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Brasília

Adriana Vilela: julgamento completa um ano

Maior Tribunal do Júri da história do DF terminou com a condenação da ré por assassinato

Redação Jornal de Brasília

02/10/2020 6h35

Olavo Davi Neto e Vitor Mendonça
[email protected]

Após mais de 103 horas de julgamento, há um ano, tinha fim o maior Tribunal do Júri da história da capital: Adriana Villela fora julgada como culpada pelo assassinato dos pais, José Guilherme e Maria Villela, mortos em casa, e de Francisca Nascimento da Silva, funcionária do casal, em 2009. Juntos, os três levaram 73 facadas, de acordo com o laudo, e foram encontrados em 1º de setembro – três dias depois de falecerem.

Com duração recorde, centenas de pessoas foram atraídas diariamente ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), no SIG, para o julgamento do “Crime da 113 Sul”, como se convencionou a chamar na época o assassinato que fora cometido dentro do apartamento da família Villela.

67 anos

Ao final do maior julgamento por Tribunal do Júri do Distrito Federal, o magistrado Paulo Giordano proferiu a sentença dos jurados, que condenaram Adriana Villela como mandante da execução dos pais a 30 anos de cadeia por cada morte do episódio.

Pelo princípio da razoabilidade, Giordano retirou o tempo de reclusão pelo assassinato de Francisca, mas manteve a do casal. Assim, a arquiteta foi sentenciada a 67 anos e seis meses em regime fechado – pela lei brasileira, o tempo máximo de cumprimento de pena é 32 anos.

O dia 2 de outubro foi uma espécie de encerramento para um caso que já durava uma década.

Videntes e tortura

Nesse meio tempo, a delegada que primeiro assumiu o caso, Martha Vargas, da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), utilizou de métodos heterodoxos, como consultas à vidente Rosa Maria e tortura.

Três anos antes do julgamento de Adriana, o TJDFT condenou a então delegada a 16 anos de prisão por fraude processual, falsidade ideológica, violação do sigilo profissional e tortura.

Ao Jornal de Brasília, dois dos mais representativos personagens do julgamento expuseram as opiniões depois do completo um ano da sentença.

De um lado, a acusação ainda tenta maior severidade no resultado do julgamento, com aumento da pena. Do outro, a defesa tenta ainda a nulidade do júri quanto à decisão que foi tomada.

“Soberania do Júri”

Maurício Miranda, procurador de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) foi incisivo ao dizer que “a soberania do Júri é, acima de tudo, um princípio natural do sistema judiciário. “É constitucional”, afirmou. Para ele, o trabalho feito pela acusação foi satisfatório, uma vez que obtiveram êxito quanto ao que buscavam: a condenação de Adriana. Entretanto, ainda tentam aumentar o tamanho da pena recebida pela ré.

“Estamos buscando um aumento da pena – tentando comprovar, por critérios técnicos que Adriana merece uma pena maior”, afirmou o procurador.

Segundo ele, trata-se de um aumento seguindo a soma dos crimes, uma vez que haveria motivações diversas para pelo menos um deles – contra a empregada da família.

“A maior injustiça do DF”

Para Marcelo Turbay, um dos advogados de defesa da ré, o modelo de Tribunal do Júri “é uma instituição falida”.

“Precisa acabar no Brasil. Já foi completamente distorcida, não satisfaz mais o propósito para o qual foi criado – que é de solidariedade e de se colocar na posição do outro que está no banco dos réus. Hoje, o que o país vê é o assolamento de uma onda de intolerância e injustiçamento em que as pessoas tentam recuperar suas frustrações”, opinou.

“Tudo o que fizemos foi com muita convicção e certeza. Temos o sentimento de dever cumprido, misturado com o sentimento da maior injustiça da história do Distrito Federal.”

Turbay e toda a equipe que trabalhou a favor de Adriana Villela, acreditam na inocência da acusada, baseando-se nos álibis alegados e, segundo a defesa, comprovados por outros elementos materiais e concretos como comprovantes de pagamentos com cartões e relatos de testemunhas.

“Fizemos todo o percurso feito por Adriana naquele dia, montamos o encaixe de horário, hora por hora, e é impossível que ela tenha estado na cena do crime, como afirmou a acusação”, afirmou Turbay. “Esse álibi é irrespondível.”

Outra das teses apoiadas pela defesa trata da nulidade do caso, isto é, elementos que demonstrem a falta de credibilidade para a validação do resultado obtido. “Em virtude de uma jurada ter talvez faltado com lealdade. Levantamos que ela teria se manifestado contra um dos advogados de defesa”.

“Isso é uma farsa”, disse a condenada

A jurada contestada pela defesa negou as acusações. Mas, segundo os advogados, as suas redes sociais mostravam o contrário. “Manifestações que ela, depois, acabou apagando”, disse o advogado de Adriana Vilela.

O depoimento de Adriana foi um dos momentos altos do julgamento. Na fala, a arquiteta não poupou palavras para desmerecer as acusações. De acordo com o relato, ela esteve em dois cursos e, por volta das 18h, na casa de uma amiga na Vila Planalto para um lanche.

“Eu lembro de cada detalhe daquele dia”, afirmou Adriana ao magistrado. Além disso, questionou a razão de não haver comparação de relatos entre os homens apontados como executores do triplo homicídio.

Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do prédio onde morrera o casal, e Francisco Mairlon foram condenados a 60 e 55 anos de prisão e, 2012; Paulo Cardoso Santana, amigo de Alves, e homem que apontou a existência de uma mandante para o assassinato, foi sentenciado a 62 anos de reclusão. Em depoimentos gravados, Paulo chegou a mostrar onde encontrara com Adriana para combinar os detalhes.

Saiba Mais

Leonardo reconstituiu encontros num ponto de ônibus do Eixo W, na altura da 207 Sul, onde haveria reuniões para combinar o assassinato.

Esse ponto foi citado pela então ré para apontar ditas incongruências na narrativa da acusação. De acordo com os depoimentos e o vídeos da reconstituição do crime, Leonardo apontou que o carro em que Adriana passou três vezes por eles – parando no terceira para pagamento do serviço – era um Gol preto.

Segundo Adriana, o veículo é “prata”. Para ela, toda a tese acusatória era ilusória. “Nunca foi feita uma acareação entre mim, o Leonardo, o Paulinho e o Mairlon, porque a única coisa que desmoronaria seria essa farsa montada pela acusação”, declarou.

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