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Brasília

Adoção tardia é opção para famílias no Distrito Federal

De acordo com o cadastro de adoção do DF, das 547 famílias habilitadas, 27 aceitam crianças entre 9 e 11 anos e apenas 7 famílias aceitam adolescentes

Aline Rocha

26/07/2019 13h06

Foto: Reprodução/TJDFT

Aline Rocha
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Junto há 18 anos, Erivaldo e João já se consideravam uma família, mas algo faltava na relação. O casal começou a pensar, então, em ter filhos. Em 2017 os dois acabaram adotando Leonardo Ramalho Peixoto, hoje com 10 anos, e a irmã, Maria Clara, hoje com 13. Clarinha, como a família a chama, afirma que sua família é amor e é perceptível o carinho que permeia os quatro, nos relatos das crianças e dos pais apaixonados pelos filhos que chegaram por meio da adoção tardia para completar a casa.

“Eu agradeço muito a Deus porque eu rezava muito para que vocês chegassem na minha vida”, relata Léo. “Adoção para mim é ter uma família nova, é ter uma vida melhor, é ter mais amor”, afirma o menino. O casal conta que perceberam que existia a possibilidade de complementar a família por meio da adoção, entraram com o processo de habilitação em janeiro de 2015. “Para um casal homoafetivo, é uma grande possibilidade de constituir sua família: foi a possibilidade de realizar nossos sonhos. E a paternidade já era mais que um sonho”, explica Erivaldo.

De início, os dois optaram por adotar crianças pela faixa etária de crianças mais novas, com possibilidade de irmãos. De acordo com dados de julho do cadastro de adoção do DF, das 547 famílias habilitadas, apenas 27 aceitam crianças entre 9 e 11 anos e, tratando de adolescentes, apenas 7 famílias aceitam.

Por essa razão, a adoção de irmãos e a de crianças mais velhas são frentes de trabalho do projeto “Em Busca de um Lar”, lançado pela Vara da Infância e da Juventude do DF (VIJ-DF), em maio deste ano, para aumentar as chances de adoção daqueles que são preteridos por questão de idade, por fazerem parte de grupo de irmãos ou por terem alguma deficiência ou problema de saúde. Saiba mais aqui.

“Nesse tempo, líamos bastante, víamos programas com histórias de adoção e conhecemos perfis diferentes de famílias. Aí pensamos: pode haver novas possibilidades”, conta Erivaldo. Acompanhar o dia a dia dos amigos que obtiveram a adoção de um bebê também contribuiu para repensar a escolha. “A gente tem essa ideia de que bebê ‘é mais fácil’. Mas a gente começou a perceber que não era tão verdade, são crianças como qualquer outra”, diz.

Na busca por mais informações, tomaram conhecimento dos grupos de busca ativa, como o “Em Busca de um Lar”, que, à época, já existiam em outros estados do país. Enquanto buscavam essas informações, ficaram sabendo da possibilidade de adoção de irmãos em São Paulo. “Com esses relatos e o que havíamos estudado, começamos a conversar sobre aumentar a idade e as possibilidades”, conta João. Com isso, precisaram alterar o perfil já previsto por eles na VIJ-DF, mas, com a alteração, veio o pedido da própria equipe da Vara: “Antes de tentar adoção lá, esperem um pouco; com esse perfil, seus filhos estão aqui”. Dois dias depois foram convidados para conhecer a história dos irmãos de Brasília que se tornariam seus filhos.

Foto: Reprodução/TJDFT

Conhecimento

“Pesquisar, ler a respeito foi muito importante e necessário pra gente ter tomado essa decisão pela adoção tardia”, conta Erivaldo. “Pensei que, se tivéssemos feito isso antes, desde o início, já teríamos feito a opção. Às vezes é até uma preocupação inconsciente que temos, por escutar alguma coisa. Mas criança é criança”, completa João.

Erivaldo acredita que a adoção tardia gera resistência não apenas pela idade em sim: “A adoção de bebezinho tem muito a ver com a carga emocional que as crianças trazem. Ora, mas se a gente é adulto, que medo a gente tem de enfrentar essa história, essa página preenchida?”. Ele fala que os quatro conversam sobre o tema. “Às vezes a Clarinha fala ‘minha mãe’. A gente diz: é sua mãe sim, sua genitora, vai ser sempre sua mãe”, conta o pai Erivaldo. Quanto ao outro medo que pode ser associado a adotar crianças mais velhas, relativo a questões típicas da adolescência, João afirma que também não foi um problema: “A gente saber lidar com isso. Adolescentes todos vão ser. A gente está preparando eles pra serem adolescentes tranquilos”.

Foto: Reprodução/TJDFT

Mudanças

O primeiro contato da família completa aconteceu em 12 de junho de 2017. João conta que no primeiro dia foi um pouco constrangedor mas, “no segundo dia, eles já estavam mais ansiosos até que nós”. As crianças foram morar com o casal de 31 de agosto do mesmo ano e, de acordo com os pais, a criação da afetividade foi algo natural. “Chegou um tempo em que começava a doer; as despedidas eram muito dolorosas. A gente sentia que estava chegando a hora, que nossos filhos realmente estavam chegando”, narra Erivaldo.

Mesmo com o vínculo criado desde o princípio, ajustes para a chegada dos filhos foram desafiantes. “Passamos por muitas mudanças com a chegada dos dois. Foi um semestre bastante estressante, com término de obras em casa, levá-los para a escola que eles já frequentavam para terminarem o semestre. Mas depois tudo começou a se encaixar”, relata Erivaldo. Eles contam que vieram decisões típicas de pais, como as sobre a educação, superadas com um princípio comum a eles: “Queremos que sejam felizes”.

Sentindo-se em casa, os pais contam que Léo e Clara hoje expressam suas personalidades e gostos com liberdade. “A gente tem esse vínculo muito forte. Fica um vazio absurdo quando eles não estão aqui pertinho, mesmo quando estão na casa do vizinho”, conta Erivaldo. O mesmo é sentido pela família de João e Erivaldo e pelos amigos, que são a extensão dos laços sanguíneos para eles. “A adaptação deles e de todos foi um processo muito tranquilo. A gente contaria com essa ajuda se tivéssemos adotado um bebezinho, a idade não fez diferença”. Bem confortável na nova casa, Léo resume o sentimento da adoção: “Ter uma família é muito importante para a vida porque ela faz você mais feliz. E não é bom ficar sozinho. Eu amo essas pessoas, a minha família, e principalmente a parte que eles me dão muito amor e carinho”.

 

Com informações de TJDFT

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