Imagine a cena: um trabalhador encolhido atrás de um escudo improvisado, estampado com frases como “não sou bandido” e “não estou armado”. Enquanto isso, dois transeuntes assustados se perguntam o que está acontecendo. Parece absurdo, mas para muitos no Brasil, essa ilustração reflete uma dura realidade: o medo constante de se tornar mais uma vítima da violência policial.
Nos últimos anos, o país tem enfrentado um aumento preocupante na letalidade das ações policiais, especialmente contra pessoas negras e moradores de periferias. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, mesmo com uma leve queda na letalidade em 2023, em estados como São Paulo o índice cresceu, alimentado por operações controversas como a “Operação Escudo”. Durante essas intervenções, 28 mortes foram registradas em apenas 40 dias, muitas sob circunstâncias questionáveis e com falhas nos processos de investigação.
Essa realidade não é um “caso isolado”, mas um reflexo de problemas estruturais, como o racismo e a desigualdade social. Enquanto isso, a falta de controle adequado sobre o uso da força policial alimenta a sensação de impunidade. Segundo especialistas, é urgente reavaliar o papel das forças de segurança em uma sociedade democrática. Sem mudanças, a cada abordagem violenta, mais trabalhadores continuarão empunhando escudos metafóricos para se proteger, não do crime, mas de quem deveria protegê-los.
