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Brasília

Tiro em tanques e descarrilamento, famílias em risco no Setor de Inflamáveis

Em relatórios de reuniões em agosto de 2024 e fevereiro de 2025, autoridades apontaram riscos para moradores da região

Suzano Almeida

03/06/2025 5h00

(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Reuniões pré-retirada de famílias do Setor de Inflamáveis (SIN), no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA), apontaram que autoridades do Governo do Distrito Federal (GDF) alertaram para disparos de arma de fogo contra tanques de combustíveis na região e descarrilamento de trens. A situação foi um dos motivos para que o governo local realizasse as operações no último mês para a retirada de 44 famílias que viviam em situação precária.

Cerca de 800 famílias, há mais de uma década, convivem constantemente em risco devido à proximidade empresas de armazenamento de combustíveis e a linha férrea que passa ao lado das construções precárias, de lona, madeirite e alvenaria.

O alerta sobre a ocorrência de disparos contra tanques de combustíveis foi dado durante uma reunião da Coordenação de Ordem Pública Gerência de Proteção à Ordem Fundiária, Ambiental e Urbana, em fevereiro deste ano, por um representante da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). “Outro ponto relevante é a vulnerabilidade dos tanques de gás, que frequentemente são alvos de disparos de arma de fogo, representado um risco ainda maior para a área”, afirmou em trecho do documento. Esse fator, somado à alta densidade populacional no local, onde a proximidade entre as residências pode ter consequências muito graves em caso de incêndio, transforma a região em uma verdadeira bomba-relógio, completa.

A proibição de regularização das moradias pelo atual Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) agrava a situação. Representantes da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) foram categóricas, à época: é inviável a permanência das pessoas no local.

Risco

Em agosto de 2024, moradores solicitaram uma reunião para avaliação de risco, mas a própria existência do perigo impediu o encontro. As autoridades já haviam verificado a possibilidade de famílias morando sobre dutos de combustíveis e a existência de 44 famílias próximas à linha férrea. A Defesa Civil explicou que o simples fato de ser uma área de inflamáveis com casas próximas à área de servidão e na linha de domínio da linha do trem já configura um risco iminente.

A principal atividade econômica de parte dos moradores do SIN é a recolhimento de material reciclável. Nos casos em que os produtos são descartados, alguns dos trabalhadores colocam fogo nos materiais, que acabam gerando ainda mais risco às empresas e a eles mesmos.

Brigadistas de empresas próximas constantemente, segundo os relatórios, atuam para apagar os focos, mas a prática se repete, e os residentes afirmaram que continuarão com a atividade.

Além disso, há a retirada do aterramento do talude da linha férrea por esses mesmos moradores, o que aumenta o risco de acidentes, como o descarrilamento de trens, especialmente considerando os produtos transportados, conforme alertado pelo Corpo de Bombeiros, na mesma reunião de fevereiro de 2025.

Falta de visibilidade

Motoristas de caminhões-tanque também reclamam da falta de visibilidade na região, o que levou à construção da chamada Rota de Fuga. No entanto, o intenso fluxo de carros na rota dificulta o acesso dos caminhões, adicionando mais um elemento de risco à operação.

Desafios na realocação

Apesar dos esforços para realocar as famílias, a adesão tem sido baixa. Até outubro do ano passado, apenas oito das 44 famílias listadas pela Codhab compareceram para efetivar o cadastro completo. A maioria não entregou toda a documentação ou não se dirigiu ao órgão. As opções de realocação para áreas como Jóquei Clube, Guará, proximidades de Águas Claras e Cana do Reino são vistas como “projetos futuros” pela Codhab, sem previsão imediata de ocupação.

Desde junho de 2017, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) tem intimado o governo a coibir o crescimento da invasão no Setor de Inflamáveis. No entanto, a situação se arrasta.

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