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Brasília

Volta às aulas com carinho, saudade e respeito

O cronograma é que retornem presencialmente 50% dos alunos nesta primeira semana, enquanto os outros 50% permanecem em atividade remota

Vítor Mendonça

05/08/2021 6h48

Após um ano e cinco meses, as aulas presenciais nas escolas da rede pública do Distrito Federal são retomadas hoje. Fechadas desde 12 de março do ano passado devido aos riscos de contaminação pela covid-19, as instituições de ensino recebem hoje estudantes dos Centros de Educação Infantil (CEI), de 3 a 5 anos de idade.

São quase 2,3 mil crianças matriculadas neste período escolar, que devem voltar, na maioria das unidades, de maneira intercalada. O cronograma é que retornem presencialmente 50% dos alunos nesta primeira semana, enquanto os outros 50% permanecem em atividade remota. O acompanhamento do professor acontecerá durante uma hora após o fim do período na sala, de quatro horas. Na semana seguinte, inverte-se a ordem.

Até ontem, as escolas receberam apenas os professores para o encontro pedagógico. Para o retorno, algumas adaptações foram planejadas para abrir as portas novamente aos estudantes, seguindo os protocolos de segurança sanitária para evitar o contágio e transmissão do vírus pandêmico.

Como exemplo, o CEI Núcleo Bandeirante e o CEI 9, no Areal – reinaugurado ontem  instalaram, na entrada das unidades escolares, pias para a lavagem das mãos com sabão e dispensers de álcool em gel, também para a higienização. Há um termômetro para aferir a temperatura dos pais e alunos que adentrarem as unidades de ensino.

Também foram trocadas as janelas venezianas das salas de aula do CEI Núcleo Bandeirante, que passaram a ser de blindex. De acordo com a diretora da unidade, Ana Paula Gomes, a mudança foi feita para facilitar a higienização dos espaços diariamente, para evitar acúmulos de impurezas indevidas no material anterior.

Dos 460 alunos da escola, a expectativa é que haja o retorno de quase todas as crianças. Hoje são esperadas, em cada turno, entre 110 e 115 estudantes. Segundo Ana Paula, são poucas as famílias que ainda estão inseguras em levar os filhos de volta para as salas de aula e que preferiram continuar com as atividades do ensino remoto.

“Mas a maioria dos pais queria trazer as crianças de volta para as aulas, e elas também queriam voltar. Falavam nas atividades que estavam com saudades das tias. É um tempo que a criança sofre muito. Por mais que a gente tenha medo, elas precisam dessa socialização para interagir com os colegas.”

Em cada sala, frascos com álcool em gel estarão disponíveis para professores e alunos usarem durante as aulas. Também serão feitas atividades de conscientização e cumprimento das medidas sanitárias, a fim de reforçar com as crianças a importância de cada precaução. A diretoria enviou um vídeo para os pais mostrando o ambiente escolar e exemplificando como será a dinâmica. “Já vão chegar treinadas”, disse Ana Paula.

“As crianças precisam voltar”

“Nas atividades que fazíamos com eles no ensino remoto também sempre ensinávamos os protocolos de segurança, com exercícios voltados para isso”, continuou. “Estamos nos preparando ao máximo para que tudo dê certo. Criança tem que estar em sala de aula, tem que estar na escola”, finalizou Ana Paula.

Liberação com receio

No Centro de Ensino Integrado 9 do Areal, o pequeno Gustavo, de 4 anos, voltará às aulas presenciais hoje.
Os pais Luiz Alexandrino e Josiane Araújo, ambos de 35 anos, estão receosos do que pode acontecer dentro do ambiente escolar, mas confiam que a escola também está preparada para receber o filho.
“100% seguro ninguém está, né?”, afirmou Luiz. “Precisa vacinar todo mundo, mas sabemos que eles [as crianças pequenas] têm que voltar.”

O convívio do filho tem sido apenas com dois amigos dentro do condomínio onde moram, também no Areal, uma vez que as outras crianças da família moram com outros parentes no Rio de Janeiro, estado em que os pais dele nasceram.

Por esta baixa interação com outros da mesma idade, Gustavo tem apresentado, segundo Luiz e Josiane, dificuldades para conversar com outros adultos e até mesmo com outras crianças. Até nesse sentido, a pandemia atrapalhou.

“Ele estava ansioso para vir logo”

“Ele fica um pouco mais retraído, porque os únicos adultos que ele tem contato são praticamente apenas nós. Temos saído muito pouco. Lá dentro [do CEI 9], quando a professora conversou com ele, ficou meio acuado. Isso é devido à pandemia e ao isolamento porque antes ele não era assim. Afetou essa parte social”, destacou Luiz.
Apesar dos pais terem sido vacinados com a primeira dose contra a covid-19, a sensação de segurança ainda não é plena. “Seguros mesmo só depois de duas semanas da segunda dose e quando virmos na televisão alguém dizer que já podemos tirar as máscaras”, finalizou Josiane.

O casal Raquel e Alex Ventura, pais do pequeno Carlos Eduardo, de 5 anos, também levará o filho neste retorno presencial, no CEI Núcleo Bandeirante. Esta é a primeira vez que o menino participará de uma aula dentro de uma escola. No ano passado, ele havia começado algumas atividades em uma creche, mas duraram apenas três dias antes de fecharem as atividades devido à pandemia da covid-19.

Conhecendo o local, Carlos Eduardo ficou animado em saber em qual sala estudaria e que conheceria, no dia seguinte, os novos amigos de classe. “Ele estava ansioso para vir”, entregou a mãe. “Ficava agoniado para assistir as aulas dentro da escola.” Enquanto conversava com a reportagem, o menino chamava os pais para conhecer o ambiente das salas e para conversar com a professora que iria lhe dar aula.

Saiba Mais

De acordo com Raquel, pelo fato do rapaz conviver com dois irmãos em casa, um de 8 e uma de 17, além de encontrar regularmente os primos, a interação social não foi prejudicada.

“Mas notei ele mais ansioso, com muita energia guardada. A ansiedade foi a que mais bateu dentro de casa”, explicou a mãe. Apesar de decidir levar o filho, também está receosa com os riscos de contaminação pela doença pandêmica.

“Estou com medo. Apesar dele [Carlos Eduardo] usar máscara e obedecer direitinho, não sei se as outras crianças vão ter esse mesmo hábito”, desabafou.

Quanto à estrutura da escola, Raquel está confiante de que a unidade está preparada para receber o filho com segurança sanitária, principalmente pelo ambiente aberto e ventilado no pátio da escola, além das grandes janelas nas salas.

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