredes, ou pelas fotos que estão distribuídas até pelo teto e que contam parte do que ele e seus familiares viveram, ou pelos objetos e instalações criadas por ele. Uma das maiores está na garagem – ela tem ponte, elefantes que jorram água e uma representação do Monte Fuji, um dos pontos turísticos do Japão.

Mas, é na parte de trás da casa que fica um dos locais que Eiichi mais aprecia na casa: o ateliê. É lá que ele ainda fabrica diversos produtos de madeira e lembra da época em que era responsável por fazer leques. O homem faz questão de mostrar como tudo funciona. Para isso, corre de um lado para o outro da casa, sem perder o fôlego ou reclamar, mostrando tudo aos convidados. Não fica sentado em nenhum momento.

Um dos quatro filhos vivos de Eiichi (a filha mulher faleceu), Eikiti Sato, conta que o pai sempre foi assim. “Nunca foi depressivo. Nunca reclama. Ele é do prazer”, afirma. Quando o idoso quer ir mais longe, utiliza o carro, já que adora dirigir e faz com frequência. Eikiti se emociona ao falar sobre o sentimento de ver o pai fazendo 100 anos. “Ele faz magia sem ser mágico. Consegue reunir familiares que não se viam há 50 anos”, diz.

Quer chegar aos 115 anos

Viver bastante é uma característica da família Sato, pois o pai do aniversariante viveu até os 99 anos. Para Eiichi, não há muito segredo sobre sua longevidade: “Como muito sushi e comida japonesa. Coisa saudável”. A vontade dele é viver até os 115 anos, porque já teve gente que viveu até os 113.

A neta Akemi Araújo Sato, 13, afirma que fica muito feliz de conviver com o avô, já que ele é “uma inspiração para todos”. A menina assegura que tenta manter as tradições tão defendidas por ele e que acha importante dar atenção a isso. Já o bisneto Felipe Yudi Sato, 12, acha que Eiichi é um dos japoneses mais idosos que vivem no DF e isso é motivo de muito orgulho.

Ao todo são 14 netos, 11 bisnetos e dois tataranetos: um de sete anos e um de dois. Para reunir todos na hora de tirar as fotos na comemoração dos 100 anos, não foi fácil. Era muita gente para pouco espaço, até porque vieram convidados de todo o Brasil. A festa foi preparada por familiares e por amigos do Bunkyo e contou com a presença de integrantes de sua fundação e diretoria, como Shigueo Matsunaga e Tatsuo Matsunaga, com mais de um ano de antecedência e, se depender de Eiichi Sato, vão ter que preparar uma celebração de 101 anos em 2019. Só não pode esquecer do karaokê e das danças orientais, algumas das suas paixões.

Perfil

– Eiichi lembra a todos que o perguntam que ele foi registrado com um ano de atraso. Assim, de acordo com a certidão, ainda tem 99. Mas, na verdade, completou um século de vida. Além de dirigir e caminhar por todos os lugares, ele gosta muito de artesanato. Para o próprio aniversário, ele produziu mais de 500 canecas de bambu que foram dadas como lembrança. Tudo demorou quase um ano para ficar pronto.

– Nascido na província de Hokkaido, desembarcou no Porto de Santos (SP), após mais de 60 dias de viagem, junto com a família, em 1922. Desde muito novo, aprendeu a fazer de tudo um pouco. Acabou se especializando em marcenaria pela engenhosidade e habilidade que tinha para criar objetos ou tratá-los. Depois, foi motorista de caminhão fretado, lá pelos anos 1930.

– Chegou a Brasília em 1971. Com pouco tempo de Capital, resolveu tentar a vida como agricultor no Incra, na região de Brazlândia. Deu tão certo que ganhou premiações e continuou no campo até a aposentadoria. Um tempo depois, bateu saudade do Japão. Assim, aos 85 anos, Eiichi desembarcou em sua terra natal. Trabalhou por quase dois anos animando hóspedes em hotéis.

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