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Brasília

A felicidade é consumir menos

O mundo contemporâneo pede uma nova forma de se vestir — com liberdade e consciência

Marcus Eduardo Pereira

15/11/2019 5h02

Larissa Galli e Grace Perpetuo
[email protected]

Entre as tantas coisas que se pode fazer para diminuir o próprio impacto negativo sobre o planeta, talvez a mais simples seja repensar os hábitos de consumo que se referem à moda, ao vestuário.

Basta fazer algumas adaptações simples, mas de resultado extremamente efetivo, já que a indústria de moda é uma das mais poluentes da atualidade — mais até do que os setores de aviação e navegação combinados.

O dado é do relatório Pulse of the Fashion Industry (ou Pulso da Indústria da Moda), do grupo de especialistas do Global Fashion Agenda, de 2017. Apontado pelo portal Modefica [@modefica] — uma plataforma de moda e comportamento transdisciplinar — o Measuring Fashion: Environmental Impact of the Global Apparel and Footwear Industries Study (ou Estudo Sobre o Impacto Ambiental das Indústrias Globais de Vestuário e Calçados), da Quantis — atribui à indústria da moda cerca de 8% de todos os gases de efeito estufa emitidos no ano passado.

É por isso que, para pessoas e empresas responsáveis, a lógica de produção convencional da moda — de extrair a matéria-prima, produzir a peça e depois descartá-la rapidamente — não faz mais sentido. Conceitos como “tendência” (que sugere como as pessoas devem se vestir) e fast fashion (que propõe a renovação constante do guarda-roupas e o uso de um grande número de peças de baixa qualidade, quase descartáveis), por exemplo, estão caindo por terra.

Hoje, felizmente, é possível perceber um intenso crescimento no mercado de produtos usados no Brasil e no mundo. A explosão global no número de brechós físicos e virtuais é evidente, e os conceitos de reciclagem e upcycling — o processo de criar algo novo a partir de um ítem já usado — também vem ganhando cada vez mais espaço. O minimalismo também está em alta: menos é mais, sempre.

“Comece a mudança”

Para aderir a essa nova forma de consumir, a primeira dica da consultora de moda sustentável Giovanna Nader [@giovannanader] é usar tudo o que já está no próprio guarda-roupas. “Muitas vezes o shopping parece o caminho mais fácil — mas, se a gente olhar o nosso armário de outra maneira, encontrará muita coisa ali com potencial de uso. Atacar o armário da avó e da mãe também vale”, ri. Giovanna lembra da alegria que são as feiras de troca de roupas — “cheias de histórias” — e pontua que o consumo, se necessário, deve privilegiar os brechós. “A gente precisa olhar para a roupa de segunda mão com mais carinho”, reitera.

Giovanna também acredita no futuro do mundo. “Se todos fizerem sua parte em um consumo mais consciente, acredito que já é uma grande mudança: fazendo isso, a gente pressiona os mercados e as marcas para mudar, além de direcionar o nosso dinheiro ao comércio justo”, diz.

Para ela, o consumo responsável de moda é uma porta de entrada para uma nova visão de mundo. “A moda é leve e divertida; é um assunto fácil para que as pessoas se atentem para a sustentabilidade em outros âmbitos da vida.”

Mas não é só: além de reduzir o impacto ambiental, o consumo responsável da moda — livre das tendências — também traz enorme liberdade. “Por muito tempo, a gente foi obrigada pela sociedade a se vestir de maneira ‘apropriada’ — para não-sei-quem — e isso fez com que todo mundo ficasse massificado, que começasse a se vestir igual, sem estilo e sem poder manifestar sua personalidade por meio da roupa”, observa Giovanna. “Quando você tem a liberdade de vestir exatamente o que você quer — e de expressar o que quiser para o mundo —, acaba sendo você mesma; isso levanta a auto-estima e aumenta sua autenticidade em relação ao mundo”, diz, antes de decretar: “cafona, para mim, são as pessoas que investem em bolsas caras, que ostentam isso e se gabam de um acesso que é totalmente limitado”.

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