Menu
Brasília

A par de diversidade, religiões, em comum, pregam fé e esperança

Apesar do preconceito e de demonstrações de intolerância, a religião exerce pontos de convergência: a fé e a esperança no que é transcendental de formas diferentes e inspiradoras.

Redação Jornal de Brasília

04/09/2019 18h49

Por Paula Beatriz e Carolina Monteiro
Agência de Noticias UniCEUB/Jornal de Brasília

A diversidade de Brasília, caldeirão cultural do Brasil, também está representada nos credos das pessoas que aqui nasceram ou chegaram desde 1960, quando a cidade foi fundada. Entretanto, apesar do preconceito e de demonstrações de intolerância, a religião exerce pontos de convergência: a fé e a esperança no que é transcendental de formas diferentes e inspiradoras.

De acordo com o último dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre diversidade religiosa, o espiritismo possui mais de 89 mil adeptos no Distrito Federal.  A doutrina, por exemplo, tem como principal característica a necessidade de reforma íntima do ser humano.  Os espíritas acreditam na vida após a morte e na comunicação entre  mortos e vivos, além da reencarnação do espírito. É o que diz a espírita Neusa Maria Salles, 67. Ela veio morar em Brasília há 45 anos e atualmente, reside em Sobradinho-DF.

Naturalizada de Pelotas (RS), Neusa nasceu em um lar espírita e nunca abandonou a fé. A psicóloga relatou que quando chegou à capital sentiu dificuldade para se incluir com grupos que partilhavam da mesma crença. “Os grupos eram muito fechados, dificultando a entrada de novos membros para o trabalho. Eu não queria apenas ir a um centro para assistir a palestras e tomar passes. Queria ser uma trabalhadora como era na minha cidade”, desabafou.

Apesar do início ter sido difícil, mais tarde, a psicóloga entrou em um grupo de estudos e trabalhos mediúnicos, o chamado Grupo Espírita Regeneração e Educandário Eurípedes Barsanulfo em Sobradinho, onde frequenta até hoje. Neusa considera que o espiritismo promove oportunidades únicas na vida. “Creio que se não fosse espírita, seria ateia, pois penso que as outras religiões não trazem a possibilidade de estudo e conhecimento da vida depois da morte como o espiritismo”, afirmou.

 

Para a espírita, a fé é a certeza do auxílio de Jesus Cristo por meio dos espíritos, já a esperança é a convicção de que tudo evolui. “Com o esforço próprio na busca do aperfeiçoamento espiritual, tendo como meta a Lei de Deus, teremos uma vida melhor, com dias melhores. O planeta será mais purificado e os habitantes seguirão o Evangelho do Cristo sendo caridosos com o próximo”, revelou Neusa. 

Minoria

Apesar de possuir grande influência no Brasil, as religiões africanas ainda são minoria no país. De acordo com o último levantamento sobre diversidade religiosa do IBGE realizado em 2010, a Umbanda e o Candomblé representam pouco mais de 5 mil pessoas no DF.

Os umbandistas creem nas forças da natureza, nos orixás, e em entidades do plano espiritual que utilizam destas forças para a prática da caridade. Thiago Luiz Leite, 33, nasceu na religião. “A Umbanda faz parte da minha vida desde antes da minha encarnação”, relatou. Thiago se emocionou ao lembrar que quando criança cantava as “giras” dos caboclos. “Era muito energia positiva”, relembrou.

Segundo o servidor público, a religião chegou ao seio da família em Brasília. Ele explica que a fé para os umbandistas é uma mistura de razão e emoção. “Nossa fé é como um escudo que nos protege das nossas próprias imperfeições e das negatividades externas. A fé é o sentimento que move o coração de um umbandista, pois todo umbandista acredita num amanhã melhor”, esclareceu.  

 

A esperança para os umbandistas está inteiramente ligada a fé. “Para mim a esperança é o resultado de uma fé bem resolvida, bem fundamentada, bem ligada a Deus”, afirmou. Eles acreditam que apesar dos percalços que a vida possa trazer, o final do caminho sempre será de verdadeira felicidade.

O Candomblé também é uma religião derivada de cultos tradicionais africanos. Eles possuem a crença em um Ser Supremo e um culto dirigido às forças da natureza personificadas na forma de ancestrais divinizados: orixás, voduns ou inquices.

 

Wagner Santos, de 40 anos, é professor de português e pratica o Candomblé há aproximadamente 20 anos. Ele revelou que começou frequentando os cultos abertos –  cultos aos orixás – e há sete anos, se tornou iniciado, participando diretamente de cultos de forma mais intensa e profunda.

O professor explicou que a principal característica do Candomblé é que não existe certo ou errado. “Se eu tivesse que definir somente uma característica, seria, sem dúvida, a ideia de que não temos certo e errado, não temos a noção de culpa, pela ausência da noção de pecado. Isso faz com que aceitemos as pessoas de forma mais inteira, independente do que a pessoa é ou fez”, comentou.

Quando se fala de fé para religião é algo difícil de ser definido. “Fé é uma característica bastante complicada de ser definida, inclusive pessoalmente. Como é difícil de pensar na fé de forma individual, acho muito complicado defini-la de forma coletiva. A fé é, sem dúvida, o que movimenta as religiões e o mundo”, afirmou.

Da mesma forma, a esperança é diferenciada e voltada para as energias que movem os seres humanos. “Se entendermos a ideia de esperança com o que viveríamos no futuro, no caso do Candomblé, acreditamos que tudo é energia e, por isso, tudo se transforma em vida. Sempre dessa maneira. Há ciclicidade em tudo. A energia que enviamos para o universo é a mesma que ele enviará a nós. Tudo roda devagar e em função de uma renovação de energia. Entendo isso como esperança para o futuro. A tal da vida depois da morte”, concluiu.

Cristianismo

O catolicismo é a religião predominante no Distrito Federal e esse fato também pode ser explicado pela grande migração de brasileiros de outros estados que trouxeram consigo a fé. Dados do IBGE em 2010 apontavam que a capital federal possui mais de um milhão de católicos apostólicos romanos.

A goiana, Ana Luiza Maia, 20, é católica apostólica romana e,atualmente, mora no Jardim Botânico. A família se mudou para Brasília quando ela tinha apenas 2 anos em busca de melhores oportunidades de trabalho.“Quando nos mudamos de Goiânia trouxemos a religião católica junto. Isso não se deu por conta da região deles, mas porque eles realmente acreditavam e minha família era basicamente católica. Minha mãe morou durante muito tempo em uma rua em Goiânia que tem uma igreja na esquina, e meu pai morava em uma cidade pequena em que tudo é perto de tudo e tem uma Paróquia, o que ajuda quem é católico”, acrescentou.

Pela influência da família, Ana Luiza foi batizada na igreja católica apostólica romana com 3 semanas de vida. Desde então, nunca se afastou da religião. “Eu continuo até hoje também buscando influenciar meus amigos, não pela força, mas sim pelo exemplo para eles conhecerem esse amor de Deus maravilhoso que eu conheci”, declarou.  Para a estudante, a fé é uma parte muito significativa da religião, pois é a base de tudo. “Tem uma frase que eu gosto muito que diz assim: ‘Fé é assim: primeiro, você coloca o pé. Depois, Deus coloca o chão.’, da Fernanda Estellita. E ela sintetiza muito isso da entrega diária que fazemos, ou tentamos fazer, aos desígnios de Deus”, ressaltou.

 

A católica apostólica romana ainda destaca que a esperança para os católicos, ao contrário dos não praticantes,não se pauta em criar possibilidades de acordo com os desejos pessoais, mas sim na esperança traçada  em Deus. A fé, a esperança e a caridade são os 3 alicerces da vida cristã. “A esperança funciona como uma fé em Deus, mas não no sentido de crença, e sim no sentido de confiança e espera, de aguardar para que a vontade de Deus traga para nós o que for melhor”, evidenciou Ana Luiza.  

Para ela, a parte que mais lhe encanta da religião católica é a espera da vida eterna no céu. “A gente está só fazendo hora aqui enquanto não for nossa hora. Quando morremos, o período de espera acaba, então não há mais necessidade de esperança, nem de fé, porque veremos Deus face a face. Fé é crer sem ver,  então sobra só a caridade ou o amor no final dessa jornada”, esclareceu.

O padre Edilson Santos, 37, também é católico de berço. Ele lembra que quando era criança frequentava as missas com os pais. Aos 10 anos, decidiu fazer a primeira comunhão e depois disso, foi batizado. Nessa idade, ele já queria ser padre, mas somente aos 18 tomou a decisão definitiva. “Após um momento em que buscava aprofundar a minha fé, entendi que Deus me chamava ao sacerdócio”, revelou. O padre mencionou que após aprofundar esse chamado, para tentar discernir se era algo humano ou fruto da imaginação e até mesmo algo sobrenatural, resolveu ingressar no seminário em 2001 e há 7 anos é padre.

A religião católica tem por principal característica a centralidade da fé no mistério da Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Para os fiéis, a vinda do Filho de Deus ao mundo ofereceu um aspecto muito importante, pois Jesus é o mediador entre Deus e os homens, a ponte entre Céu e Terra. “ ‘Amai-vos uns aos outros como eu vos amei’. Essa é, no meu ponto de vista, a principal característica do cristianismo, e o maior desafio”, complementa Edilson.

Para o padre, a fé não pode ser apresentada como um sentimento cego, nem como um ato de confiança afetiva em Deus. “A fé é, antes de tudo, uma atitude da inteligência, que, movida pela vontade livre, diz sim a Deus que se revela e vem ao nosso encontro”, explicou.

Segundo Edilson, a esperança é uma virtude teologal vinculada à realização e a felicidade. Ele compara a esperança com a âncora e a vela de um barco, pois assim como os objetos, promove a segurança, firmeza e progresso para os fiéis. “A esperança nos garante essas duas realidades, tanto da âncora quanto da vela do barco, desde que seja cultivada e colocada em prática. Ela nos conduz ao nosso fim último e maior realização que para nós cristãos é a Vida Eterna”, afirma.

Gerson Berbet tem 65 anos e há 40 anos é pastor. Ele conta sobre a fé e a esperança para os evangélicos.

“A fé para os cristãos tem tudo a ver com a crença, isto é acreditar, e também colocar a confiança na pessoa de jesus cristo o filho de Deus eterno. Esta fé está fundamentada em sua palavra e seus ensinos. Mesmo para alguns parecendo uma loucura, os cristãos se fundamentam na palavra da cruz, sendo a salvação de todo aquele que crê! Esta fé cristã está baseada também na bíblia sagrada, com seus princípios, doutrina, preceitos, mandamentos, culto e adoração ao único e verdadeiro Deus, o eterno, justo e santo. A fé para os cristãos é uma bússola, uma direção para viver uma nova vida em cristo, uma vida abundante, uma vida eterna e plena de fruto e produtividade. A fé para os cristãos aponta também o nosso destino eterno no reino que jamais terá fim, o reino do rei dos reis e senhor dos senhores, Jesus de Narazé!”

Sobre a esperança o pastor continua. “A esperança para os cristãos é como uma âncora no mar desta vida! primeiro a esperança de um novo homem, à imagem e semelhança do filho de Deus que nasceu pela palavra anunciada por um anjo e o poder do Espírito Santo que trouxe a uma virgem a semente da mais poderosa esperança: Jesus Cristo, que é a nossa única esperança! Esperança para o cristão é a coisa mais fantástica e extraordinária porque espera uma ressurreição de todos que morrem. Isto é um regresso da morte para vida. Assim como grão de trigo que é lançado na terra e depois de algum tempo nasce e frutifica, assim é também a esperança para o cristão! O cristão de fato esperança algo que os olhos nunca viram, os ouvidos nunca ouviram e a mente humana nunca imaginou! Os cristãos esperam um novo céu e uma nova terra onde habita a justiça!”

 

Estilo de vida

A Kundalini Yoga é uma ciência milenar sobre a arte de lidar com a expansão da consciência, acordando e fazendo subir a Energia Kundalini pelo canal da espinha vertebral, atravessando e ativando os centros de energia denominados de chakras. Essa realização é feita com a mistura e união de Prana (energia cósmica) com Apana (energia de eliminação) e gera uma pressão. Essa pressão forçaa subida da kundalini através da coluna e utiliza Pranayamas (exercícios respiratórios), Bhandas (contrações corporais), Kryias (jogos completos de exercícios) e Asanas (posturas), Mudras (gesticulação com mãos, dedos ou braços) e Mantras (palavras cantadas).

Frederico Sanchotene Alcalde tem 20 anos e pratica Kundalini Yoga há 2 anos. Ele se formou há aproximadamente 2 meses como mestre e pode dar aulas. Ele conta que não consideram o Kundalini Yoga como uma religião mas, um estilo de vida. “Kundalini Yoga vai trabalhar com respiração, vai trabalhar com meditação, posturas e mantras. Ela utiliza  essas tecnologias para desenvolver um sistema nervoso e endócrino”, explicou.

Segundo Frederico a prática tem o objetivo de estimular o praticante a ajudar o próximo. “Mexemos muito com trabalho em grupo. A gente sempre quer estar se ajudando. A ideia é sempre estar disponível a ajudar o próximo. Tem um trabalho que mexe muito com o espiritual. Mas a gente não idolatra nenhuma imagem, a gente só trabalha nosso espiritual. Tem muitas coisas que são ditas na Kundalini Yoga que vem de outras religiões para ficar mais dinâmico. Temos um estilo de vida vegano ou vegetariano”, relatou.

O últimos censo do IBGE referente  à diversidade religiosa no Brasil em 2010 apontam que houve um crescimento de grupos religiosos no país. Os católicos ainda são a maioria, mas têm perdido adeptos.  Em 2010, eles chegaram a aproximadamente 64,6% fieis, 9% a menos que em 2000. Os evangélicos foram o segmento religioso que mais cresceu nesse período, passando de 15,4% em 2000 para  22,2% em 2010. O espiritismo ocupa o terceiro lugar com 2% da população. Já as religiões africanas como Umbanda e Candomblé são a minoria no país, representando 0,3% da população.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado