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Brasília

Adeus mais triste e menos florido

O drama da pandemia aumentou em 48% número de sepultamentos no DF. Mas as regras de isolamento e restrições nas cerimônias fizeram cair a venda de flores

Vítor Mendonça

11/09/2020 7h21

Sepultamentos aumentam 48%

Empresas funerárias do Distrito Federal tiveram alta de até 30% na demanda. Flores encalharam

As mortes pelo novo coronavírus no Distrito Federal aumentaram a quantidade de sepultamentos entre maio e agosto deste ano em comparação ao ano passado. Em 2020, foram 6.103 enterros registrados entre os quatro meses – em 2019, o número foi de 4.124. Os números representam um aumento de cerca de 48% com a pandemia. Nesse período, foram enterradas 2.330 vítimas confirmadas ou por suspeita da covid-19.

Apesar das 58 vítimas da doença entre março e abril, período em que a pandemia já havia se instalado na capital federal, nestes meses houve uma diminuição nos óbitos. Enquanto 943 e 989 pessoas foram sepultadas em 2019, respectivamente nesse período, em 2020, os números baixaram para 825 e 943. Os dados foram levantados pelo cemitério Campo da Esperança, que detém todos os seis cemitérios do DF.

O mês que mais registrou mortes em decorrência da doença foi julho, com 851 enterros. Em seguida, estão o mês de agosto, com 814 sepultamentos; depois junho, com 490; seguido por maio, com 175; abril com 47 e março resultante em 11 vítimas. Todas os outros sepultamentos em decorrência de outras causas de morte nos últimos seis meses, com exceção de agosto, diminuíram, ao todo, em 582 na comparação com 2019. O oitavo mês do ano obteve aumento de 9 falecimentos.

Funerárias lucraram

A maior quantidade de óbitos fez com que o nicho das companhias funerárias registrassem alta nos lucros. Na Catedral Serviços Funerários Ltda., por exemplo, a demanda por caixões aumentou em torno de 20% a 30%, segundo Wagner Borges, 37 anos, gerente do estabelecimento. Ele explica que, devido à alta busca pelos serviços prestados, precisaram pedir maiores quantidades de urnas para as fabricantes.

“Chegamos a pegar serviços alocados em Goiás também, mas conseguimos dar conta do aumento da demanda do serviço. Como são 45 funerárias no DF e há várias opções de procura das pessoas, não precisamos contratar mais pessoas. Não é como em Valparaíso e em outras cidades do Entorno, onde às vezes só há uma ou três funerárias para a cidade toda”, relatou.

A maior demanda veio das famílias que tiveram vítimas da covid-19, de acordo com Wagner. A orientação dada pela empresa à família é que a escolha seja feita por caixões de menor valor, uma vez que o velório das vítimas da doença não é permitido nos cemitérios, e, portanto, não há necessidade de maiores requintes nas urnas.

O preço varia entre R$ 1.100, para aqueles sem viseira, e R$ 1.500, com viseira. O valor é tabelado pelo Governo do DF, segundo o gerente. “É melhor fazer em urnas mais em conta mesmo”, opinou Wagner. “Mas algumas funerárias têm feito até doações, quando a família não consegue [o caixão] pelo GDF. Eu mesmo fiz bastante doação de serviço de covid, sem cobrar nada”, relatou. “É uma hora de ajudar também. Temos que fazer por onde.”

Venda de coroas diminui

As vendas das coroas de flores, , porém, não registraram aumento nas vendas. A pandemia da covid-19 obrigou as unidades dos cemitérios no DF a limitarem para 10 a quantidade de pessoas em cada velório, e ainda a não permitir que as mortes pela doença recebam a cerimônia de despedida usual nas capelas.

Segundo Jecina Pereira, 47, isso fez com que a quantidade de pessoas e, consequentemente, de vendas caísse em pelo menos 20%. Este período de pandemia foi o que mais teve impacto negativo no comércio de flores e ornamentos que existe há mais de 20 anos em frente ao cemitério Campo da Esperança na Asa Sul. “Antes velavam a manhã toda ou a tarde toda, mas agora são duas horas ou menos”, relatou.

“Diminuiu bastante porque, aqueles clientes que antes compravam para colocar no túmulo dos parentes, passaram a não vir por medo de serem contaminados. Aqueles que vinham toda segunda ou todo fim de semana, nunca mais vi. Às vezes aparece um neto ou outro”, afirmou Carlos Silva Santos, 43, da banca vizinha. Há mais de 20 anos no mesmo ponto, o atendimento aos clientes já frequentes apenas mudou no tratamento, agora feito com todas as medidas de profilaxia.

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