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Brasília

A involuntária invasão dos sem-floresta

Com seus espaços naturais reduzidos, animais selvagens acabam vindo parar na cidade. Desde janeiro, Batalhão da PM Ambiental já resgatou 450 bichos. Em 2019, foram 4 mil

Catarina Lima

04/02/2020 6h43

A triste invasão dos bichos

Em janeiro, Polícia Militar Ambiental resgatou 450 animais silvestres nas áreas urbanas no DF

Em janeiro, o Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA) fez 450 resgates de animais silvestres em áreas urbanas do Distrito Federal. Em 2019, 4 mil animais foram resgatados. Ao se falar em ocorrências no geral, o número total de atendimentos feito pelo Batalhão Ambiental — incluindo resgates, apreensões de animais mantidos ilegalmente em cativeiro e outros crimes ambientais — chega a 9,5 mil.

Entre os bichos resgatados, os mais comuns são saruês, corujas, cobras, capivaras e filhotes de urubu. Em uma das ocorrências, no dia 7 de janeiro, foi capturada uma jiboia no Centro Metropolitano de Taguatinga. Também chamou a atenção um lobo-guará apreendido numa fazenda em Sobradinho II; um filhote de coruja no Setor de Rádio e TV Sul; e uma capivara encontrada nadando no espelho d’água do Palácio do Itamaraty. Mais recentemente, no último domingo (2), um jacaré foi resgatado da piscina de uma casa no Lago Sul.

O fenômeno, no entanto, não é exclusivo de Brasília. De acordo com o analista ambiental do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Thiago Silvestre Nomiyamada de Oliveira, o motivo dos bichos “invadirem” as cidades é o aumento acelerado e descontrolado da urbanização.

“O Brasil, ao mesmo tempo que comporta uma das maiores diversidades biológicas do planeta, encontra-se em crescimento populacional”, pontua.

O Major Souza Júnior, comandante do BPMA do DF, também aponta o crescimento populacional como principal responsável pelo deslocamento dos animais silvestres para áreas urbanas. “O ser humano ocupa cada vez mais o espaço dos animais. Estes lugares outrora eram ambientes naturais que acabaram sofrendo com a expansão da atividade humana”, explicou.

O major destacou que devido ao crescimento populacional, os animais precisam ocupar novos espaços — e que podem acabar não encontrando um lugar “na natureza”. Por isso, segundo o militar, não é raro aparecer animais silvestres em casas, nos motores de carro, nas avenidas e ruas da capital.

“Os animais estão perdendo seu habitat”

jiboia resgatada em piscina de uma chácara no Núcleo Rural Monjolo – foto : divulgação PMDF

“Os animais estão perdendo o seu habitat devido ao desmatamento, aos grandes latifúndios e às construções desenfreadas. Isso faz com que o habitat deles seja reduzido e eles acabem buscando outros locais para conseguir os recursos necessários à sua sobrevivência — como abrigo, alimentos, dentre outras coisas”, explicou o biólogo Eduardo Nóbrega, diretor de répteis, anfíbios, e artrópodes do Zoológico de Brasília.

Thiago Silvestre, do Ibram, lembrou que os animais tendem a entrar em áreas nas imediações das unidades de conservação em busca de alimento, parceiros sexuais ou devido a conflitos territoriais. “Outros indivíduos, como é o caso de espécies generalistas (que possuem uma vasta dieta e se adaptam melhor em condições urbanas e semi-urbanas) vão para áreas urbanas em busca de farta oferta de alimento (lixo, horta, etc), abrigo e segurança, ficando longe dos predadores.”

O major Souza Júnior orienta para que os cidadãos não tentem resgatar animais silvestres por conta própria. Ele explica que a pessoa corre o risco de ser mordida pelo animal silvestre — que pode carregar consigo carga bacteriológica perigosa ao ser humano. “Quem encontrar um animal silvestre deve ligar imediatamente para o batalhão ambiental que possui policiais militares ambientais, treinados para a situação e irão prontamente resolvê-la”, pontua.

Os animais silvestres que são resgatados no DF podem voltar para o cerrado de duas formas: se estiverem em plena saúde, é feita a soltura imediata em local apropriado com a finalidade de não desequilibrar o bioma. Já em casos em que os animais não estiverem saudáveis, eles são levados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres do DF (Cetas) — onde poderão receber medicação adequada, se recuperar e depois serem redirecionados ao habitat natural.

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