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Brasília

Adolescentes melhoram alimentação na pandemia, segundo estudo

Segundo pesquisa, eles ainda não resistem a um fast food, mas já estão comendo mais legumes e frutas

Vítor Mendonça

23/11/2020 6h25

Recente estudo sobre a alimentação de adolescentes do Brasil, Chile, Colômbia, Espanha e Itália demonstraram que os hábitos alimentares dos jovens de 10 a 19 anos melhoraram consideravelmente durante o período de confinamento devido à pandemia da covid-19.

O levantamento publicado no periódico científico Nutrients mostrou que a ingestão de legumes e frutas aumentou e o consumo de fast foods caiu. No entanto, os doces também passaram a ser mais frequentes na alimentação dos adolescentes.

O Brasil foi o país que registrou mais destaque no consumo de legumes, e teve quase o dobro de ingestão da Espanha e Colômbia e aproximadamente o triplo do Chile; mas também o que mais mostrou o consumo de doces e carne processada. Se manteve baixa a ingestão de frituras, mas o fast food, apesar de consideravelmente abaixo dos outros índices, foi mais consumido entre os jovens brasileiros, com níveis similares na Colômbia e Chile.

Alimentos saudaveis-Foto Freepik

Os dados foram recolhidos de 820 jovens dos cinco países, onde, com relação ao padrão de consumo de hortaliças e frutas entre os adolescentes, a pesquisa mostra aumento de cerca de 8% – 43% deles consumiram vegetais todos os dias durante o confinamento, contra 35,2% que consumiam antes. Dentro de casa, consumiram pelo menos uma peça de fruta cerca de 33,2% deles, contra 25,5% antes da covid-19.

Quanto ao fast food, o alimento pouco nutritivo foi consumido menos de uma vez por semana por 64% dos participantes durante o confinamento – anteriormente a porcentagem era de 44,6%. O consumo diário de doces, porém, cresceu de 14% para 20,7% na pandemia. De acordo com a nutricionista Laís Monteiro, da Clínica Excellence, o estresse, a ansiedade e a mudança na rotina de sono foram fatores para o consumo de tais alimentos.

“A maioria passou a dormir e acordar mais tarde. O período encarado como “de férias” no início da pandemia por muitos gerou uma descompensação do organismo. É como se fosse, muitas vezes, como uma válvula de escape para suprir uma questão emocional  de insegurança e medo [gerada pela pandemia e confinamento]”, considerou. Por outro lado, o receio da contaminação também foi um dos fatores de motivação para a mudança dos hábitos dos adolescentes.

“Em primeiro lugar, estando os pais em casa, por mais que haja os aplicativos de entrega, o controle é maior e o desvio alimentar é mais limitado, já que agora podem cozinhar para a família. Muitos filhos passavam grande parte do dia em escolas integrais, com a alimentação relaxada, o que contribuía para um mau hábito. Em segundo lugar, o medo [do vírus] também pode ser um dos fatores para buscar a melhora da imunidade, o que também incentivou a prática de atividades físicas”, afirmou.

Do refri para a água

Na casa da chef de cozinha Anna Caroline Lourenço Marra, 41 anos, mãe de Maria Luísa, 23, e das gêmeas Maria Carolina e Mariana, 15, a mudança apontada pelo estudo foi evidente. A mãe percebeu que, principalmente na alimentação das adolescentes, a mudança de hábitos foi “uma vitória”, segundo ela. “Antes da pandemia era um hábito errado e desregulado, cheio de fast food, mas agora passam a comer mais frutas, alimentos integrais e trocaram a comida errada pela certa. Trocaram até o refrigerante pela água”, relatou.

“No início não achei que fosse ser uma coisa permanente, porque, estando em uma fase de muita vaidade, antes, na cabeça delas, só pensavam em dietas sem noção. Mas o que favoreceu [para a mudança] foi a quantidade de dias [de confinamento]. Se fosse um ou dois meses, não teriam criado essa mentalidade, mas hoje vejo que criaram essa noção sim, que realmente precisam se alimentar melhor. Costumam agora a pegar coisas sem glúten no mercado e até a me corrigir em muitas coisas”, contou.

Anna percebeu que as filhas notaram a qualidade de vida e saúde que passaram a ter e, agora, até o pai, Fabrício Marra, 45, – um “ex-gordinho”, segundo a mãe – passou a ter mais consciência dos benefícios da alimentação saudável e controlada. “Meu marido ama junk food [comidas ‘lixo’] e, enquanto eu ofertava um suco de fruta para as meninas, ele colocava uma garrafa de coca cola – e claro que adolescentes querem coca”, comentou. 

“Mas quando perceberam estar menos inchadas e que a alimentação influencia na estética  e na vaidade feminina, tivemos voto vencido e agora brigamos com ele. Ele tomou consciência e passou a ter hábitos mais saudáveis pela pressão que fizemos nele também. A quarentena nos ajudou a ter uma reeducação alimentar.”

O consumo de doces, ao contrário do que indicou a pesquisa, caiu também na casa da família Marra. Antes repleto de sobremesas, os alimentos mais açucarados foram trocados de pudins para paçocas e de chocolates ao leite para os de cacau 70%. “Até uma tradicional pipoca que temos aqui passou de achocolatado para o cacau em pó”, acrescentou Anna.

“Nunca é tarde”

Ainda de acordo com a nutricionista Laís Monteiro, “nunca é tarde para começar”. Ela explica que a alimentação saudável é um processo que “está sempre em construção, e por isso, a persistência é essencial. “É importante que se esforcem para que se mantenha [a alimentação saudável]. Não precisamos esperar situações extremas para mudar aos 45 do segundo tempo. É preciso levar todos os ensinamentos para frente”, opinou.

“A dieta tem prazo de validade, com início e fim, mas a reeducação se reflete no ambiente como um todo. As pessoas começam a ser influenciadas e isso passa de pais para filhos. Os adolescentes são reflexos de adultos. É preciso ter um jogo de cintura para que [os adolescentes] não se sintam obrigados e virem as costas, mas a maneira de ver o mundo já está bem diferente, então as relações também vão mudar”, disse.

Laís também chama atenção para a ingestão de água, poucas vezes levada em consideração, segundo ela. “Muitas vezes a descompensação e o aumento por vontade por doces pode ser a falta de água. E é algo simples, que está ao alcance de todos”, finalizou.

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