Imagine a cena: um representante do governo chegando às aldeias Krenak e Guarani-Kaiowá, com um informe na mão anunciando: “Pessoal, temos boas e más notícias. A boa: reconhecemos oficialmente que foi mal aí pelas décadas de perseguição e sofrimento. A má: espero que vocês gostem de reconhecimento simbólico, porque é só o que vamos dar.”
Enquanto isso, em algum escritório burocrático, alguém provavelmente está dando tapinhas nas próprias costas, orgulhoso por ter finalmente reconhecido essas injustiças, sem precisar mexer no orçamento. “Economia de recursos”, eles devem chamar. Ah, a ironia de finalmente abrir as portas para reparações coletivas, mas sem abrir a carteira. Talvez a próxima etapa seja oferecer créditos de simpatia ou pontos de reconhecimento que possam ser trocados por abraços gratuitos ou apertos de mão.
Então, enquanto celebramos esse avanço (com um sorriso meio amarelo), vamos também esperar pelo dia em que a reparação vá além do simbólico. Até lá, parece que o Estado brasileiro prefere manter as relações com os povos indígenas no campo da “amizade colorida”: todos os gestos bonitos, mas sem compromisso financeiro.
Parece que nesta questão ainda estamos num governo onde a política indigenista parecia mais uma lenda urbana do que uma prática de Estado.