Foram sepultadas na manhã desta quinta-feira (29), sob forte comoção de familiares, amigos e vizinhos, as vítimas do incêndio que ocorreu no condomínio Parque das Árvores, em Valparaíso (GO), na terça-feira (27). O último adeus a Graciane Rosa de Oliveira, 35 anos, Luiz Evaldo, de 28, e ao bebê recém-nascido de apenas 19 dias, filho do casal, foi dado ao som de canções cristãs e orações.
Mais de 100 pessoas prestaram homenagens às vítimas no Cemitério Jardim Metropolitano, em Valparaíso. Os caixões do casal foram velados abertos, e apenas o do bebê recém-nascido ficou fechado. Coroas de flores foram deixados em volta dos corpos pelos presentes, inclusive por soldados do Exército Brasileiro que conduziram os corpos das vítimas até serem sepultadas.
Por estarem abalados e em choque com o acidente muitos presentes não aceitaram falar com o Jornal de Brasília. A avó do Luiz Evaldo chegou a passar mal, e foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). “Não tem sido fácil. Foram dias de carinho por parte de todos. Apareceu muita gente solidária, tanto financeira quanto com apoio emocional. Deus tem dado forças. A gente quando perde um ente querido já é difícil, perder três é o dobro do sofrimento”, comentou o militar e irmão mais novo de Luiz, Elivelton Lima, 25 anos.
Elivelton lembra que o irmão era querido por onde passava, e que a chegada do filho do casal trouxe alegria para toda a família. “Eu não tenho palavras para descrever o quanto eu amava o meu irmão e o quanto ele me amava. Ele abria mão do próprio conforto para me deixar confortável. Nós tínhamos uma convivência incrível, sempre fomos unidos e amigos. O Léo [bebê vítima do incêndio], com apenas 19 dias de vida, veio para trazer uma alegria incrível para todos. Mesmo com pouco tempo de vida ele transformou os nossos corações. Ele já sorria e brincava”, disse.
Outras vítimas
Além do casal e do bebê, o acidente deixou mais 15 pessoas feridas, incluindo a mãe de Graciane, Maria das Graças, e um prestador de serviço chamado Renan Lima Vieira, que estava no apartamento das vítimas no momento do incêndio, para a impermeabilização de um sofá. A mãe de Graciane está internada no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) com 30% do corpo queimado, sem previsão de alta, mas não corre risco de vida. Já Renan recebeu alta e passa bem.
Seis famílias foram encaminhadas para um hotel, com os custos assumidos pelo condomínio. No total, 88 unidades residenciais foram afetadas; 64 já foram liberadas para os moradores, e outras 24, do 6º ao 11º andar, estão interditadas. Presente no velório, o síndico do prédio onde ocorreu o incêndio, Anderson Oliveira, disse que para auxiliar na vistoria o condomínio adquiriu uma máquina que fará a inspeção da junta de dilatação do bloco.
Investigação
A família de Luiz contratou um advogado para acompanhar o caso, que está em investigação na 1° DP do Valparaíso e com a Polícia Técnico Científica de Goiás. A reportagem, o Dr. Paulo Henrique Santos, disse que os familiares não condenam ninguém, mas acompanham as investigações. “A família encontra-se totalmente abalada, mas não condena ninguém. A família entende que foi uma fatalidade. Preliminarmente pode ter sido um produto de impermeabilização do sofá ou problema elétrico porque havia um rapaz também fazendo manutenção da eletricidade próxima ao prédio. Mas também não descartamos a possibilidade de um vazamento de gás”.
Para o advogado, no momento, não é possível descartar nenhuma das hipóteses. Segundo Santos, o prestador de serviço de impermeabilização do sofá trabalhava avulso e não pertencia a nenhuma empresa. O homem seria conhecido do casal e em declaração preliminar, por ligação, ao Corpo de Bombeiros Militar do Goiás (CBMGO) disse que o produto era à base de água, o que poderia descartar uma explosão direta. “Pode ter sido um misto de problema, elétrico, impermeabilização e gás. Estamos acompanhando o caso até para servir de alerta aos outros. A população que mora em prédios precisa realmente de um treinamento contra incêndios”.
A Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO) e a Polícia Técnico Científica ainda investigam as causas do incêndio e aguardam conclusão dos laudos periciais para concluir o caso. Por conta dos vestígios que foram encontrados no apartamento, as investigações confirmam que houve uma explosão. Os investigadores não descartam nenhuma das hipóteses apresentadas até o momento, inclusive a de ter sido causada por conta de uma impermeabilização do sofá.
A hipótese de que o casal teria se jogado do prédio para fugir do incêndio está sendo descartada pela polícia. De acordo com o delegado da 1ª DP do Valparaíso, Bruno Van Kuyk, pelo ponto que eles caíram já pode ser concluído que foi acidental. O síndico do condomínio, Anderson Oliveira, enfatizou também que as câmeras de segurança do prédio mostram que o bebê escorregou do colo de Graciane quando eles estavam tentando respirar do ar limpo da varanda. “O bebê escapou da mão da mãe, que tentou resgatar o filho. O pai tentou em seguida buscar a mulher e os três foram projetados para fora do apartamento”, disse.