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Toques Percussivos: projeto traz oficinas de ritmos para comunidades vulneráveis no DF

O evento visa o combate a preconceitos de gênero, étnico-racial e religioso. O primeiro encontro foi com a turma de Ceilândia

Redação Jornal de Brasília

12/10/2022 16h42

Por Beatriz Lacerda
Agência de Notícias do CEUB/Jornal de Brasília

Um projeto chamado “Toques Percussivos – Danças, Movimento e o Agbê” promove oficinas de ritmos, danças e confecção de Agbê, um instrumento de percussão que carrega a história dos povos tradicionais africanos e é protagonizado majoritariamente por mulheres.

O evento visa o combate a preconceitos de gênero, étnico-racial e religioso. O primeiro encontro foi com a turma de Ceilândia, no Cio das Artes, na última terça-feira.

As oficinas são voltadas aos adolescentes e adultos oriundos de comunidades com maior vulnerabilidade social, população LGBTQIAP+, indígenas, pessoas pretas, mães solos, e PCDs do DF.

Os encontros estão programados para o mês de outubro e novembro, nas regiões de Ceilândia, Setor Comercial Sul e Planaltina.

Giovanna Paglia, de 29 anos, é a coordenadora do projeto e ministra todas as aulas. Após a aula de abertura em Ceilândia, ela sentiu que realmente estava fazendo algo essencial e muito importante para a comunidade mais vulnerável.

“Muita gente relatou que queria fazer as oficinas, mas não tinha grana para pagar as inscrições. Eu acho que ter feito esse movimento de oferecer gratuitamente pelo Fundo de Apoio à Cultura foi muito revolucionário para a galera, muito mais do que eu estava imaginando”.

Fora do projeto, as aulas pagas aconteciam no Parque das Garças, na Ermida Dom Bosco, Parque Olhos D’Água e no Eixão. Gratuitamente, eram disponibilizadas algumas aulas remotas e bolsas para a população mais carente, porém não era o suficiente para incluir pessoas que moram fora do plano piloto. “Ter feito esse movimento de ir até os locais faz toda a diferença. Ir na Ceilândia e ir ao Paranoá está sendo um grande diferencial, porque essa galera não consegue nem sair de lá para vir aqui no plano”, comenta Giovanna.

Ela conta que tudo isso é fruto do apoio das políticas públicas que incentivam a cultura “Acho importante ressaltar que só estamos fazendo esse projeto por conta de incentivos de governos de esquerda. No momento em que estamos, eu sempre ressalto isso dentro do meu espaço, nas aulas e no Instagram”.

Paglia conta que começou a fazer aulas de percussão no Comboio Percussivo, enquanto ainda estava na fase de TCC para concluir o curso de Engenharia de Produção. Na primeira aula instrumental, ela já teve contato com o Agbê. Mais tarde, quando ingressou no Filhas de Oya, grupo de maracatu só para mulheres, ela conheceu a amiga Nathália. As duas resolveram dar vida à Agbelas, em maio de 2019.

A amiga e parceira da Agbelas foi a grande responsável por introduzir Giovanna à religião umbandista na Fraternidade Universalista da Divina Luz Crística, onde ela começou a se aprofundar no Filhas de Oyá também pelo lado mais sagrado do instrumento [Agbê] e dos ritmos. Hoje em dia, nas aulas que Giovanna leciona, o foco é contar histórias sobre a cultura através dos ritmos. São contadas histórias como do ijexá, maracatu e samba, tudo por meio do toque do instrumento.

“Agbelas é uma iniciativa e uma comunidade, com foco educacional de pesquisa e troca, com aqueles que têm um interesse em comum: desbravar o mundo infinito do Agbê, desde a confecção, história de criação da cabaça, parte espiritual e sagrada que esse instrumento traz, até o tocar, com pesquisas de ritmos”, explica a umbandista.

Atualmente, Giovanna é a única à frente da iniciativa. Para o projeto, ela recebe apoio de uma produtora, equipe de comunicação e administração e músicos que irão dar suporte na apresentação final, em Ceilândia e no Paranoá, prevista para os dias 5 e 6 de novembro.

“O meu objetivo é fazer essas oficinas mundo afora, não só no Brasil. Eu quero muito levar as oficinas presenciais e continuar com o online, que me dá um maior sustento financeiro. Quero me mudar para Salvador e absorver um pouco mais sobre o axé daquela terra para complementar meu trabalho, que é um estudo sobre os ritmos afro-brasileiros. Tenho sentido a necessidade de expandir para depois voltar com mais bagagem e oferecer aqui o que eu experimentei fora”, compartilha a mentora.

O cortejo [apresentação final] com os alunos das turmas ainda não tem um local definido, mas nele será aplicado tudo o que foi trabalhado nas aulas junto a outros movimentos culturais que já existem. No caso do Paranoá, terá A Martinha do Coco, tocando coco, e a Batida do Contorno, tocando maracatu. “A ideia é que a turma junte com uma banda, que está sendo contratada como parte do projeto, e junto aos movimentos que já existem na cidade possam fazer uma apresentação final”, revela Giovanna.

As cantigas chamadas de pontos, direcionadas aos orixás e que não têm um compositor, são muito cantadas durante as aulas. O envolver da religião de matriz africana e afro-brasileira é muito bem trabalhado, tudo para permitir a “união do sagrado e do profano”, trazendo as energias dos orixás, dos guias, da umbanda, mas também do lado mais moderno com o funk, ritmos afro-latinos, árabes, marchinha, samba, reggae e pagode baiano. O Agbê carrega uma resistência muito forte que deve ser reconhecida.

Giovanna trabalha muito como social media no Instagram, compartilhando todo o trabalho de pesquisa e aulas na plataforma. Após a divulgação do projeto, mais de noventa inscrições foram realizadas, contudo, o limite de alunos por turma em cada região era de quinze pessoas. A mentora acabou permitindo mais cinco vagas em cada turma, hoje são vinte alunos em cada região.

Para o cortejo em novembro, ela tem pretensão de divulgar o local exato em cerca de duas semanas, após planejar a divulgação junto aos parceiros e grupos umbandistas. A pretensão é fotografar a apresentação e atingir visibilidade da mídia. Com o orçamento limitado, Giovanna não pode garantir a presença de jornalistas para fazer a cobertura do evento final, mas é um desejo que todos os colaboradores têm após o encerramento das oficinas.

O projeto vai circular por Ceilândia, Paranoá e Setor Comercial Sul, confira abaixo a agenda:

Cio das Artes – Ceilândia

Quinta-feira das 19h às 21h

Sábado das 14h às 16h

Início: 06 de outubro

Escola Carnavalesca/No Setor – Setor Comercial Sul

Terça-feira das 19h às 21h

Sábado das 10h às 12h

Início: 04 de outubro

CAP – Escola Classe Comunidade de Aprendizagem do Paranoá

Quarta e sexta-feira das 16h às 18h

Início: 05 de outubro

Batida do Contorno – Ateliê Adaró Instrumentos

Quartas e sextas-feiras das 19h às 21h

Início: 19 de outubro

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